As escolas privadas de todo o país começam a se preparar para o ano letivo de 2021. Diante das incertezas que permanecem por causa da pandemia do novo coronavírus (covid-19), as instituições preveem um ano de cuidados em um possível ensino presencial e ainda com oferta de ensino remoto de forma parcial ou integral, mesmo que para parte dos estudantes. Todos esses fatores têm impacto nos novos contratos e nos reajustes das mensalidades.
“É um processo
muito complexo”, diz o presidente da Federação Nacional das Escolas
Particulares (Fenep), Ademar Batista Pereira. “Se tiver uma segunda onda da
doença? Se não tiver vacina? A gente vai ter que fazer o que é possível. Não é
possível fazer o que a gente fez em 2019, assinar um contrato com aula
presencial e pronto, a gente tinha uma espécie de planejamento. Hoje ninguém
tem nenhum planejamento e quem dizer que tem está mentindo. Nem os governos
têm. Vivemos um momento de instabilidade”.
Neste ano, as escolas tiveram que interromper as
atividades presenciais para tentar frear o avanço da doença. Até o início deste
mês, de acordo com levantamento feito pela Fenep, 16 estados e o Distrito
Federal autorizaram a reabertura das escolas particulares. Em outros três
estados há alguma previsão de retomada. Sete estados não têm data para
reabertura.
As escolas tiveram que se adaptar, oferecendo aulas de
forma remota. Muitas famílias, no entanto, pediram a redução das mensalidades,
uma vez que o serviço contratado não estava sendo entregue da forma acordada. A
disputa chegou ao legislativo, onde tramitaram propostas para redução
obrigatória dos pagamentos.
Embora não haja certeza do que está por vir em 2021,
para que os impasses que ocorreram em 2020 não voltem a acontecer, é possível,
de acordo com Pereira incluir essas incertezas nos contratos, para deixar claro
as medidas que podem ser tomadas. “A gente terá que prever no contrato o que
será feito. Os pais têm que ter consciência de que será feito o que der para
fazer”.
Educação
infantil
A educação infantil, etapa que compreende as creches e
pré-escolas, foi a mais impactada pela pandemia, devido à dificuldade de
oferecer um ensino a distância para os bebês e crianças. De acordo com o
vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Infantil (Asbrei),
Frederico Barbosa, a estimativa é que metade dos estudantes dessa etapa tenha
deixado as escolas.
Para 2021, segundo Barbosa, as escolas prepararam os
ambientes físicos para garantir que sejam arejados e que haja distanciamento
entre os estudantes. As escolas definiram medidas de segurança, como o uso de
máscaras e higienização dos ambientes, junto às secretarias de saúde e órgãos
de vigilância sanitária.
A expectativa é ofertar tanto um ensino híbrido,
mesclando presencial e remoto quanto aulas apenas a distância para aquelas
famílias que desejarem. “Já está sendo colocado nos contratos essa questão da
oferta do ensino híbrido e do ensino a distância. Vai ser a nova realidade em
2021”, diz.
Preços
Cada escola tem autonomia para definir as
mensalidades. A Fenep ressalta que os custos subiram, pois foram necessários
investimentos em novas tecnologias e treinamento dos professores para
implementar e manter o ensino híbrido. “A escola não pode errar na sua
precificação. É importante que as famílias conheçam e compreendam o quanto
custa o investimento da educação particular, serviço essencial aos estudantes,
à comunidade e ao país”, diz a entidade em nota.
A Fenep não tem uma estimativa de qual seja a média
dos reajustes, no país. As situações variam de escolas para escola. A escola
onde o filho da administradora Deborah Lopes estuda na Tijuca, na zona norte do
Rio de Janeiro, por exemplo, optou por manter os mesmos preços praticados em
2020. "De certa forma isso ajudou bastante", diz, "Muitos pais
tiveram perdas com a pandemia, perdas de emprego, redução de salário, então, de
certa forma ajuda, em 2021, a manter os alunos que já estavam na escola".
Na educação infantil, Barbosa diz que a maior parte
dos reajustes varia entre 3% e 4,5%. “A escola tem que enxergar se o público
dela comporta um aumento de mensalidade”, diz.“O pai que decide manter o filho
em casa e só ter o ensino a distância, ele acha que tem que pagar menos, quando
na verdade, para a escola oferecer esses dois serviços para as famílias, o
ensino híbrido e o ensino a distância, o
custo para a escola é muito maior. Algumas escolas tiveram que contratar alguns
professores ou aumentar a carga horária dos docentes”, acrescenta.
Direito
do consumidor
Pela Lei 9870/99, as escolas podem reajustar as
mensalidades com base na variação que tiveram nos custos com pessoal,
aprimoramentos no processo didático-pedagógico e outras despesas. Caso
solicitadas, devem apresentar uma planilha de custo que justifique o aumento
proporcional.
“Toda espécie
de aumento de despesa que a escola teve, ela pode colocar aí e esse reajuste
tem que ser proporcional. E elas são fiscalizadas. A família que sentir que ela
está praticando um reajuste não justificado, pode denunciar ao órgão de defesa
do consumidor, que tem o poder de exigir que a escola apresente planilha, a
contabilidade, para justificar isso”, explica o diretor de Relações
Institucionais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor
Britto.
Segundo Britto, as famílias podem também tentar
negociar com as escolas uma forma de pagamento que fique mais confortável no
orçamento. “É surreal ver escolas reajustando mensalidade para o ano que vem
desconsiderando a crise econômica nacional. É uma total falta de solidariedade
das escolas com as famílias, especialmente as famílias que se mantiveram fiéis,
pagando mensalidade ao longo do ano e não usufruindo das estruturas físicas com
mesmo nível de serviço que contratam para 2020”, diz.
Outro direito das famílias, de acordo com Britto, é
ter garantida a segurança dos filhos. A escola precisa prestar esclarecimentos
quanto ao protocolo de segurança sanitária adotado e também sobre as opções de
ensino remoto. “A escola que está ignorando totalmente, que acha que a pandemia
acabou ou que se planeja para o retorno das aulas em fevereiro, em janeiro,
como se tudo tivesse voltado ao normal, é uma escola que está totalmente fora
dos padrões do mercado”, defende.
Agência
Brasil
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