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Aisha Khurram em Cabul em 16 de outubro de 2019 |
Em sua primeira noite sob o regime dos talibãs, Aisha Khurram, de 22
anos, não dormiu, em meio ao barulho de balas e aviões evacuando estrangeiros
do aeroporto de Cabul, um dia que ela não esquecerá: "em que nossa alma e
nosso espírito foram quebrados".
"Para toda a nação, ver como tudo desabou em um
instante foi o fim do mundo", confessou esta estudante afegã à AFP na
manhã de segunda-feira, poucas horas após a entrada do Talibã em Cabul.
Khurram, que representa a juventude afegã na ONU,
deveria concluir seus estudos na Universidade de Cabul nos próximos meses. Mas,
na manhã de domingo, ela e seus companheiros não puderam voltar ao campus e seu
futuro é mais incerto do que nunca.
“O mundo e os líderes afegãos abandonaram a juventude
do país da maneira mais cruel que podemos imaginar”, explica. "É um
pesadelo para as mulheres que estudaram, que pensam em um amanhã melhor para si
e para as gerações futuras".
Durante 1996 e 2001, o governo Talibã impôs uma visão
ultraortodoxa da lei islâmica que impedia as mulheres de estudar ou trabalhar,
sair de casa se não acompanhadas por um membro de sua família do sexo masculino
e obrigá-las a usar a burca em público.
Flagelações e execuções, incluindo apedrejamento por
adultério, eram práticas comuns em praças e estádios da cidade.
No entanto, a situação, especialmente nas áreas
rurais, não melhorou substancialmente para as mulheres com a saída dos talibãs
em 2001.
Medo
O Talibã afirmou repetidamente que respeitaria os
direitos humanos se retornassem ao poder no Afeganistão, enfatizando os das
mulheres, mas de acordo com os "valores islâmicos".
As afegãs, no entanto, veem essas promessas com
desconfiança, especialmente aquelas que por duas décadas puderam ir para a
universidade, ocuparam cargos de responsabilidade na política, no jornalismo e
até mesmo no judiciário e nas agências de segurança pública.
Nas últimas 24 horas, mulheres conhecidas em Cabul
expressaram nas redes sociais sua tristeza por ver seu país e todas as suas
vidas destruídas pelas mãos dos talibãs.
"Comecei o dia olhando para as ruas vazias de
Cabul, horrorizada", escreve Fawzia Koofi, ativista de direitos humanos e
ex-vice-presidente do Parlamento afegão. "A história se repete tão
rápido".
"O medo está impresso em você, está aqui como um
pássaro preto", acrescenta Muska Dastageer, professora da Universidade
Americana do Afeganistão, inaugurada cinco anos após a saída do Talibã.
"Apagar as mulheres"
Em um post na conta do Twitter de Rada Akbar, uma
mulher de 33 anos, vemos a imagem - já viral - de um homem cobrindo com tinta
branca a foto em uma vitrine de uma mulher sorridente em um vestido de noiva.
Para Akbar, esse gesto mostra que eles buscam “apagar
as mulheres do espaço público”, pois o Talibã não permite a reprodução de
imagens de mulheres.
Rada Akbar, pintora e fotógrafa, é conhecida por seus
retratos, uma reivindicação da independência e herança do Afeganistão. Este
ano, teve que organizar sua exposição de homenagem a importantes mulheres
afegãs online, depois de receber ameaças.
Na segunda-feira de manhã, seu medo era palpável.
"Quero me tornar invisível e me esconder do mundo", escreveu em um de
seus últimos tweets.
No sábado, o secretário-geral das Nações Unidas,
Antonio Guterres, disse que ficou "horrorizado" ao "ver como
desaparecem os direitos tão duramente conquistados pelas meninas e mulheres do
Afeganistão".
Sahraa Karimi, uma das cineastas afegãs mais famosas,
disse que não tinha intenção de deixar o Afeganistão. “Não abandonarei meu
país”, declarou, enxugando as lágrimas em um vídeo postado no Twitter.
Jerome TAYLOR, AFP
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