Protesto em frente à Casa Branca para pressionar o governo de Joe Biden para que o Senado aprove uma lei migratória para regularizar os sem documentos em Washington, 30 de abril de 2021 |
"Documentos sim, migalhas não", foi o lema repetido na sexta-feira (30) por duas centenas de migrantes vindos de todos os cantos dos Estados Unidos para um protesto em frente à Casa Branca, convocado por várias organizações de imigrantes em situação irregular, na qual condenaram as "promessas vazias" do presidente Joe Biden.
Os manifestantes pediram "ações" à nova
administração para impulsionar no Congresso uma reforma migratória que está
estagnada no Senado.
"Nada mudou", lamentou em declarações à AFP
William Martínez, um ativista da organização National TPS Alliance, que
representa migrantes que têm um estatuto de proteção temporária, uma precária
figura legal para países em guerra ou vítimas de catástrofes que os protege da
deportação e lhes permite trabalhar.
O governo de Donald Trump (2017-2021) tentou acabar
com este programa.
Gema Lowe, 49 anos, vem de um país latino-americano
que prefere não revelar por precaução. Ela dirigiu por 13 horas do estado de
Michigan, no norte do país, para protestar em frente à Casa Branca.
"Precisamos erguer nossas vozes. Estou cansada.
Estou há 30 anos neste país e não tenho nenhuma documentação. Agora me arrisco
a ser detida, mas assim posso dizer alto e claro que merecemos dignidade,
respeito e uma proteção permanente", afirmou.
Para Gema, os Estados Unidos aproveitam a mão de obra
dos imigrantes, mas lhes nega dignidade. "Já me cansei de sentir medo, não
tenho mais medo", disse, em frente à grade instalada no Parque La Fayette,
em frente à Casa Branca.
- "Não está usando seu capital político" -
Biden - que tenta marcar diferença em relação à dura
política migratória adotada por seu antecessor - apoia uma ampla reforma
impulsionada pelos democratas no Congresso para dar um caminho à cidadania para
os 11 milhões de imigrantes sem documentos que, estima-se, vivam no país.
A Câmara de Representantes aprovou em março duas leis
migratórias para os chamados "sonhadores", jovens que chegaram
ilegalmente aos Estados Unidos ainda menores, os beneficiários do Estatuto de
Proteção Temporária (TPS) e para trabalhadores agrícolas.
Mas estes projetos têm escassas possibilidades de
sobreviver ao Senado, onde republicanos e democratas têm 50 assentos cada, com
vantagem para o governo do voto de minerva da vice-presidente Kamala Harris. No
entanto, um projeto com menos de 60 votos favoráveis pode ser bloqueado por uma
maioria legislativa.
"Nós acreditamos que ele não está usando seu
capital político", avaliou Martínez, nascido há 29 anos em El Salvador e
que há 20 mora nos Estados Unidos com este precário estatuto de proteção.
Em seu primeiro discurso ao Congresso, na
quarta-feira, para marcar seus primeiros cem dias de governo, Biden pediu aos
congressistas para dar proteção este ano aos "sonhadores". Também
pediu para que se avance nas reformas para regularizar migrantes com TPS e a
trabalhadores agrícolas que "põem a comida na mesa".
"Deveríamos agir, discutamos, mas ajamos",
afirmou o presidente no plenário.
Mas muitos migrantes que participaram do protesto
vestiam camisetas com o lema "100 dias de promessas vazias".
Biden defendeu, em sua mensagem solene, "terminar
esta esgotadora guerra sobre a imigração".
"Os políticos falaram sobre reforma migratória e
não fizemos nada. Agora é hora de consertá-lo", afirmou o presidente, cuja
escassa maioria nas duas câmaras lhe obriga a ter o apoio de legisladores
republicanos para tramitar muitas iniciativas, enquanto sua ambiciosa agenda
econômica para superar a crise provocada pela pandemia consome muitos esforços.
- "Queremos que cumpra" -
Camila Quintera, de 55 anos, viajou por nove horas de
carro de Grand Rapids, no Michigan, a Washington para pedir a Biden que
"cumpra sua palavra".
"Queremos que ele cumpra (a palavra)
conosco", disse à AFP, admitindo que já teve esperanças frustradas com
outros presidentes, como o democrata Barack Obama, mas mesmo assim não perde a
fé.
Ivana Castillo, de 53 anos, fez greve de fome com
ativistas de todos os Estados Unidos para exigir que Biden cumpra suas
promessas de campanha.
"Não recebemos nada, o Congresso fez seu
trabalho. O Senado não fez nada, o presidente não fez nada, nem a
vice-presidente Kamala Harris", destacou.
Sobre o discurso de Biden, Castillo pensa que foi um
eufemismo e considera que o presidente devia ter falado sobre os imigrantes sem
documentos, que durante a pandemia demonstraram ser trabalhadores essenciais.
"Trabalharam muito intensamente, muitos deles
morreram e não foram reconhecidos. Estamos exigindo o sonho americano para
todos, essa residência permanente", concluiu.
Por
Ariela Navarro, da AFP
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