A lama que deixou turvas as águas
do rio Tapajós na região de Alter do Chão, no Pará, famosa por águas
cristalinas, é originaria sobretudo de garimpos, dizem cientistas que estudaram
a situação.
A
conclusão está em um comunicado do projeto MapBiomas, que rastreu o caminho dos
sedimentos usando imagens de satélite.
Em
uma nota técnica divulgada hoje, os cientistas mostram que, o barro
esbranquiçado visível em fotos de turistas desde o início do mês tem origem
sobretudo em operações de mineração ilegal em afluentes do Tapajós, sobretudo
os rios Jamanxim, o Crepori e o Cabitutu.
Parte
dos sedimentos é natural e se deve à cheia do rio Amazonas, onde o Tapajós
deságua. Esse barro natural, porém, não penetra muito no Tapajós, porque
precisa ir contra a corrente, e a única explicação para o grau de turbidez da
água em Alter é a intensificação das operações de garimpo, dizem os cientistas.
"O
garimpo ilegal na Amazônia, tanto terrestre quanto em rios (com balsas) têm
crescido nos últimos anos, e uma das regiões onde este crescimento foi mais
expressivo é justamente na área do Tapajós, onde triplicou nos últimos 10 anos,
crescendo uma área do tamanho da cidade de Porto Alegre", diz a nota
técnica dos cientistas. O trabalho foi liderado por César Diniz, coordenador
técnico do mapeamento da mineração e da zona costeira do MapBiomas.
"Para
que possa iniciar a busca por ouro, a atividade garimpeira desmata e escava o
solo amazônico ou draga o fundo dos rios. Os sedimentos desta atividade são
descartados diretamente das plantas de extração (ou lixiviados pelas chuvas, já
que perderam a proteção florestal) para dentro dos rios", explicam os
pesquisadores. "O aporte extra de sedimentos altera as características
físico-químicas da água e, por consequência, a cor de rios e lagos."
Os
rios onde o garimpo parece estar despejando mais sedimento ficam a até 300 km
da foz do Tapajós, onde fica Alter, dizem os cientistas. No caso de Alter do
Chão, além do risco de contaminação por mercúrio e outros insumos usados no processo,
o garimpo prejudica o turismo, já que a região é um dos destinos de visitação
mais importantes da Amazônia.
A
nota técnica do MapBiomas destaca, porém, que as conclusões iniciais ainda não
permitem detalhar com a melhor precisão possível os pontos de onde o sedimento
de garimpo saiu.
"Somente
com a medições de velocidade e direção da corrente, além de análises
laboratoriais mais detalhadas, será possível quantificar o grau de contribuição
de cada uma das possíveis fontes sedimentares", escrevem Diniz e colegas.
"Mas, é evidente que mudanças na coloração das águas do Tapajós e de sua
foz estão se tornando cada vez mais frequentes e mais intensas e coincidem com
expressivo avanço da atividade garimpeira."
Rafael Garcia, O Globo
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