Falta de recursos ameaça monitoramento do desmatamento no Cerrado neste ano
Diante da iminência de o sistema de monitoramento de
desmate do Cerrado ser cancelado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) por falta de recursos, um grupo de cientistas articulou um plano para
salvar o projeto. Na iniciativa privada, os pesquisadores encontraram fundações
dispostas a ajudar no programa em 2022. A diretoria do Inpe, porém, rejeitou os
recursos.
Por trás da recusa há um conflito entre o atual chefe do
instituto, Clézio de Nardin, e um grupo de pesquisadores sêniores da
instituição, incluindo o ex-diretor Gilberto Câmara. Entre os dois se interpôs,
ainda, o chefe da Advocacia-Geral da União em São José dos Campos, Carlos
Freire Longato, que tem um histórico de conflito com o Inpe e já tentou (sem
sucesso) colocar fim ao programa CBERS, parceria que o instituto tem com a
China para produzir elançar satélites.
Desde 2016, o Inpe produz mapas de desmatamento do
Cerrado como extensão dos seus dois programas de monitoramento que já vigiavam
a Amazônia, chamados Prodes (para cálculo preciso do desmate do bioma) e Deter
(para vigilância em tempo real). Os primeiros anos de implementação do projeto
tiveram recursos do Banco Mundial. Mas no ano passado o governo federal não
manifestou interesse em renovar o contrato.
Como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação não
tem verba prevista para o projeto na Lei Orçamentária Anual de 2022, os
cientistas que tocam o projeto, uma equipe ainda com contrato temporário, sem
vínculo empregatício com o Inpe, buscou ajuda.
Em maio do ano passado, com intermediação do ex-diretor
Câmara, os cientistas obtiveram uma proposta do grupo Clua (Climate and Land
Use Alliance) de complementar os R$ 2, 5 milhões de que o programa precisa para
se manter por um ano, um valor relativamente baixo.
A Clua - aliança de fundações sem fins lucrativos dos
criadores das empresas HP, Ford e Intel - propôs que o repasse fosse feito ao
projeto por meio da Funcate, fundação que o próprio Inpe mantém para viabilizar
parcerias com a iniciativa privada.
Nardin, porém, engavetou a proposta, baseando-se em um
parecer que havia encomendado à AGU. Junto da advogada da União Regina Motooka,
Longato usou como argumento contra o convênio uma tecnicalidade administrativa
pela qual 'a terceirização deve envolver a prestação de serviços e não o
fornecimento de trabalhadores'.
Como os técnicos do projeto do Cerrado não estão na folha
de pagamento do Inpe como funcionários contratados, a ressalva travou a
proposta. A Clua diz que não chegou a receber uma negativa oficial, mas até
hoje o instituto não respondeu à entidade com uma solução.
Histórico de conflitos
Em 2007, Longato usou argumentos semelhantes para
subsidiar um processo de improbidade - administrativa contra Gilberto Câmara na
gestão do programa CBERS, que estava um ano atrasado. O ex-diretor venceu o
processo, porém, tanto na primeira quanto na segunda instância.
- O parecer da AGU no caso desse convênio com a Clua
também é meramente opinativo. Nenhum diretor de instituição pública é obrigado
a seguir parecer da AGU - diz Câmara. - Houve casos, na minha época como diretor,
em que precisei de recurso via fundação para contratar pessoas. Ele (Longato)
me denunciou para o Tribunal de Contas da União (TCU), que investigou e não
achou nenhum problema.
No início deste ano, após a notícia de que o
monitoramento do Cerrado seria interrompido, Nardin disse em vídeo de rede
social que a informação não é verdadeira.
- Estamos ampliando o monitoramento dos biomas
brasileiros. Agora ele se chama 'Biomas BR MCTT', e vamos monitorar todos -
disse. - Aprovada a Lei Orçamentária Anual, teremos recursos da União através
do ministério para financiar esse programa por mais quatro anos.
A negociação com a Clua não é mencionada no vídeo, porém,
e o texto da lei orçamentária não especifica fonte nem destinação dos recursos.
O GLOBO pediu ao Inpe que explicasse melhor o financiamento, mas não obteve
resposta até a publicação desta reportagem.
Pesquisadores que conduzem o Prodes e o Deter do Cerrado,
um grupo de 20 pessoas, não se pronunciam publicamente enquanto o impasse sobre
o projeto não se resolve. Há um clima de tensão instalado no Inpe desde que o
ex-diretor Ricardo Galvão foi demitido em 2020 por confrontar o presidente Jair
Bolsonaro. Sem provas, Bolsonaro acusava o Inpe de inflar dados de desmate da
Amazônia.
No instituto, entre os poucos que se manifestam sobre o
risco de apagão de dados sobre o Cerrado estão pesquisadores aposentados ou com
proteção sindical.
-O atual diretor do Inpe fala que é tudo mentira e que o
dinheiro está no orçamento. Acontece que esses recursos não estão
especificados. A lei orçamentária de 2022 foi projetada em meados de 2021,
quando achavam que não precisariam colocar recursos para o monitoramento do
Cerrado por não ser atribuição do Ministério da Ciência e Tecnologia. O
convênio (com o Banco Mundial) que acabou era pelo Ministério do Meio Ambiente
- diz Acioli Olivo, vice-diretor do Sindicato dos Servidores Federais de
Ciência e Tecnologia.
Sem desistir
A Clua afirma que dialoga com o Inpe e quer ajudar. Em
comunicado, afirmou que ainda não desistiu de firmar o acordo. 'Encontramos uma
equipe muito dedicada e empenhada em buscar uma solução garantindo a redução de
Tiscos e segurança nos contratos, e continuamos em diálogo e buscando
alternativas', afirmou a aliança. O desmate no Cerrado bateu recorde em 2021,
com 8. 500 km? devastados. Apesar de ter uma biomassa menor que a da Amazônia,
a vegetação nativa desse bioma protege reservatórios de água estratégicos do
país e está sob maior pressão do agronegócio.
No cenário de incerteza, o MapBiomas, projeto
independente de monitoramento por satélite do território brasileiro operado por
ONGs e universidades, se ofereceu para ajudar. Em nota, afirmou que pode
produzir alertas sobre desmate no Cerrado caso haja um apagão de dados.
Pesquisadores da área, porém, defendem que o governo não
pode abrir mão de uma ferramenta própria nem deixar o Inpe perder protagonismo.
-Eles têm uma experiência de 30 anos desenvolvendo
metodologia científica, modelos computacionais e hoje até inteligência
artificial para monitorar biomas a partir de imagens de satélite -conta Olivo.
- Com o Prodes e o Deter, o programa formou centenas de mestres e doutores, e
cada um deles contribuiu com parte dos modelos que hoje monitoram a Amazônia.
Rafael Garcia, O Globo
Para saber mais sobre o livro, clique aqui |
Para saber mais sobre o livro, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui.
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui.
Clique aqui para acessar os livros em inglês. |
-----------
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Coleção Greco-romana com 4 livros; saiba aqui. |
Coleção Educação e Democracia com 4 livros, saiba aqui. |
Coleção Educação e História com 4 livros, saiba mais. |
Para saber sobre a Coleção do Ratinho Lélis, clique aqui. |
Para saber sobre a "Coleção Cidadania para crianças", clique aqui. |
Para saber sobre esta Coleção, clique aqui. |
Clique aqui para saber mais. |
Click here to learn more. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |