O engenheiro haitiano Jac-Ssone Alerte quer colocar o conhecimento
adquirido no Brasil, onde vive desde 2008, a serviço do seu país. Formado na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele desenvolve na instituição um
projeto de extensão, com o objetivo de fomentar a construção de moradias
populares no Haiti. Para impulsionar a iniciativa, foi lançada uma campanha de
financiamento, em que os colaboradores adquirem um livro.
Intitulada (Re)construindo um sonho, a obra apresenta as
ideias do engenheiro e também sua história de superação. "Cada exemplar
vendido representa mais um tijolo", diz o haitiano.
O projeto prevê a construção de casas na comunidade onde Jac-Ssone
nasceu: o bairro de Don de L’amitié, da pequena cidade de Duchity, a oeste da
capital Porto Príncipe. O local sofreu os impactos do terremoto de 2010 e,
posteriormente, foi devastado pelo furacão Matthew que atingiu o país em 2016.
A ideia é aplicar, em regime de mutirão, a técnica solo-cimento, que vem
sendo estudada há alguns anos na UFRJ como alternativa a métodos convencionais
empregados pela indústria da construção civil. É uma proposta sustentável e de
baixo custo.
Em janeiro, Jac-Ssone Alerte contou à Agência Brasil que
já havia adquirido um terreno junto com o pai, onde será erguida a Vila Marie Celiane Alexis,
uma homenagem à sua mãe, que já morreu. A iniciativa conta com o apoio de
lideranças locais e já foi feita uma pré-seleção, com base em perfis
socioeconômicos, dos 15 primeiros beneficiados. São famílias desabrigados em
decorrência do furacão.
A iniciativa prevê construções seguras e resistentes a tremores e ventos
fortes e também buscará chamar a atenção para a necessidade de aprimorar as
políticas habitacionais no Haiti. Segundo ele, o impacto das tragédias
ambientais é potencializado pela frágil estrutura das edificações. O terremoto
de 2010 deixou um país abalado e cerca de 200 mil mortos. Já o furacão Matthew
provocou mais de mil mortes.
As casas também levarão em conta as projeções do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas
(IPCC-ONU) para a região. Significa que elas serão preparadas para a incidência
de dias quentes e ondas de calor, garantindo maior bem-estar aos moradores.
EBC