Melanie Ramos tinha 15 anos quando tomou uma pílula que a matou |
As mortes de adolescentes por overdose nunca foram tão altas nos EUA. Os jovens americanos são cada vez mais afetados pelo fentanil, um medicamento da classe dos opioides.
Mais de 100 mil americanos
morreram de overdose no ano passado — a grande maioria deles adultos. Mas o
grupo que apresentou um maior crescimento na taxa de óbitos por esse motivo foi
justamente o de adolescentes.
A família de Melanie Ramos
sabe muito bem disso. A menina de 15 anos morreu dentro do banheiro de sua
escola no mês passado, depois de tomar um comprimido que continha fentanil.
Ramos e uma amiga pensaram
que estavam ingerindo oxicodona e paracetamol. Mas as pílulas falsificadas
foram misturadas com fentanil — e ela acabou intoxicada.
"Ela era uma menina
linda e doce, com pais trabalhadores", relatou Oscar, tio dela, durante
uma vigília à luz de velas nos degraus da escola Bernstein High School, onde
amigos e familiares rezaram em espanhol e colocaram flores em um santuário
criado para Ramos.
O fentanil normalmente é
contrabandeado para os Estados Unidos por cartéis de drogas mexicanos.
Embora costumasse ser
misturado com drogas mais pesadas, como a heroína, os cartéis agora produzem em
massa pílulas de fentanil nas cores do arco-íris para imitar comprimidos comuns
e, de acordo com especialistas, para atingir crianças que ficam mais dispostas
a experimentá-las.
Em Los Angeles, uma série de
mortes por overdose tem preocupado as autoridades. Na quarta-feira (12/10), o
Estado da Califórnia apreendeu 24 quilos de pó de fentanil — o suficiente para
fazer 250 mil pílulas — como parte de uma operação liderada pelo Departamento
de Justiça.
Mas o problema se estende
pelos EUA. Em Nova York, na semana passada, as autoridades apreenderam 15 mil
pílulas coloridas escondidas em uma caixa de brinquedos Lego.
Os Estados Unidos são uma
exceção quando se trata de overdoses, com uma taxa de mortalidade 20 vezes
maior do que a média global.
"Infelizmente, somos de
longe os líderes mundiais em mortes por overdose", lamenta Joseph
Friedman, pesquisador da Universidade da Califórnia em Los Angeles.
A taxa de overdose entre
crianças e adolescentes americanos em idade escolar dobrou entre 2019 e 2020 —
e aumentou mais 20% no ano passado, calcula o acadêmico.
"O uso de drogas por
adolescentes está se tornando mais perigoso, mas não mais comum",
diferencia Friedman.
Ele explica que o culpado é
o fentanil, e não o estresse da pandemia de covid-19: o uso de drogas por
adolescentes caiu drasticamente durante a crise sanitária, porque elas
geralmente são consumidas em eventos sociais (que foram drasticamente reduzidos
em 2020 e 2021).
Em uma reunião na Bernstein
High School, onde Ramos morreu, autoridades e policiais alertaram famílias e
crianças sobre "a pílula que pode matar".
O aumento de mortes entre os
mais jovens levou o poder público de Los Angeles a estocar em todas as escolas
doses de Narcan, um medicamento para a reversão da overdose.
Esse fármaco, que geralmente
vem na forma de um spray nasal, pode ser usado por qualquer pessoa para
reverter os efeitos colaterais.
Aumentar o acesso ao Narcan
também faz parte de uma resposta federal à crise dos opioides anunciada este
mês pelo governo de Joe Biden.
O presidente americano disse
que investirá US$ 1,5 bilhão para financiar programas e apoiar a aplicação da
lei no combate ao tráfico de drogas.
Especialistas entendem que
os adolescentes experimentarão drogas, não importa o que seja dito ou ensinado
nas escolas. Assim, a prevenção da overdose é a única maneira de retardar o
crescimento das mortes pelo abuso dessas substâncias.
Trabalhadores do Projeto de
Saúde Comunitária de Los Angeles fornecem tiras de teste gratuitas de Narcan e
fentanil — para que as pessoas possam medir o nível de drogas que têm no
organismo antes tomar novas doses.
Esses profissionais avaliam
como positivo o fato de as escolas agora manterem o Narcan por perto. Eles
também pedem que pais e filhos carreguem esse fármaco nas mochilas.
Em um treinamento recente
realizado nas escolas, a conselheira sobre álcool e drogas Sandra Mims
demonstrou como usar o spray — uma borrifada no nariz, seguida de uma massagem
no esterno, no meio do peito.
Se a pessoa que está em
overdose não responder em dois ou três minutos, deve-se aplicar uma nova dose
do spray.
"Muitas vezes, as
crianças começam experimentar drogas a partir dos 12 anos", diz Mims.
"E esse hábito é muito
mais mortal agora com o fentanil e as pílulas sintéticas."
Nick Angelo, que usou
opioides no passado, trabalha agora para uma organização sem fins lucrativos.
Ele conta que salvou três pessoas com o Narcan em uma única semana.
Mas o tom que ele usou ao
comentar sobre esses episódios transparecia mais cansaço do que heroísmo.
"Quando eu e meus
amigos tomávamos opioides, não precisávamos nos preocupar com o risco de que
cada comprimido poderia ser o último", diz.
BBC News, Regan Morris
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