A CPI da Covid pretende
avançar, a partir de agosto - quando retornará do recesso de 15 dias - no exame
de contratos do Ministério da Saúde com a empresa VTCLOG, que
atua na área de logística. "Eu acho que a VTCLOG vem a abrir um capítulo
novo na CPI, porque o contrato é muito grande, tem relação com a Precisa
(Medicamentos)", disse o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues
(Rede-AP), ao Correio.
O senador citou a Precisa, um dos alvos do colegiado, porque, entre os
documentos obtidos com as quebras de sigilo foram
identificados repasses da empresa à VTCLOG.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que a comissão está avaliando
os contratos firmados entre a VTCLOG e o Ministério da Saúde,
principalmente as renovações e prorrogações. "Fala-se em apadrinhamento
político para contratação e renovação de contrato dessa VTCLOG. Precisa avançar
mais para ter base", justificou. A CEO da empresa, Andreia Lima, já foi
convocada e deve ser ouvida nos próximos meses.
Conforme o senador, haveria relação da empresa com um grupo do PP, mas ele não
citou nomes. Um dos integrantes da legenda é o líder do governo na Câmara,
Ricardo Barros (PP-PR), alvo de suspeitas na CPI depois do depoimento
do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e do seu irmão, o servidor do Ministério
da Saúde Luis Ricardo Miranda. Este último relatou ter sofrido
"pressões atípicas" para agilizar a importação da vacina indiana
Covaxin, da Bharat Biotech, representada no Brasil pela Precisa Medicamentos.
Os dois disseram ter se reunido com o presidente Jair Bolsonaro para denunciar
as suspeitas e, segundo o deputado, o chefe do Planalto disse que a questão
parecia ser "rolo" de Barros.
"A própria contratação dessa empresa já é uma coisa inexplicável, porque
o trabalho que ela faz era feito diretamente pelo Ministério
da Saúde com ótima expertise. Ela teve um incremento no valor do
contrato muito grande no período ainda da pandemia", afirmou o senador
Humberto Costa (PT-PE).
A VTCLOG tem contrato com o Ministério da Saúde pelo menos desde
2009, segundo informações do Portal da Transparência do governo federal, com
contratos firmados recentemente e ao menos dois vigentes. Num caso, de 2009, a
entidade vinculada contratante é a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O primeiro
contrato da empresa cuja unidade gestora foi o Departamento de Logística (DLOG)
do Ministério da Saúde, alvo da CPI, é de 2010, no valor de R$
63,5 milhões.
Um outro contrato com o ministério data de 2018, com previsão de vigência até
2023. Com valor de R$ 97 milhões, a contratação é para prestação de serviços de
transporte e armazenagem de insumos críticos de Saúde. Um outro, firmado
em 2020, com previsão de encerramento em outubro deste ano, prevê prestação de
serviço de transporte rodoviário e aéreo municipal, intermunicipal e
interestadual de medicamentos. A empresa tem vínculos celebrados com outras
pastas.
Ao todo, segundo o Portal da Transparência, a VTCLOG já teve ao menos 26
contratos com o governo federal desde 2009. Desses, 16 foram com a Saúde,
sendo cinco firmados até 2013 e o restante, até o ano passado.
Transparência
Em nota, a VTCLOG afirmou que "na qualidade de operador logístico de
armazenagem e distribuição de fármacos, possui relação comercial com a Precisa,
assim como toda a indústria farmacêutica -- pela natureza do atendimento".
A empresa enviou a relação de todos os pagamentos feitos à Precisa e ressaltou
que não tem relações políticas, "agindo apenas em conformidade com a
legislação em vigor na prestação de serviços à administração pública".
A VTCLOG pontuou, ainda, que "atua com a máxima transparência".
"Tanto que o Tribunal de Contas da União certifica que a VTCLOG
não consta de nenhuma relação de empresas inidôneas junto à administração
pública", frisou. Por sua vez, a Precisa sustentou que "são
contratações de rotina entre duas empresas privadas, envolvendo serviços de
logística".
Por Sarah Teófilo, Correio Braziliense
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