Cianeto de mineradora canadense é responsável por morte de 2 toneladas de animais na Amazônia
A mineradora Mina Tucano é
responsável pela contaminação por cianeto dos rios de Pedra Branco do Amapari,
na região central do Amapá, ocorrida no mês de Novembro do ano passado e que
resultou na morte de mais de duas toneladas de répteis, peixes e pequenos
mamíferos.
É a avaliação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do
Amapá (Sema), baseada em um laudo da Universidade Federal de Minas Gerais. A
secretaria aplicou em 21 de dezembro três autos de infração à subsidiária
brasileira da canadense Great Panther Mining Limited. Somadas, as multas
totalizam R$ 50 milhões.
Este foi o maior crime ambiental dos últimos anos no
Amapá, que deixou cerca de 17 mil moradores sem poderem utilizar a água do seu
próprio rio, o Amapari, por quase uma semana e deixou centenas de moradores sem
poderem pegar peixe de seus igarapés, o do Areia, Xivete e Silvestre, que foram
os três principais atingidos pelo cianeto da Mina Tucano.
Do montante da multa aplicada, R$ 45 milhões está
relacionado à mortandade de peixes, R$ 2 milhões pelo descumprimento da
notificação e pedido de informações feitos pela Sema, e outros R$ 3 milhões se
referem ao descumprimento de uma das condicionantes da licença de funcionamento
da mineradora.
Josiane Ferreira, secretária de meio ambiente do Amapá,
afirma que a empresa é responsável por qualquer acidente que ocorra dentro da
área do empreendimento e que ela é obrigada a informar de maneira imediata, o
que não ocorreu. “Identificamos que a empresa foi a causadora da contaminação
do corpo hídrico que causou a mortandade de peixes e outros animais, além de
não nos dar esclarecimentos e descumprir a licença com o acidente”.
Já à época os moradores da região, vizinhos à empresa,
suspeitavam da responsabilidade da empresa, pois identificavam o Igarapé do
Areia, que tem sua nascente dentro da propriedade da Mina Tucano, como sendo o
lugar por onde veio a contaminação de seus cursos d’água. A empresa nega ter
ocorrido qualquer vazamento de seus reservatórios ou que cianeto – composto
químico que utiliza para extrair ouro – tenha sido o causador de qualquer dano
ao Amapari, seus animais e moradores.
Voçoroca
Além do laudo da Fundação Ezequiel Dias, instituto da
UFMG contratada para analisar as amostras de água coletadas nos igarapés, e que
comprovou a alta presença de cianeto no Igarapé do Areia, a secretária de meio
ambiente explicou que os técnicos da Sema recorreram à imagens de satélite,
comparações fotográficas e a análise de mapas georreferenciados para detectar o
surgimento de uma voçoroca no dique 16 da barragem de rejeitos da Mina Tucano.
A extração de ouro da Mina Tucano é feita com o cianeto,
que após o processo fica armazenado em espécies de “piscinas”: reservatórios
que guardam o material tóxico. A voçoroca, que é um desbarrancamento no dique
de número de 16, é por onde os técnicos acreditam ter vazado o material químico
que causou toda a mortandade de animais.
Moradores ouvidos pela nossa reportagem reclamam que só
tem acesso aos resultados laboratoriais pela imprensa e que até o momento a
empresa à qual eles são vizinhos, não os chamou para dialogar.
“Eu queria que a empresa viesse sentar com a gente para
debater algum assunto pendente. Até hoje não sabemos de resultado nenhum, só
sabemos por notícias que ela foi multada em 50 milhões. A empresa nunca veio
conversar com a gente. A nossa comunidade parece que não existe, parece que os
peixes não morreram. Queremos uma vida melhor dentro da nossa comunidade”,
afirmou Arnaldo Viana de Almeida, morador da comunidade do Xivete.
Mina Tucano
A Mina Tucano declarou que irá contestar a Sema. Em nota
enviada por sua assessoria de imprensa, afirma que ainda está investigando “se
poderia haver alguma conexão entre o evento de mortandade de peixes e suas
instalações”.
A nota diz ainda que com base em sua investigação
inicial, incluindo relatórios independentes sobre toxicologia de peixes e
qualidade de água recebidos pela Mina Tucano em 28 de dezembro de 2021, a
Companhia preparou uma defesa formal contra a posição da agência. A mineradora
afirma que recorrerá do prazo de pagamento das multas, até 30 de janeiro,,
assim como do valor estipulado.
Marco Antônio P. Costa, Yahoo notícias
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