Obra de arte total no espírito wagneriano: "Crepúsculo dos Deuses" em Bayreuth, 2022 - Foto: Enrico Nawrath |
Como um gênero teatral-musical inaugurado há 400 anos pode ainda ter relevância? A ópera nasceu nas cortes nobres, foi adotada pela burguesia e se reinventou através do tempo e espaço. Uma mostra em Bonn traz a prova.
A Alemanha é o
país com o maior número de casas de ópera em todo o mundo: 83. Entre as mais
ilustres está a Casa do Festival de Bayreuth, fundada por Richard Wagner
(1813-1883). Desde a temporada de 1876, apenas composições do genial artista
polivalente são lá executadas, no contexto de um evento anual que atrai hordas
de celebridades.
No entanto esse
gênero teatral-musical, em si, é uma invenção italiana: na corte dos Médici, em
Florença, por volta do ano 1600, foram apresentadas as primeiras óperas, para
entreter os ricos e poderosos da capital toscana e também expressar sua
magnificência.
Uma das
principais inovações musicais do gênero foi a adoção do recitativo, que
aproximava o canto dos ritmos e acentos da linguagem falada. Jacopo Peri e
Giulio Caccini foram os compositores das primeiras óperas, sobre texto das
peças teatrais em verso La Dafne e L'Euridice, de Ottavio Rinuccini. Em 1607
estreava em Mântua L'Orfeo, de Claudio Monteverdi, um marco da história da
ópera e a mais antiga em repertório até hoje.
A nova forma de
arte logo encontrou ressonância junto ao público. Para a nobreza europeia, ela
se prestava com perfeição para ostentar sua riqueza, poder e superioridade, em
espetáculos que chegavam a durar cinco horas. Nos séculos 17 e 18, os melhores compositores,
cantores e cenógrafos afluíram para a corte vienense. O imperador Carlos 6º
(1685-1740), da dinastia dos Habsburgos, chegou a assumir a função de maestro.
A partir da
década de 1630, as abastadas famílias patrícias de Veneza fundaram as primeiras
casas de ópera. Sua meta era menos ostentação e luxo do que fazer dinheiro;
assim, para maximizar os lucros, as récitas foram abreviadas e o coro e a
orquestra, reduzidos.
Entre os maiores
custos estavam os cachês de astros como o castrato Farinelli e os espetaculares
cenários, resultando em grandes shows que atraíam multidões: os espertos
patrícios venezianos haviam encontrado uma fonte de enriquecimento.
Mais
uma morte anunciada da ópera
"A intenção
era empolgar e maravilhar os espectadores", confirma a historiadora de
arte Katharina Chrubasik. Juntamente com o dramaturgo Alexander
Meier-Dörzenbach, ela é curadora da exposição Die Oper ist tot – Es lebe die
Oper (A ópera está morta – Viva a ópera), que pode ser visitada no salão
Bundeskunsthalle de Bonn até 5 de fevereiro de 2023.
Até 2019, 3,8
milhões frequentavam anualmente a ópera na Alemanha, um número que se mantivera
estável por muitos anos. Mas aí eclodiu a pandemia de covid-19, e as casas
fecharam as portas. Um golpe de morte para o teatro musical erudito?
"A ópera
teve sua morte anunciada repetidas vezes e, mesmo assim, reinventou-se sempre,
redefiniu-se após todas as crises, fossem guerras ou reviravoltas
sociais", tranquiliza Chrubasik.
Na opinião da
diretora geral do Bundeskunsthalle, Eva Kraus, a ópera apela a todos os
sentidos como nenhum outro gênero, amalgamando música, canto, poesia, artes
plásticas, teatro e dança numa espetacular obra de arte total. Para ela,
trata-se de "uma das formas artísiticas mais inebriantes que
existem".
O curador
Alexander Meier-Dörzenbach resume as qualidades operísticas numa fórmula
dramática: "A intenção da ópera é sacudir a alma humana." Embora tudo
o que o público vê seja uma ilusão, ela o afeta, e "esse efeito é real e
verdadeiro".
