No Brasil ninguém vê a globalização
como causa da crise. Todos sabem que a nossa foi causada pela incompetência e
pela corrupção das forças internas
As
pesquisas confirmam o que quase todos sentimos nas ruas: as pessoas querem
mudança e consideram as eleições de 2018 o melhor caminho para impulsioná-la. É
uma boa notícia, cercada de dados negativos. Um deles é a reforma política nada
amigável às mudanças. O velho sistema político partidário parte com uma
vantagem financeira respeitável: um fundo eleitoral de R$ 1,8 bilhão.
E a decisão do
Supremo é outro dado da blindagem dos políticos: o Congresso deve rever em 24
horas todas as medidas cautelares que atinjam o exercício do mandato. Isto
significa que, se o STF afastar um senador, certamente seus pares vão anular a
medida. A última palavra, nesse caso, não pertence mais aos juízes. O sistema
político partidário deve estar comemorando. Aécio também. Mas, se analisarmos o
contexto da disposição popular, essas medidas vão acabar isolando mais ainda os
detentores de mandatos políticos. Pelo menos teoricamente, para se salvar das
investigações e de suas consequências, o sistema partidário terá de ir mais longe
no seu longo processo de suicídio. Naturalmente, a disposição pela mudança não
é suficiente para que ela aconteça. Há muitas arestas a aparar.
Tenho refletido e
lido sobre o conceito de tolerância. Cheguei à conclusão de que é muito
flexível, depende de circunstâncias históricas, de quem tolera ou é tolerado. A
tolerância como conceito moderno nasceu do liberalismo e é um fruto das guerras
religiosas e da separação entre as autoridades do estado e da igreja, abrindo
uma brecha para o indivíduo diante dessas forças gigantescas. Mais urgente que
falar dela é tentar entender o quadro em que se move.
Tenho observado um
deslocamento de calores no debate político brasileiro. No período anterior à
queda de Dilma, o confronto se dava, além, é claro, da roubalheira, em torno de
sistemas políticos. Tanto que os adversários do PT sempre diziam: “vai para
Cuba, vai para Cuba”. Nem o mais radical dos críticos do artista pelado no MAM
ousaria mandá-lo para Cuba, por achar a pena pesada demais. Toda uma geração de
artistas foi esmagada pela revolução cubana — isto é bem descrito nos livros de
Reinaldo Arenas. Durante muito tempo, a revolução decidiu encerrar homossexuais
em campos de trabalho.
A sensação que
tenho é de que o choque entre socialismo e capitalismo está em segundo plano.
Sobe para o topo uma espécie de resistência à globalização e suas tendências
multiculturais. Isso aconteceu na eleição de Trump e também na vitória do
Brexit. Só que até nos Estados Unidos a globalização é sentida por alguns
setores como uma ameaça econômica, perda de postos de trabalho, ruína de
regiões que perdem sua competitividade global. No Brasil ninguém vê a
globalização como causa da crise. Todos sabem que a nossa foi causada pela
incompetência e pela corrupção das forças internas. No entanto, no campo dos
costumes e, sobretudo, com a aceleração do mundo digital, muitas famílias se
sentem inseguras diante de rápidas mudanças e temem por seus valores, tradição
e até mesmo pela ideia que têm da própria identidade nacional.
O debate sobre os
caminhos da saída econômica revela uma predominância do liberalismo. Ainda
assim, no Brasil, isso precisa ser relativizado. O MBL, um movimento que se
destacou na oposição ao governo de esquerda, tem uma clara opção liberal. No
entanto, nos temas comportamentais, aproxima-se da posição de Bolsonaro. Este,
por sua vez, apesar de seu enfoque nacionalista, se aproxima do liberalismo
econômico. Essa discrepância em adotar o liberalismo econômico, abertura para o
mundo, e, simultaneamente, combater algumas de suas consequências é apenas um
dado. Os chineses sabem combinar elementos de liberalismo econômico com seu
regime político de um só partido. Posições liberais na economia não
correspondem mecanicamente a uma posição liberal nos costumes. Aqui, os
artistas continuarão produzindo com liberdade e, em certos momentos, sendo
provocativos como têm sido em toda a história da arte. E uma maioria da
população tende a sentir-se ultrajada por saber que, apesar de maioria, sua
visão de mundo não é levada em conta. Verdades políticas surgem daí. As duas
mais visíveis são a tentativa de articular o desconforto com certas
consequências do mundo moderno e a outra se entrincheirar em ideias de
vanguarda descartando a opinião majoritária como atrasada. Nenhuma delas me
parece adequada para o Brasil.
A admiração com que
Barack Obama foi recebido aqui mostra que existe uma simpatia por posições que
tentam navegar de olhos abertos para um mundo em transformação sem perder o
contato com o fio terra. A própria Angela Merkel venceu uma grande batalha pela
tolerância ao receber os imigrantes. Conseguiu se reeleger. Sempre foi crítica
da trajetória do multiculturalismo, que acaba deixando ao relento o pobre, que
não está integrado em nenhuma das identidades culturais que disputam o espaço.
Isso que chamo de
pé na terra, por falta de melhor definição, pode ser, no Brasil, essencial para
tirar o barco do lodo.
Fernando Gabeira, em O Globo
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A arte de escrever bem
Escrever é uma necessidade vital, um fundamento sem o qual a comunicação perde em substância.
Os desafios do dia a dia exigem intensa troca de mensagens, seja nas redes sociais, seja nas corporativas: relacionamentos pessoais, correio eletrônico, elaboração de projetos e relatórios, participação em concursos e processos seletivos, negociações empresariais, tratados corporativos, convenções políticas, projetos literários... Tarefas que se tornam triviais, textos que se tornam mais adequados e elegantes quando as técnicas para a elaboração da redação criativa se encontram sob inteiro domínio. E não é só. Escrever está umbilicalmente vinculado à qualidade de vida, à saúde, ao bem-estar.
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