Inbar Nacht, fundadora da ONG israelense Nacht Philanthropic Ventures, em entrevista com a AFP em Tel Aviv (AFP/JACK GUEZ) |
Quando Inbar Nacht viu no ano passado as imagens de famílias afegãs tentando desesperadamente fugir de seu país, pensou em seus familiares assassinados durante o Holocausto e se mobilizou para ajudar centenas de pessoas a abandonar o Afeganistão dos talibãs.
Há
dois anos, Nacht, advogada israelense, e seu marido Marius, que fez fortuna na
alta tecnologia, criaram uma ONG, a Nacht Philanthropic Ventures, para ajudar
pessoas idosas ou com deficiência em Israel, afetadas pela pandemia, e apoiar
projetos artísticos.
Retirar
as famílias do Afeganistão, um país que não tem relações diplomáticas com
Israel, não fazia parte dos objetivos de sua associação.
Mas
em entrevista à AFP em sua casa de Tel-Aviv, Nacht explicou que, como
descendente de judeus perseguidos e assassinados pelos nazistas, não podia
"permanecer indiferente a essas imagens de pessoas que tentavam fugir com
seus filhos".
"Isso
fez minha identidade judaica vibrar profundamente", disse no mesmo dia
internacional da memória do Holocausto, celebrado nesta quinta-feira (27).
"Tentei
imaginar meus antepassados nessa situação" e o que teria acontecido com eles
"se pessoas de outros países tivessem ajudado".
"Isso
faz parte da nossa história como judeus (...). Pouco importa se são do
Afeganistão ou de outros lugares, são civis inocentes que se encontram em uma
situação impossível (...). Tentamos ver como podíamos ajudá-los", explica
a mulher, que não descarta a possibilidade de ajudar pessoas de outros lugares
em situações parecidas.
Salvar vidas
O
aeroporto de Cabul foi tomado de surpresa em agosto de 2021 por dezenas de
milhares de afegãos que tentavam fugir após a chegada do Talibã ao poder,
porque se lembravam do governo cruel imposto pelo mesmo grupo nos anos 90.
A
Nacht Philanthropic Ventures se mobilizou imediatamente.
Entrou
em contato com um ex-soldado americano que esteve no Afeganistão, que ajudava
as pessoas a chegarem no aeroporto, e com Stacia George, uma ex-funcionária da
USAID, a agência americana para o desenvolvimento, que tinha uma lista de quase
300 pessoas ameaçadas e que precisavam ser retiradas, entre elas militantes dos
direitos humanos, cientistas e membros de minorias.
Mas
em 26 de agosto, dia no qual deveriam partir, um atentado suicida reivindicado
pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) causou a morte de cerca de 200
pessoas no aeroporto.
Stacia
George e o veterano organizaram então um transporte de ônibus para
Mazar-i-Sharif, cidade ao noroeste de Cabul. A ONG ajudou a financiar a viagem,
o alojamento e a segurança.
"A
fundação foi incrível (...) ao proporcionar tão rápido os meios que nos
permitiram salvar vidas", declarou Stacia George à AFP.
"Pura
humanidade"
Em
janeiro, as 278 pessoas já estavam seguras em vários lugares do mundo, segundo
a ONG.
Com
exceção dos funcionários da empresa de ônibus, ninguém soube que a operação foi
financiada por judeus israelenses.
Entre
as pessoas retiradas, Hamid, um engenheiro de 33 anos que trabalhava para o
exército americano, dizia estar ameaçado pelos talibãs. Foi abrigado durante 23
dias com sua família em Mazar-i-Sharif antes de viajar para os Emirados e
depois para Ruanda, país que aceitou acolhê-los.
Para
este afegão, que soube depois que a operação foi financiada por uma organização
israelense, foi um ato de "pura humanidade".
Inbar
Nacht, que realizou a operação, "não conhecia nenhum de nós, não sabia
nada sobre nós", disse à AFP em Kigali.
"Tudo
o que podemos dizer é que sentimos uma gratidão imensa por esse gesto de
bondade e esperamos que os Nacht possam ajudar outras pessoas", afirmou.
Jonah MANDEL, AFP
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