Lixo plástico em praia da Tailândia: UE ataca um problema de dimensões globais |
Canudinhos, cotonetes, talheres estão entre itens afetados por nova diretiva europeia. Outros produtos plásticos são tolerados, mas aumenta a responsabilidade dos fabricantes sobre o lixo resultante e a conscientização.
Está aberta a grande temporada de caça às embalagens na União Europeia.
Diversos produtos de plástico de utilização única, que há anos poluem as
praias do continente, estão basicamente banidos a partir deste sábado (03/07),
quando entra em vigor a Diretiva 2019/904 do Parlamento e do Conselho Europeu,
para redução do impacto desse material sintético sobre o meio ambiente.
A UE está começando a adotar um modelo de economia circular, cuja meta
final é que até 2030 todos os plásticos não inteiramente banidos sejam
reutilizáveis ou recicláveis.
1- Que artigos
plásticos não podem mais ser vendidos?
Fica proibida a venda de cotonetes, talheres, pratos, canudinhos de
bebida, mexedores e varinhas para balões fabricados com plástico, assim como de
recipientes para alimentos e bebidas de poliestireno expandido (EPS), incluindo
coberturas e tampas. Integram também a lista as sacolas oxodegradáveis: apesar
de comercializadas como biodegradáveis, elas se desfazem em microplástico que
não se decompõe.
Esses artigos descartáveis compõem cerca de 70% do lixo marinho da Europa.
Bares e restaurantes locais, por exemplo, passam a ser obrigados a se abastecer
com copos e canudinhos feitos de bambu, celulose ou outros materiais
biodegradáveis.
2- O que ainda
é permitido?
A reforma europeia do plástico não proíbe radicalmente todo tipo de
artigo. Sacolas e garrafas de uso único, recipientes de bebidas e alimentos
para consumo imediato, pacotes e embalagens, filtros para tabaco, itens
sanitários e toalhinhas úmidas serão apenas restringidos: seus fabricantes
terão que arcar com os custos de eliminação, além de promover campanhas de
conscientização sobre o impacto ambiental dos itens que comercializam.
3- Como os
Estados-membros da UE implementarão o novo regime para plásticos?
Todos os 27 países da UE estiveram encarregados de, até julho de 2020,
apresentar seus planos de implementação da diretiva. Alguns até ampliaram as
listas dos plásticos de utilização única a serem proibidos.
Como parte de sua "lei sobre economia circular e combate ao
lixo", adotada em fevereiro de 2020, a França também baniu a maior parte
das sacolas plásticas para frutas e legumes, assim como os sacos de chá e
confete plásticos, e os brinquedos de oferecidos como brinde em menus infantis.
Na Alemanha, medidas aprovadas em novembro acrescentaram recipientes de
comida de EPS aos plásticos de utilização única contemplados na diretiva do
Parlamento e do Conselho Europeu.
A Grécia foi a primeira a aplicar uma proibição, já banindo em fevereiro
os recipientes de plástico de suas repartições públicas. Em Luxemburgo, está
proibida a partir de 3 de julho a venda de artigos descartáveis em festivais.
Outros países, como a Itália e a Bélgica, estão também introduzindo taxas ou
impostos sobre o plástico, a fim de desencorajar seu uso.
Apesar de os diversos cronogramas darem uma impressão caótica, nos termos
do Acordo Verde Europeu até 2030 todos os países-membros deverão ter se
alinhado ao modelo de economia circular da UE, livre de lixo e poluição,
incluindo a reutilização ou reciclagem sustentável de todo o plástico.
4- E as
garrafas plásticas?
Embora a diretiva de 5 de junho de 2019 considere numerosos itens
descartáveis que acabam nos litorais da Europa, ela não afeta os 1,3 bilhão de
frascos de bebidas vendidos diariamente por todo o mundo.
Fabricados de PET (politereftalato de etileno), no entanto, esses
recipientes de plástico de origem fóssil estão entre os poucos que podem
reciclados para a produção de novas garrafas, embalagens ou fibras. O problema
continua sendo que apenas 65% dos frascos PET vendidos na Europa são coletados
para reciclagem, e os demais levam séculos para se decompor.