O compositor e regente
Gustav Mahler também visava esse efeito inigualável sobre o público, ao assumir
a partir de 1897 a direção da recém-fundada Ópera da Corte de Viena. Além de
reger cantores, coro e orquestra, ele assumiu a direção de cena e introduziu
uma inovação que se mantém até hoje: passou-se a apagar as luzes da plateia e
fechar as portas da sala após o início da récita. Todos deviam se concentrar
inteiramente nos eventos no palco, encenados e compostos até o último detalhe.
Do
Scala de Milão ao Metropolitan de Nova York
No decorrer de
sua história, a ópera oscilou entre diversas concepções e ambições, explorada
como símbolo de status, erguida como empresa econômica e cultuada como reduto
da arte de alto nível.
No século 19, o
Teatro Scala de Milão era o endereço nobre entre as casas de ópera. Seu
diretor, Domenico Barbaja, ex-garçom e jogador de cartas, integrou um cassino à
instituição e tinha uma boa relação com os compositores Gioachino Rossini
(1792-1868), Vincenzo Bellini (1801-1835) e Gaetano Donizetti (1797-1848),
encomendando-lhes diversas obras.
A editora
milanesa Ricordi detinha os direitos de execução e cuidava da distribuição mundial.
Mais adiante, a casa será local de estreia de alguns dos maiores evergreens do
repertório, promovendo compositores do calibre de Giuseppe Verdi (1813-1901) e
Giacomo Puccini (1858-1924). Sob a batuta de Arturo Toscanini, a partir de 1898
o Scala atingirá um nível musical sem precedentes.
Enquanto isso,
na América, no fim do século 19, 22 novos-ricos de Nova York – entre os quais
as famílias Rockefeller, Vanderbilt e Roosevelt, esnobadas pela aristocracia
estabelecida local – fundaram sua própria Metropolitan Opera ("Met",
para os íntimos), que de início apresentava todas as obras em italiano,
independente da língua original. O mais tardar 40 anos depois, ela estava em pé
de igualdade com a Staatsoper de Viena e o Scala de Milão.
Ópera
ainda viva e excitante, 400 anos depois
Até – ou
principalmente – hoje em dia, o teatro musical erudito sofre uma reputação de
esnobismo. "É claro que a ópera sempre foi muito elitista: afinal ela é
uma forma da corte, se desenvolveu nessa época", reconhece Katharina
Chrubasik. "Mas no século 19 ela é também um gênero artístico da burguesia,
a qual criou novos, fantásticos locais de apresentação, e assumiu o papel que
antes tinha a nobreza."
Acima de tudo,
está mais do que na hora de essa reputação mudar. A curadora espera que a
mostra em Bonn contribua para tal e deixe os visitantes com vontade de
frequentarem o teatro. Em princípio, a ópera é como o cinema, afirma, um lugar
onde se contam histórias, de batanhas com dragões, de heróis e traidores, de
intrigas e conspirações, de amor realizado e inatingível, de paixão e abismos
humanos, de vida e da inevitável morte.
"A ópera é
surreal, faz confluir coisas que não existem. Os filmes são, por assim dizer,
uma continuação dela", e talvez o elitismo só esteja nas nossas cabeças.
Por isso, todos devem dar uma chance a essa forma de arte: "A ópera é
capaz de nos entusiasmar, desencadear sentimentos como nenhum outro
gênero" – e assim estaria respondida a pergunta sobre se a ópera ainda tem
lugar nos tempos atuais, frisa Katharina Chrubasik.
DW, Kristina Reymann-Schneider, Augusto Valente
- - - - - - -
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais sobre o livro, clique aqui |
Para saber mais sobre o livro, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui.
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui.
Clique aqui para acessar os livros em inglês. |
-----------
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Coleção Greco-romana com 4 livros; saiba aqui. |
Coleção Educação e Democracia com 4 livros, saiba aqui. |
Coleção Educação e História com 4 livros, saiba mais. |
Para saber sobre a Coleção do Ratinho Lélis, clique aqui. |
Para saber sobre a "Coleção Cidadania para crianças", clique aqui. |
Para saber sobre esta Coleção, clique aqui. |
Clique aqui para saber mais. |
Click here to learn more. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |