Apontado como mandante do
assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips,
Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, foi solto nesta sexta-feira após pagar
fiança de R$ 15 mil. Na decisão, mesmo apontando a gravidade das acusações, o
juiz Fabiano Verli afirma que, “no caso concreto”, a acusação de crime de
associação criminosa armada resultaria, no máximo, em uma pena de dois anos, o
que sequer resultaria na prisão do acusado.
“No caso concreto, as acusações contra o preso são muito
sérias, mas, por outro lado, pelo crime de associação criminosa armada, nada
leva a pena muito maior do que 2 anos, se tanto. Ele sairia livre de reclusão
efetiva. É o Brasil”, diz o magistrado na decisão à qual O GLOBO teve acesso.
Colômbia estava preso desde o dia 8 de julho, por portar
documentos falsos. Ele também é suspeito de chefiar uma quadrilha de pesca
ilegal na reserva indígena Vale do Javari, no Amazonas.
Na decisão, o magistrado ainda cita que uma série de
decisões políticas tem dificultado as ações contra crimes e outras atividades
ilegais na região. Verli aponta, também, que Colômbia seria “uma parte diminuta
do problema regional”.
“Por outro lado, sejamos sinceros: após o desmonte das
atividades fiscalizadoras e do estímulo expresso de políticos ao cometimento de
crimes ambientais, no Brasil, sabemos que o que pode realmente dissuadir
pessoas da prática de novos crimes ambientais e contra populações indígenas é a
ação do dia a dia da PF, do Ibama, da Funai, do ICMBio, das secretarias
estaduais e municipais de meio ambiente a outros órgãos, autarquias e fundações
ambientais envolvidos na solução do problema, que é gravíssimo (e não exagero
quando falo isso)”, frisou Verli em outro trecho do documento.
Colômbia foi posto em liberdade provisória, sendo
monitorado por meio de tornozeleira eletrônica. Ele deve permanecer em Manaus,
devido à precariedade do serviço de internet no interior do estado do Amazonas,
estando proibido de deixar o país, tendo entregado o passaporte para a Polícia
Federal.
Entenda o caso
Bruno e Dom foram assassinados a tiros quando voltavam de
uma viagem pelo rio Itacoaí, no dia 5 de junho, após uma emboscada. Colômbia
estava preso por conta de outro mandado de prisão, este por associação armada
ligada a crimes ambientais, onde se investiga a sua relação com o crime brutal
e a liderança de uma organização criminosa que usa a pesca ilegal na região
para lavar dinheiro do narcotráfico na tríplice fronteira do Brasil com a
Colômbia e o Peru.
O desaparecimento foi revelado pelo GLOBO e confirmado
pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), região com a maior
concentração de povos indígenas isolados do mundo, no dia 6 de junho. O
indigenista Bruno Araújo, que acompanhava o jornalista britânico, era alvo
constante de ameaças pelo trabalho que vinha fazendo junto aos indígenas contra
invasores na região, pescadores, garimpeiros e madeireiros.
A PF também investiga se um esquema de lavagem de
dinheiro para o narcotráfico por meio da venda de peixes e animais pode estar
relacionado ao desaparecimento da dupla.
O GLOBO apurou que apreensões de peixes que seriam usados
no esquema foram feitas recentemente por Bruno Pereira, que acompanhava
indígenas da Equipe de Vigilância da União dos Povos Indígenas do Javari
(Unijava). As embarcações levavam toneladas de pirarucus, peixe mais valioso no
mercado local e exportado para vários países, e de tracajás, espécie de
tartaruga considerada uma especiaria e oferecida em restaurante sofisticados
dentro e fora do país.
A ação de Pereira contrariou o interesse do
narcotraficante conhecido como "Colômbia", que tem dupla
nacionalidade brasileira e peruana. Ele usa a venda dos animais para lavar o
dinheiro da droga produzida no Peru e na Colômbia, que fazem fronteira com a
região do Vale do Javari, vendida a facções criminosas no Brasil. Há suspeita
de que ele teria ordenado a Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, a colocar
a “cabeça de Bruno a leilão”.
Daniel Biasetto e Luciano Ferre, O Globo
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