A diretriz estabelece uma meta de 90% de reciclagem das garrafas PET, até
2029, com uma marca intermediária de 77% até 2025. Também até esse ano, os
recipientes deverão conter 25% de plástico reciclado, em vez de virgem.
Os fabricantes também ficam sujeitos a uma responsabilização mais
rigorosa, como parte do mandato de "responsabilidade alargada do
produtor", incluído na 2019/904. Com base no princípio de "o poluidor
paga", eles terão que cobrir os custos da gestão de resíduos, assim como
os de conscientizar sobre o impacto ambiental do produto e de instruir sobre os
métodos de eliminação de resíduos mais sustentáveis.
5- Quais são
as alternativas ao plástico?
Os polímeros naturais estão isentos da Diretiva 2019/904, enquanto ficam
efetivamente banidos os plásticos fabricados com polímeros quimicamente
modificados, ou a partir de substâncias iniciadoras biológicas, fósseis ou sintéticas.
Quem sai ganhando é toda uma gama de novos materiais sustentáveis, não
considerados quimicamente modificados, como a celulose regenerada, usada para
produzir viscose, lyocell (ou tencel) e películas celulósicas.
Cotonetes e talheres passarão a ser feitos de bambu compostável, que, além
de ser barato e de crescimento rápido, é 100% biodegradável, podendo ser
colocado no lixo orgânico.
Apesar dessas alternativas, países como a França e a Bélgica proibiram a
rotulagem de produtos como "biodegradáveis", por seu potencial de se
tornar uma forma de "lavagem verde", encorajando o consumo de
embalagens.
6- Por que as
pontas de cigarro constam da lista da UE?
O Artigo 8º da diretriz europeia sobre o plástico especifica que os
produtores de tabaco terão que financiar a eliminação das guimbas ou baganas
contendo filtros de plástico.
Um total de cerca de 4,5 trilhões de pontas de cigarro é descartado por
ano, tornando-as o elemento que mais contribui para o acúmulo de lixo no
planeta. Elas são fabricadas com acetato de celulose, material que se decompõe
muito lentamente no meio ambiente.
Em setembro de 2020, ativistas coletaram 142 mil guimbas nas ruas da
Holanda. Os filtros de cigarro formam 40% do lixo plástico da UE, e numerosos
ambientalistas exigem que sejam declarados ilegais. A UE optou, porém, por
forçar os produtores a rotularem guimbas e pacotes, com o fim de promover a
conscientização. Um banimento radical não ocorrerá antes de 2027, quando será
atualizada a lista dos plásticos de utilização única.
7- Os
"plásticos da pandemia" serão incluídos na lista da UE?
A nova diretriz europeia isenta de controle os plásticos de uso médico,
inclusive as máscaras sanitárias e luvas que se proliferaram com o surto global
de covid-19. Contudo, sua importação para a UE mais do que dobrou: nos
primeiros seis meses da pandemia foram introduzidas no bloco cerca de 170 mil
toneladas adicionais de máscaras fabricadas com plástico.
Grande parte acabou como lixo em paisagens terrestres e marinhos, com
impacto potencialmente nocivo para os ecossistemas, aponta a Agência Europeia
do Ambiente (AEA), aludindo também aos diversos tipos de plástico durável
usados nas embalagens dos artigos de proteção contra o novo coronavírus.
Assim, aumentam os apelos para que se encontrem alternativas, e que os
"plásticos da pandemia" também sejam levados em consideração nas
reformas verdes da UE. Até o momento tal não aconteceu.
"É notável que a Diretiva sequer se aplique aos artigos plásticos de
utilização única usados nos setores de saúde, tais como luvas, jalecos e
máscaras descartáveis", criticou num comunicado Justine Maillot, da ONG
Zero Waste Europe, sediada em Bruxelas.
Deutsche Welle
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