domingo, 11 de julho de 2021

ONG internacional pede que governadores da Amazônia Legal investiguem crimes contra defensores da floresta



A ONG Human Rights Watch (HRW) enviou, nesta quinta-feira, uma carta aos governadores dos estados que compõem a Amazônia Legal, recomendando medidas imediatas para o enfrentamento da crise ambiental e de direitos humanos na região.

 

O documento será entregue uma semana antes da reunião do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, no próximo dia 16.

Compõem a Amazônia Legal os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Segundo a organização, as medidas podem ser implementadas unilateralmente pelos governos de cada estado. O primeiro pedido é o da investigação de crimes contra ativistas defensores da floresta.

Dos mais de 300 assassinatos que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou desde 2009 na Amazônia, apenas 14 foram levados a julgamento até 2019, de acordo com a HRW. Dos 28 assassinatos documentados no relatório da ONG, concluído em 2019, apenas dois casos tinham sido de fato julgados. E dos mais de 40 casos de ataques ou ameaças, nenhum tinha ido a julgamento – e foi apresentada denúncia criminal em apenas um caso.

Diante desses dados, a HRW recomenda que governadores instruam suas forças de segurança a responderem prontamente às denúncias de violência e ameaças relacionadas ao desmatamento ilegal e outros ilícitos ambientais, e garantam que os crimes contra defensores da floresta sejam minuciosamente investigados.

A HRW pede também que os chefes do executivo estadual coordenem as autoridades responsáveis pela fiscalização e aplicação da lei em seus respectivos estados (incluindo o Ministério Público, as polícias e órgãos de fiscalização ambiental) para implementação de planos de ação — com consultas significativas a representantes da sociedade civil e povos indígenas — afim de investigar e desmantelar redes criminosas ligadas ao desmatamento ilegal e a outros crimes ambientais em suas jurisdições.

A ONG sugere ainda que as polícias militares apoiem as operações de órgãos ambientais federais e estaduais, com o objetivo de proteger agentes de fiscalização ambiental da retaliação de redes criminosas envolvidas na extração ilegal de madeira e outras atividades ilegais.

A diretora da HRW no Brasil, Maria Laura Canineu, explica que a expectativa é de que as recomendações sejam discutidas e adotadas na reunião do consórcio:

— Temos acompanhado com atenção o compromisso dos diversos governadores da região no combate ao desmatamento ilegal e queremos apoiar seus esforços para obter cooperação internacional. Mas para que eles tenham sucesso, precisam urgentemente e em conjunto lidar com as questões ambientais e de direitos humanos. E a começar a apresentar resultados concretos.

Cadastro ilegal de terras

A segunda recomendação é sobre o cancelamento de cadastros ilegais de terras. O documento indica aos órgãos estaduais a elaboração e implementacão de planos com prazos definidos para revisar os registros do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em suas jurisdições e cancelar os que estão ilegalmente sobrepostos com áreas de florestas públicas não destinadas (FPDN) ou terras indígenas (incluindo áreas indígenas em processo de demarcação).

A terceira recomendação é a de que os governadores deem publicidade às Guias de Trânsito Animal (GTAs) — documento de emissão obrigatória para o trânsito de animais e que contém informações sobre a origem e o destino dos lotes de gado. Segundo a carta, as agências de defesa agropecuária devem tornar acessíveis os dados das GTAs às agências ambientais, ao Ministério Público e ao público em geral.

As agências de defesa agropecuária, por sua vez, devem incorporar o código do CAR nas GTAs para facilitar o cruzamento e validação de informações sobre a localização e legalidade do gado pelas autoridades ambientais, polícias e MP.

A carta recomenda ainda que as agências de defesa agropecuária não emitam GTAs para a movimentação de gado de ou para áreas embargadas ou protegidas, inspecionando a origem e o destino dos lotes de gado.

Por Cíntia Cruz, O Globo


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