sábado, 15 de janeiro de 2022

Para Human Rights Watch, líderes democráticos devem se opor com mais firmeza a autocratas

Diretor da Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth

A incapacidade dos líderes democráticos de defender efetivamente os valores fundamentais da democracia permitiu que autocratas chegassem ao poder em muitas partes do mundo, disse em entrevista à AFP o chefe da Human Rights Watch (HRW).

 

Diante da pandemia e dos temores das mudanças climáticas, "nosso medo é que, se os líderes democráticos não se mostrarem e não assumirem o tipo de liderança visionária que a situação atual exige, vão gerar desespero e frustração, terreno fértil para autocratas", insistiu Kenneth Roth, entrevistado em Genebra na terça-feira.

O relatório anual da organização destaca a ascensão de regimes autoritários e governos repressivos.

O documento de 750 páginas, publicado nesta quinta-feira, detalha a sangrenta repressão da oposição em países como China, Rússia, Belarus e Egito.

E também aponta para os recentes golpes de Estado em Mianmar e no Sudão, e o surgimento de tendências autoritárias em nações consideradas como democracias: Hungria, Polônia, Brasil, Índia e, até um ano atrás, Estados Unidos.

Democracia dos EUA ameaçada

Para Kenneth Roth - ex-procurador federal dos EUA que lidera a HRW desde 1993 - a democracia de seu país natal "continua claramente ameaçada", mesmo que Donald Trump e seus apoiadores tenham falhado em sua tentativa de impedir que Joe Biden - eleito legitimamente - assumisse a Presidência.

Roth teme que o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 "seja apenas o começo" e que "um esforço muito mais sofisticado" esteja sendo preparado antes das eleições presidenciais de 2024.

"É urgente defender a democracia nos Estados Unidos", considera.

No entanto, ele "não compartilha da ideia de que o autoritarismo avança e a democracia regride", pois acredita que um certo número de autocratas no mundo está cada vez mais em uma posição vulnerável.

E isso se deve às várias coalizões de partidos que se unem para expulsar "autocratas corruptos", como na República Tcheca e em Israel, ou às manifestações que abalam o poder, como em Mianmar e no Sudão.

"Há uma batalha em andamento e uma resistência muito forte contra aqueles que querem reimpor ou perpetuar o autoritarismo", segundo Roth.

Essas situações forçaram os autocratas a retirar suas máscaras e parar de fingir sua democracia, como na Rússia, Uganda, Hong Kong e Nicarágua.

"Eleições zumbis"

Mas as "eleições zumbis", organizadas depois de se eliminar a oposição, silenciar a imprensa e proibir manifestações, não "conferem a legitimidade" que esses regimes buscam.

E essas manobras autoritárias podem dar impulso às forças democráticas, segundo Roth.

Mas, por enquanto, muitos líderes democráticos não conseguem transmitir claramente os benefícios da democracia.

"Em todo o mundo, vemos insatisfação com líderes democráticos, especialmente porque partes importantes das sociedades democráticas se sentem abandonadas", avalia o responsável.

"Há uma necessidade urgente de melhorar a governança nas democracias e ter uma estratégia mais coerente para a defesa dos direitos humanos no mundo", acrescenta.

Cita como exemplo os Estados Unidos e as promessas de Joe Biden de colocar os direitos humanos no centro da diplomacia.

Embora reconheça que Biden e outros líderes democráticos "estão dando pequenos passos" na direção certa, essa estratégia "não é adequada diante dos grandes desafios que nos são apresentados nem, em última instância, para vencer a dura provação contra o autoritarismo", alerta.

Nina LARSON, AFP


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