Prisioneros da etnia herero acorrentados em 1904. |
Não vai ser fácil curar as feridas profundas e antigas deixadas pela Alemanha na Namíbia, após o que agora é reconhecido como um genocídio perpetrado por forças coloniais.
Na
sexta-feira (28), após mais de 100 anos, Berlim reconheceu oficialmente as
atrocidades que cometeu durante a ocupação colonial da Namíbia e ofereceu ao
país africano uma quantia em dinheiro como compensação.
Mas
como se compensa a destruição de uma sociedade inteira? Que preço colocar?
A
Alemanha concordou em pagar mais de 1 bilhão de dólares.
"À
luz da responsabilidade histórica e moral da Alemanha, pediremos desculpas à
Namíbia e aos descendentes das vítimas", disse o ministro das Relações
Exteriores, Heiko Maas, na sexta-feira.
O
governante alemão acrescentou que seu país, em um "gesto de reconhecimento
do imenso sofrimento infligido às vítimas", apoiará o desenvolvimento da
nação africana através de um programa que vai custar mais de 1,3 bilhões de
dólares.
A
quantia será paga em 30 anos e investida em infraestrutura, assistência médica
e programas de treinamento que beneficiam comunidades afetadas.
Mas
alguns líderes namibianos até agora se recusaram a apoiar o acordo, informou o
jornal local New Era.
Na
Namíbia, descendentes de vítimas e colonos debateram ferozmente sobre o valor
financeiro associado ao genocídio.
A colônia alemã no
sudoeste africano
"Ao
longo de toda essa praia havia um campo de concentração", diz Laidlaw
Peringanda, ativista e chefe da Associação sobre o Genocídio da Namíbia.
"O arame farpado passava onde hoje está o estacionamento."
O
artista e ativista aponta para uma fileira de cafés ao ar livre e um parquinho
infantil à beira-mar em Swakopmund, o principal resort costeiro da Namíbia,
onde as águas frias do Atlântico batem às margens do deserto do Namibe.
"Minha
bisavó contou que alguns membros de nossa família foram trazidos para cá, foram
forçados a trabalhar, e morreram."
Ele
se refere aos anos 1904-1908, quando a atual Namíbia era uma colônia alemã no
sudoeste da África.
Dezenas
de milhares de pessoas foram mortas quando as forças coloniais reprimiram
brutalmente levantes organizados por dois dos principais povos do país, os
herero e os nama, matando a maioria deles e levando os demais para o deserto de
Omaheke, no leste do país, onde muitos morreram de fome.
Os
sobreviventes acabaram em campos onde foram usados como mão-de-obra escravizada.
Estima-se
que cerca de 65.000 dos 80.000 hereros que viviam no sudoeste da África sob o
domínio alemão no início do período colonial tenham morrido, bem como em torno
de 10.000 de uma população estimada de 20.000 nama.
Se
não morriam de fome, morriam de exaustão, sede ou tiros. O estupro de mulheres
foi sistemático.
Centenas
de crânios de vítimas foram enviadas à Alemanha para estudos sobre diferenças
raciais que tentavam identificar uma superioridade dos brancos. Vinte desses
crânios foram devolvidos de um hospital em Berlim para a Namíbia em 2011.
As
atrocidades cometidas foram descritas por historiadores como o "genocídio
esquecido" do início do século XX.
Desde
2015, quando a Alemanha reconheceu formalmente que as atrocidades cometidas ali
poderiam ser classificadas como genocídio, o país vinha negociando um acordo de
justiça restaurativa com a Namíbia.
Nunca
antes uma ex-potência colonial se sentou com uma ex-colônia dessa maneira para
chegar a um acordo abrangente sobre o legado do passado.
A
Alemanha disse na época que apresentaria um pedido formal de desculpas.
"Qualquer herero,
com ou sem armas, será executado"
As
potências europeias selaram a divisão da África na conferência de Berlim, em
1884. A Alemanha, que tinha colônias no território atual de Camarões, Togo e
Tanzânia, também anexou a costa sudoeste do continente africano, hoje Namíbia.
Lá,
a Alemanha expulsou comunidades de suas terras, que foram entregues a colonos
alemães. A população nativa foi submetida a todos os tipos de abusos, incluindo
estupro e assassinato.
Em
1903, os guerreiros Herero e Nama se rebelaram, lançando ataques que mataram
dezenas de colonos.
