sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Human Rights Watch pede boicote diplomático aos Jogos de Inverno de Pequim

Anéis olímpicos em Yanqing, China (AFP/Noel Celis)

 A China está usando os Jogos Olímpicos de Inverno para "limpar" seu histórico "horrível" em termos de direitos humanos, alertou o diretor da ONG Human Rights Watch (HRW), pedindo aos países que participem de um boicote diplomático.

 

"O governo chinês está claramente tentando usar as Olimpíadas de Pequim para encobrir sua horrível repressão", declarou Kenneth Roth em entrevista à AFP antes da divulgação do relatório anual da HRW nesta quinta-feira (13).

Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá anunciaram que não vão enviar seus representantes políticos para a abertura dos Jogos de Inverno de Pequim, em 4 de fevereiro, alegando violações de direitos humanos por parte da China, principalmente contra a minoria muçulmana uigur na região de Xinjiang (noroeste).

O diretor da HRW insistiu que outros países também deveriam se abster de enviar altos funcionários aos Jogos, para ajudar a "expor as atrocidades em massa" na região, bem como o "esmagamento das liberdades básicas em Hong Kong" por parte da China.

Também lembrou que a HRW não pede aos atletas que boicotem os Jogos, mas insistiu que os governos não podem se limitar a "fingir que tudo está normal".

"No mínimo, a comunidade internacional deveria participar do boicote diplomático aos Jogos", acrescentou.

Questionado nesta quinta-feira sobre tais declarações, o ministério das Relações Exteriores chinês acusou a ONG de estar, "como sempre, cheia de preconceitos" e de "fabricar mentiras" para "semear discórdia".

"As palavras e ações infelizes (da HRW) que buscam prejudicar a causa olímpica não alcançarão seu objetivo", disse um porta-voz do ministério, Wang Wenbin, a repórteres.

Roth insistiu que os patrocinadores olímpicos deveriam se posicionar. "Em vez de promover" essa tentativa de encobrir os abusos, as empresas deveriam "colocar os holofotes no que está acontecendo em Xinjiang", disse.

Ativistas denunciam que pelo menos um milhão de uigures e outras minorias, principalmente muçulmanas, foram presos em "campos de reeducação" em Xinjiang. Pequim afirma que são centros de formação profissional destinados a reduzir o extremismo islâmico.

"Todas as empresas deveriam fazer o possível para evitar endossar ou legitimar a repressão do governo chinês", disse Roth, observando que a recente decisão da montadora Tesla de abrir uma concessionária naquela região mostra "uma absoluta falta de sensibilidade".

O diretor da HRW, no entanto, afirmou que muitos países parecem mais determinados a criticar a China nas Nações Unidas, em Nova York e Genebra.

Mas lamentou que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que planeja participar da abertura dos Jogos, "tenha mantido silêncio absoluto e se recusado a criticar o governo chinês". "Este é um enorme fracasso global", concluiu.

AFP


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