Prevista para estar disponível nas
27 capitais brasileiras até julho de 2022, a internet 5G é vista como uma
revolução tecnológica abrangente.
Imagine uma manhã movimentada em uma avenida de
trânsito rápido. Tentando entrar no fluxo, um motorista que está atrasado para
o trabalho fica impaciente e acelera. Na faixa rápida, uma motorista recebe uma
notificação pelo celular: um recado urgente da babá informa que seu filho está
com febre.
Desatenta momentaneamente pela notificação, ela desvia o olhar e não vê a ação
do motorista atrasado. Como estava um pouco acima do limite de velocidade da
via (80 quilômetros por hora), a colisão parece inevitável. Uma batida muito
comum no trânsito das grandes cidades, que gera prejuízos financeiros,
estresse, congestionamento e, eventualmente, vítimas.
Isso, se a colisão tivesse acontecido.
O carro da mulher distraída, no entanto, era semiautônomo. Graças à tecnologia
5G, ao receber dados de tráfego de diversos sensores espalhados pelas vias, o
veículo soube a hora exata de desacelerar. Com o uso de inteligência artificial
e aprendizado de máquina, o computador de bordo do veículo conseguiu antecipar
a tentativa frustrada de conversão do motorista atrasado e traçou possíveis
cenários para evitar a colisão.
Sinais sonoros vindos do painel digital avisaram que havia a necessidade de
desacelerar. Com a distração, o piloto automático assumiu momentaneamente o
controle. Em milésimos de segundo, cerca de 40 sistemas foram consultados e
enviaram as informações necessárias para o reposicionamento do veículo.
O computador de bordo tomou uma decisão: acendeu a seta e fez um leve desvio de
faixa, juntamente com a desaceleração exata para que o carro se encaixasse no
tráfego da faixa ao lado sem movimentos bruscos. O motorista atrasado sequer
tomou ciência do momento.
Apenas nesta interação de poucos segundos, cerca de 20 gigabytes de dados foram
trocados entre os sistemas. Fotos e sensores foram analisados, dados foram
computados e transmitidos para outros veículos também conectados e para
centrais de controle de tráfego urbano. A interação só foi possível graças ao
5G, à baixa latência na troca de informações (tempo de resposta entre o envio e
recebimento de dados) e ao alto fluxo de dados.
Revolução tecnológica
Prevista para estar disponível nas 27 capitais brasileiras até julho de 2022, a
internet 5G é vista, tanto pelo governo federal quanto por empresas de
tecnologia e de telecomunicações, como uma revolução tecnológica abrangente. A
implementação desta tecnologia no Brasil promete trazer diversas inovações que
vão se refletir em maior produtividade, avanços na economia e na qualidade de
serviços.
Em reta final de avaliação pelo Tribunal
de Contas da União (TCU),
o leilão das
radiofrequências que serão utilizadas pela nova geração de internet no Brasil é
um passo importante que está sendo tomado em paralelo a uma série de medidas e
adaptações que já vêm sendo articuladas tanto pelo Ministério das Comunicações quanto por
operadoras que viabilizarão a novidade.
A chegada da nova tecnologia suscita uma série de questões, muitas delas
técnicas e complexas. A Agência Brasil conversou com especialistas da área para
entender as novidades que o 5G vai trazer para a forma como a sociedade navega,
produz e consome conteúdo.
Leilão de frequências
Importante para a implementação do 5G no Brasil, o leilão das frequências de operação da nova geração de
internet móvel é a porta de chegada dessa tecnologia. Discutido em diversas
audiências públicas ao longo de 60 dias em 2020, o leilão é considerado não arrecadatório, já que todas as
verbas levantadas serão investidas em infraestrutura de comunicação e
aprimoramento da conectividade em áreas ainda carentes.
Segundo o secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, uma das
exigências para o leilão é
que haja investimentos não apenas para as redes mais avançadas de 5G, mas
também para habilitar amplamente o 4G em pequenos municípios.
'Esta é a primeira vez que a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] fará
um leilão que não é
arrecadatório, e sim voltado para investimentos. Todo valor acima do preço
mínimo será revertido para as 2,3 mil localidades que ainda não possuem 4G
habilitado, para as rodoviárias federais e povoados rurais', afirmou o
secretário, que é um dos responsáveis pela elaboração dos termos do pregão.
No leilão do 5G, quatro
faixas de frequência serão ofertadas. Destas, duas serão inicialmente híbridas
e servirão para distribuir o sinal 4G e o 5G em variações do espectro. Veja
abaixo:
Faixa Uso
700 MHz Inicialmente será usada para ampliação do sinal 4G. Eventualmente será a
faixa utilizada por sensores inteligentes e carros conectados
2,3 GHz Alta capacidade para áreas densamente povoadas, também será usada para
o 4G e será a frequência padrão de operação para dispositivos em geral
3,5 GHz Capaz de transmitir dados em altíssima velocidade, pode ser usada em
paralelo com outras bandas e deve ser a faixa mais concorrida do leilão. É considerada parte do chamado
5G standalone
26 GHz Faixa onde deve acontecer a transmissão de dados da economia em larga
escala, como automação industrial e agrobusiness; capaz de grande velocidade e
também é considerada parte do 5G standalone
5G - qual a diferença entre as gerações?
Apesar do ganho óbvio no quesito velocidade, a transição para o 5G não será
percebida apenas pelas taxas de download ou upload de conteúdo, explica o
presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais.
'O 5G vai remodelar a sociedade e os meios produtivos. Para muito além do que
aconteceu quando saímos do 3G, teremos internet das coisas [IoT, da sigla em
inglês], carros autônomos, cirurgias remotas. O 5G alavanca e possibilita
várias outras tecnologias, como inteligência artificial, realidade aumentada -
tornando cada vez os meios produtivos mais competitivos', explicou.
Mas qual a diferença entre as gerações da internet móvel? Veja no infográfico:
Baixa latência, alta velocidade
Morais explica que as novas possibilidades de interação podem transformar a
educação, os serviços e a indústria brasileira, além de capacitar novos
mercados de trabalho.
Como exemplos, cursos remotos de ensino poderão se beneficiar de aulas em
realidade aumentada - experiência de interação em que objetos reais são
aprimorados por meios digitais - para mostrar casos práticos da construção de
uma estrutura arquitetônica, ou para o treino de um piloto de avião, por
exemplo. Galerias de arte, máquinas complexas ou até mesmo o corpo humano podem
ser explorados via realidade aumentada em sessões de aprendizado com centenas
de outras pessoas compartilhando a experiência.
'A realidade virtual e a realidade aumentada ganham outra dimensão. Você pode
ter o professor virtualmente onde estiver. É possível usar sensores táteis para
manusear um órgão humano, no caso de um estudante de medicina. Um técnico de
tomógrafo, por exemplo, poderia dar assistência na manutenção de uma máquina.
São vários exemplos que mostram que a tecnologia 5G é disruptiva', explicou.
Todos os cenários citados pelo presidente da Anatel só são possíveis graças às
características inerentes à tecnologia do 5G, em especial a velocidade de
transmissão e recepção de dados, chamada latência. Ela é a soma do tempo de
envio de uma informação até a resposta do servidor ao qual a conexão está sendo
feita. Em seguida, o envio da resposta do servidor ao cliente com as novas
informações, e assim repetidamente.
Conflito de faixas de operação
Segundo o secretário de Telecomunicações, Artur Coimbra, cerca de 21 milhões de
brasileiros utilizam antenas parabólicas para receber sinais de telecomunicação
em casa - serviço que usa a mesma frequência de 3,5 GHz que será ofertada para
exploração comercial no leilão do
5G.
'Há uma exigência descrita no edital que é específica para essa frequência [3,5
GHz]. A gente sabe que a TV por satélite no Brasil é muito popular e foi
necessário pensar em soluções para isso - o que não sai barato. Felizmente, a
parte técnica foi desenhada e está muito robusta', disse Coimbra.
A empresa responsável por arrematar a frequência terá, entre outras
responsabilidades, que operacionalizar a instalação de filtros de sinal e, em
determinados casos, a troca da antena e do equipamento de recepção da banda
atual para a chamada banda Ku. A mudança será feita por meio de um kit especial
que será custeado pela operadora da frequência.
Faixa exclusiva
A arrematadora da faixa de 3,5 GHz também terá um compromisso de segurança
nacional: viabilizar uma rede privativa de comunicação para o governo federal
que tenha requisitos de segurança ampliados e que seja altamente confiável.
Segundo o edital do leilão,
duas contrapartidas deverão ser executadas para criar a rede segura de troca de
dados do governo: uma malha de conexão de fibra óptica entre todos os órgãos da
União e uma rede móvel exclusiva para o uso público. Todas as telecomunicações
do governo, além de serviços de segurança, defesa civil e emergência, poderão
usufruir do serviço, que será implementado inicialmente no Distrito Federal.
Infraestrutura complexa
O secretário de Telecomunicações também listou os desafios de preparar a
infraestrutura dos grandes centros urbanos para o recebimento da tecnologia 5G.
'Teremos dois desafios logísticos com o 5G. O primeiro é a complexidade do
licenciamento [urbanístico] para implantação de antenas. Vamos precisar ter
cerca de dez vezes mais antenas do que com tecnologias anteriores', argumentou.
As antenas de transmissão do 5G, no entanto, trazem uma vantagem. Por serem
pequenas, explica Artur, poderão ter regras especiais de isenção de
licenciamento urbano - o que agilizaria o processo de cobertura da tecnologia.
O problema do licenciamento urbanístico é que ele acontece na esfera municipal,
e há grande variação nas legislações sobre o tema.
'O segundo ponto é a expansão das redes de fibra óptica que alimentarão essas
antenas. O próprio edital prevê o aumento da malha de cobertura da fibra óptica
e a substituição da infraestrutura antiga, mas é um processo demorado',
argumentou Coimbra.
Agência
Brasil
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