A Alemanha respondeu
implacavelmente.
Em
1904, o imperador alemão, Kaiser Wilhelm II, despachou cerca de 14.000 soldados
para a Namíbia sob o comando de Lothar von Trotha, o general que reprimiu
brutalmente rebeliões nativas na China e na África Oriental.
Aqueles
que sobreviveram a batalhas como a de Waterberg foram mortos ou forçados a
entrar no deserto de Kalahari, onde soldados alemães envenenaram poços de água.
A
mensagem de Von Trotha aos hereros não deixa margem para dúvidas:
"Eu,
general dos soldados alemães, mando esta carta aos Herero. A nação Herero deve
deixar o país ... Se recusarem, eu os forçarei com tiros de canhão ... Qualquer
Herero, com ou sem armas, será executado."
"Von
Trotha disse a seus soldados que eles não perderiam sua honra atirando em
mulheres e crianças. Eles atiravam para assustá-los e forçá-los a fugir para o
deserto, onde enfrentariam morte certa de sede e fome", Reinhart Koessler,
professor do departamento de ciência política na Universidade de Freiburg e
acadêmico especializado em memória política, que estudou o passado colonial da
Alemanha na África Ocidental por duas décadas.
Para
Koessler, as palavras de Von Trotha "eram uma intenção clara de
extermínio, e é isso que constitui genocídio, a vontade de eliminar um grupo
étnico".
O
estupro de mulheres herero e nama foi tão comum que muitos descendentes agora
têm ascendência alemã.
"Sou
descendente direto dos Ovaherero. Meus avós paternos e maternos tinham sangue
alemão nas veias devido ao abuso sexual que os soldados alemães cometeram
contra meu povo", disse Ngondi Kamatuka, presidente em exercício da
Associação Ovaherero contra o Genocídio no Estados Unidos.
Dinheiro e terras
Por
muitos anos, uma das questões mais importantes para os namibianos era como um
acordo de compensação material poderia ser alcançado.
Laidlaw
Peringanda, como a maioria dos hereros, foi claro: um enorme arranjo financeiro
para ajudar a restaurar a prosperidade que ele acredita que seu povo desfrutava
então, como criadores de gado, antes do genocídio.
Posteriormente,
a maior parte das terras do país foi dividida em fazendas particulares e dadas
a colonos alemães.
E
hoje a maioria dos herero e nama vivem em áreas pequenas e superlotadas de
terras comunais que mais tarde lhes foram atribuídas, ou nas aldeias,
"assentamentos informais" ou favelas que abrigam 40% da população da
Namíbia.
Em
Swakopmund, há um enorme abismo social entre o belo centro da cidade da era
colonial, com seus edifícios pintados em tons pastel, lar de muitos netos e
bisnetos dos colonos originais, e as favelas construídas com tábuas e placas de
metal que se estendem por milhas ao norte do país.
"Eles
não têm banheiros, não têm água encanada, não há eletricidade", diz
Laidlaw.
"Algumas
das pessoas que lá vivem são descendentes das vítimas dos campos de
concentração. É realmente injusto o que está acontecendo".
A
esperança é que o dinheiro do governo alemão seja usado para financiar um
programa de reforma agrária que permitirá que as fazendas de agricultores
alemães da Namíbia sejam compradas e distribuídas entre os herero e nama.
Acredita-se
que os namibianos alemães sejam o maior grupo entre os fazendeiros brancos, que
possuem cerca de 70% das terras agrícolas do país, e algumas de suas
propriedades são vastas - uma só delas, por exemplo, cobre mais de mil
quilômetros quadrados.
O
principal negociador da Namíbia, Embaixador Zed Ngavirue, disse antes do
anúncio do acordo na sexta-feira que a Alemanha "reconheceu que precisa
fazer algo para nos ajudar a reconstruir nossa sociedade" e concordou em
fornecer dinheiro, como parte de um acordo mais amplo, para compra de terrenos
de donos que estejam dispostos a fazê-lo.
Mas
ele acrescenta: "Não quero me enganar achando que a Alemanha vai resolver
o problema da terra. Não estamos apenas falando sobre a perda de terras como
resultado da colonização alemã."
Depois
que a Alemanha perdeu sua colônia na Primeira Guerra Mundial, muitos outros
colonos chegaram, e o Sudoeste da África foi governado pela África do Sul por
70 anos.
