sábado, 17 de julho de 2021

LDO triplica fundo eleitoral e tira recursos de obras, saúde e educação

 


Em um acordo que uniu do PT aos aliados do presidente Jair Bolsonaro, o Congresso Nacional aprovou ontem o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022 com o aumento para R$5, 7 bilhões do fundo eleitoral que bancará as campanhas políticas e inclusão das polêmicas 'emendas de relator' ao Orçamento.

 

A matéria segue para sanção presidencial.

O principal embate no plenário, que quase levou à rejeição do projeto no Senado, foi a ampliação do dinheiro público para campanhas, que triplicará em relação à última eleição nacional. O relator, deputado Juscelino Filho (DEM-MA), tirou os recursos das emendas de bancadas regionais, que seriam destinados para gastos com obras, da saúde e educação.

A maioria dos partidos fez um acordo para elevar o fundo eleitoral às pressas. O parecer de Juscelinor Filho foi publicado às 3h50, votado na Comissão Mista de Orçamento (CMO) pela manhã e aprovado à tarde no plenário do Congresso. Na Câmara, apenas Novo, Psol, Cidadania e Podemos manifestaram-se contra a proposta.

Na CMO, porém, onde o 'fundão' poderia ter sido derrotado, Cidadania e Podemos não votaram contra. No plenário, PT, MDB e PSDB manobraram para pedir a votação nominal do texto principal, o que impediu que a emenda do Novo para suprimir o aumento do fundo tivesse o registro nominal dos deputados que a aprovaram.

O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), que é a favor do financiamento privado das campanhas, criticou o aumento. 'A gasolina está a R$ 6 o litro. Esse imposto da gasolina, que o cidadão está pagando na bomba, vai para pagar santinho de deputado federal e senador', afirmou.

A deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) apoiou. 'Somos favoráveis ao financiamento público, mas mais de R$5 bilhões é um escárnio', disse.

Poucos partidos e deputados manifestaram-se a favor. O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) disse que o valor ainda não estava definido, mas que a democracia tem um custo. 'O pior não é gastar R$6 bilhões com as eleições, é gastar R$ 1 trilhão, que sai dos cofres públicos, para os bancos', afirmou. Juscelino não quis responder à imprensa, mas na tribuna disse que era preciso estabelecer uma regra e decidiu-se que o fundo vai ser o equivalente à soma de 25% do Orçamento da Justiça Eleitoral de 2021 e 2022.

Bolsonaro elegeu-se fazendo campanha contra o fundo eleitoral, assim como seus aliados, mas na hora da votação o PSL - liderado pelo deputado major Vitor Hugo (GO), ex-líder do governo - apoiou a medida e não se manifestou. A votação foi simbólica numa manobra que uniu PT, MDB e PSDB- a votação nominal só ocorre a cada uma hora e foi pedida no texto principal.

PT e PSL, este o partido pelo qual Bolsonaro se elegeu e onde ainda está a maioria dos aliados do presidente, receberam cerca de R$ 200 milhões cada um na eleição passada. Também seriam os maiores favorecidos com o aumento do fundo - o cálculo pode mudar porque dependerá do tamanho das bancadas a seis meses antes da disputa, mas cada um receberia aproximadamente R$ 600 milhões.

No Senado, após a repercussão negativa, mais bancadas posicionaram-se contra o fundão e houve temor, entre os governistas, de que a LDO fosse rejeitada. A votação ficou aberta por mais de uma hora para que mudanças de voto, como do DEM, fossem negociadas, e no fim o projeto acabou aprovado por 40 votos a 33.

Outro ponto que causou polêmica, desta vez com a oposição, foi a inclusão na LDO das 'emendas do relator-geral do Orçamento' (batizadas de RP9). Esse mecanismo foi criado em 2019 para que o relator do Orçamento - que em 2022 será o deputado Hugo Leal (PSD-RJ) - controle a distribuição de dinheiro para obras indicadas pelos parlamentares da base aliada. Em 2021, 0 volume de recursos chegou a R$ 16 bilhões e causou confusão com o governo.

O PT era contra a RP9, mas acabou não apoiando o destaque do PSB e Psol para excluir esse tipo de emendas. 'Fizemos uma reunião com os principais partidos e o governo e ficou combinado que discutiremos as regras no parecer preliminar da LOA [Lei Orçamentária Anual]. Queremos estabelecer lá critérios públicos de distribuição', afirmou.

A supressão pedida pelo PSB e Psol também acabou votada de forma simbólica. O líder da oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que ingressará com ação cautelar no Tribunal de Contas da União (TCU) para suspender as emendas de relator por contrariarem o princípio da publicidade do Orçamento.

O relator manteve a previsão de déficit primário de R$ 170 bilhões enviada pelo governo, mas afirmou que esta era uma estimativa conservadora e que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve obrigar o Executivo a enviar um novo projeto de alteração na LDO com as reestimativas da meta fiscal.

Por Raphael Di Cunto e Fabio Graner, Valor Econômico    


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