Se política e esporte sempre
estiveram entrelaçados ao longo de 30 edições disputadas dos Jogos Olímpicos,
não haveria por que ser diferente na segunda vez de uma Olimpíada em Tóquio.
Mas há uma novidade: em meio a uma pandemia global que expôs como nunca a
urgência de posturas firmes — e num contexto mundial favorável e até
encorajador para que os principais esportistas projetem suas vozes em causas
políticas, sociais e raciais —, os atletas asseguraram que o direito de se
posicionar faça parte hoje do script olímpico.
Nesta
quarta-feira, metade das 12 seleções femininas de futebol que estrearam no
torneio fizeram algum tipo de manifestação de cunho político, outrora passíveis
de punição e até expulsão dos Jogos.
Cinco
seleções — Estados Unidos, Reino Unido, Suécia, Chile e Nova Zelândia — se
ajoelharam antes do apito inicial de suas partidas, reproduzindo o protesto
antirracista que ganhou campos de futebol ao redor do mundo nos últimos anos.
A
jogadoras da seleção feminina da Austrália não se ajoelharam, mas se abraçaram
no centro do gramado, simbolizando união nacional. O contexto também é
político: as australianas posaram para uma foto antes da partida com a bandeira
aborígene, que representa os povos nativos da Oceania. Ela foi criada na década
de 1970 em meio a protestos por direitos à terra por parte de povos indígenas.
Antes que fosse incorporada como símbolo nacional, a bandeira despertou
críticas acaloradas quando, em 1994, a velocista Cathy Freeman a exibiu após
vencer os 200m e os 400m nos Jogos da Commonwealth.
Após
o gesto corajoso, Freeman foi escolhida para acender a pira olímpica nos Jogos
de Sydney-2000 e voltou a exibir a bandeira aborígene ao ganhar o ouro olímpico
nos 400m rasos naquela edição.
A
equipe australiana conta com duas atletas que representam povos originários do
país: a goleira Lydia Williams, de 33 anos, e a atacante Kyah Simon, de 17,
ambas titulares na partida desta quarta.
— É
algo sobre o qual conversamos bastante como equipe. Deixamos que as meninas
indígenas conduzissem o momento. Não queríamos chover no molhado, mas sim faz
algo que fosse relevante para o nosso país — afirmou a atacante Sam Kerr, capitã
da Austrália e autora do segundo gol na vitória por 2 a 1 sobre a Nova
Zelândia.
A
veterana meia Megan Rapinoe, de 36 anos, ícone da seleção feminina dos Estados
Unidos, explicou que a decisão de se ajoelhar ocorreu pela importância de
aproveitar a visibilidade dos Jogos Olímpicos.
— É
uma oportunidade para continuarmos a usar nossas vozes e as plataformas para
falar de assuntos que nos afetam intimamente de diversas maneiras — disse
Rapinoe, que começou a se ajoelhar durante a execução do hino nacional dos EUA
em 2016, em homenagem ao jogador de futebol americano Colin Kaepernick, que
acabou ficando sem contrato na NFL após iniciar a onda de protestos.
As
atletas da Suécia, adversárias dos EUA na estreia, também se ajoelharam antes
do apito inicial. Com a bola rolando, as suecas conseguiram uma surpreendente
vitória por 3 a 0, com dois gols da atacante Blackstenius e um da meia Hurting.
No jogo entre Chile e Reino Unido, que terminou em vitória por 2 a 0 para as
britânicas, com dois gols da atacante Ellen White, ambas as seleções também se
ajoelharam.
As
manifestações antirracistas e outras formas de exibição de mensagens de cunho
político foram parcialmente liberadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI),
que flexibilizou no ano passado a regra 50 da Carta Olímpica, antes proibitiva
a quaisquer "demonstrações políticas, religiosas ou raciais". Em sua
nova versão, o código permite que atletas expressem suas opiniões respeitando
"leis aplicáveis, valores olímpicos e os demais atletas", com veto a
conteúdo discriminatório ou com "potencial para violência".
Polêmicas políticas
Os
posicionamentos foram permitidos pelo COI antes do início das partidas, de quaisquer
modalidades, mas seguem proibidos no pódio. Em 1968, no México, edição que
sucedeu a última dos Jogos em Tóquio, os velocistas americanos Tommie Smith e
John Carlos fizeram, na premiação dos 200m rasos, aquela que é considerada
talvez a maior manifestação política da história olímpica — e foram banidos da
competição logo nos dias seguintes, sob pressão do COI. Respectivamente ouro e
bronze na prova, Smith e Carlos, ambos negros, ergueram punhos cerrados para o
céu num gesto semelhante à saudação Black Power, usada à época pelo grupo
ativista Panteras Negras.
No
mesmo pódio, o australiano Peter Norman, medalhista de prata naquela prova — e
a quem se atribui a ideia de que Carlos pegasse emprestada uma das luvas pretas
de Smith —, usava uma insígnia do Projeto Olímpico de Direitos Humanos (OPHR,
na sigla em inglês). Os americanos também usavam o emblema da organização que,
apesar do que o nome sugere, não tinha relação com o COI.
A
atitude de Smith e Carlos ocorreu três décadas depois de outro velocista
americano negro, Jesse Owens, conquistar vitórias de dimensões práticas e
simbólicas contra o projeto nazista de Adolf Hitler. Owens obteve quatro
medalhas de ouro (100m, 200m, revezamento 4x100m e salto em distância) nos
Jogos de Berlim-1936, derrotando alemães pelo caminho, diante dos olhares do
ditador nazista. Naquela edição, realizada antes das maiores atrocidades do
regime de Hitler, a saudação nazista com o braço direito estendido foi
largamente registrada, sem punições do COI, que a considerou como um símbolo
nacional "legítimo", como as bandeiras de países.
Já
após a II Guerra Mundial, diversas edições das Olimpíadas conviveram com
boicotes por questões políticas. Os principais ocorreram em Moscou-1980,
evitada por nações como EUA, Alemanha e Japão, e Los Angeles-1984, na qual os
soviéticos deram o troco e não enviaram atletas.
Apesar
de ter flexibilizado as regras para posicionamentos políticos em 2020, o COI
adotou uma espécie de "lei do silêncio" nas suas redes sociais:
segundo o jornal "The Guardian", a entidade orientou que não houvesse
postagens com fotos ou videos de protestos antirracistas das jogadoras.
Por Bernardo Mello, O Globo
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