Desde
a independência em 1990, tanto negros namibianos quanto estrangeiros compraram
terras no país.
Há
alguns meses, Laidlaw garantiu que a Alemanha deveria falar não só com o
governo da Namíbia, mas também diretamente com os líderes herero e nama, como o
chefe dos hereros, Vekuii Rukoro, que tentou processar Berlim por indenização
em tribunais dos Estados Unidos, mas até agora não teve sucesso.
O
temor é que parte dos benefícios de um acordo governamental possa para
comunidades que nunca sofreram com o genocídio, como os Ovambo, hoje o maior
grupo étnico da Namíbia.
Assessor
de Rukoro, Festus Mundjuua disse que o governo quer "colocar as mãos no
dinheiro porque tem seus próprios projetos para os quais não têm verbas".
O
governo nega e afirma que os recursos serão administrados pelas comunidades
afetadas.
Ceticismo
Mas
não são só os descendentes das vítimas que permanecem céticos em relação às
negociações.
O
mesmo aconteceu com alguns dos cerca de 30.000 homens e mulheres que falam
alemão e ficaram na Namíbia: os descendentes de colonos.
"O
mito do genocídio nada mais é do que chantagem moral", disse o historiador
Andreas Vogt.
Como
muitos teuto-namibianos, Vogt afirma que a infame "ordem de
extermínio" assinada pelo comandante das forças coloniais, General Lothar
von Trotha, em 1904, que afirmava que "qualquer herero encontrado dentro
da fronteira alemã, com ou sem arma, será executado ", não era política de
estado e nunca foi implementada.
Assessor
de Rukoro, Festus Mundjuua disse que o governo quer "colocar as mãos no
dinheiro porque tem seus próprios projetos para os quais não têm verbas".
O
governo nega e afirma que os recursos serão administrados pelas comunidades
afetadas.
Ceticismo
Mas
não são só os descendentes das vítimas que permanecem céticos em relação às
negociações.
O
mesmo aconteceu com alguns dos cerca de 30.000 homens e mulheres que falam
alemão e ficaram na Namíbia: os descendentes de colonos.
"O
mito do genocídio nada mais é do que chantagem moral", disse o historiador
Andreas Vogt.
Como
muitos teuto-namibianos, Vogt afirma que a infame "ordem de
extermínio" assinada pelo comandante das forças coloniais, General Lothar
von Trotha, em 1904, que afirmava que "qualquer herero encontrado dentro
da fronteira alemã, com ou sem arma, será executado ", não era política de
estado e nunca foi implementada.
O
acadêmico e ativista germano-namibiano Henning Melber, que estudou os
antecedentes das conversações, acredita que outras ex-potências coloniais da
Europa expressaram em particular preocupação à Alemanha de que o acordo com a
Namíbia gerará uma enxurrada de reivindicações contra vários colonos por parte
de nações africanas, do Sudeste Asiático e de outros lugares.
A
Tanzânia, sucessora de outra ex-colônia alemã, Tanganica, já está exigindo reparações
pelas atrocidades e, potencialmente, outras ex-colônias poderiam fazer o mesmo.
Por
Tim Whewell, BBC News
- - -
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui.
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui.
Clique aqui para acessar os livros em inglês. |
-----------
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Coleção Greco-romana com 4 livros; saiba aqui. |
Coleção Educação e Democracia com 4 livros, saiba aqui. |
Coleção Educação e História com 4 livros, saiba mais. |
Para saber sobre a Coleção do Ratinho Lélis, clique aqui. |
Para saber sobre a "Coleção Cidadania para crianças", clique aqui. |
Para saber sobre esta Coleção, clique aqui. |
Clique aqui para saber mais. |
Click here to learn more. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
- - - -
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui.
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui.
Clique aqui para acessar os livros em inglês. |
-----------
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Coleção Greco-romana com 4 livros; saiba aqui. |
Coleção Educação e Democracia com 4 livros, saiba aqui. |
Coleção Educação e História com 4 livros, saiba mais. |
Para saber sobre a Coleção do Ratinho Lélis, clique aqui. |
Para saber sobre a "Coleção Cidadania para crianças", clique aqui. |
Para saber sobre esta Coleção, clique aqui. |
Clique aqui para saber mais. |
Click here to learn more. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |