Apps foram criados com visões distintas sobre o papel de um serviço de troca de mensagens. Conheça as características, segurança e privacidade de cada um.
As mudanças na política de privacidade do WhatsApp,
que preveem uma integração maior com o Facebook, deixaram muita gente se
perguntando quais são as alternativas ao app de mensagens.
O Telegram, um dos concorrentes mais conhecidos no
Ocidente, disse ter recebido 25 milhões de novos usuários em nas 72 horas após
o WhatsApp começar a exigir que os usuários concordassem as mudanças.
Outro nome que está chamando a atenção é o Signal.
Promovido por especialistas em segurança e financiado por um dos cofundadores
do WhatsApp desde 2018, o número de downloads do app aumentou 4.200% em relação
à semana anterior ao anúncio do Facebook sobre o WhatsApp.
Veja abaixo a história de cada aplicativo e o que eles
oferecem como diferencial:
WhatsApp
Fundado em 2009 como uma startup e adquirido pelo
Facebook em 2014, o WhatsApp é hoje o comunicador mais popular do mundo, com
cerca de 2 bilhões de usuários ativos e 5 bilhões de downloads só na Play
Store, a loja de apps do Android.
O programa foi criado com o intuito de substituir os
torpedos SMS, que eram limitados, e chegou a experimentar um modelo de negócios
com assinatura anual. No entanto, ele podia ser usado de graça por um longo
período e, desde que foi adquirido pelo Facebook, não há cobrança nem anúncios
no aplicativo.
O compartilhamento de dados com o Facebook e a
integração do app com pagamentos, contudo, vem se tornando a aposta para tornar
o serviço lucrativo.
O que só ele tem: Status/Stories, videochamadas
criptografadas com até 8 pessoas (50 por meio da integração com as Salas do
Messenger), recursos adicionais para contas comerciais (incluindo pagamentos,
já disponíveis em algumas regiões).
O que limita o app: O WhatsApp adota restrições ao
encaminhamento de mensagens e ao tamanho dos grupos (256 membros). Não é
possível usar o app em outros dispositivos sem que o telefone esteja ligado e
conectado à internet.
Segurança: O WhatsApp adotou a tecnologia de
criptografia do Signal em 2016, melhorando sua segurança de forma
significativa, mas não vem acompanhando os aprimoramentos do concorrente. O
código-fonte do WhatsApp é fechado.
Privacidade: É obrigatório divulgar o número de
telefone para receber e enviar mensagens de outros usuários. As mensagens do
WhatsApp são criptografadas, mas o comportamento dos usuários no app
(frequência de uso, contatos e grupos) podem ser levados em conta pelo Facebook
para modelar o perfil que determina sugestões de contato, publicidade
direcionada e outras ferramentas comerciais.
Telegram
O Telegram foi lançado em 2013 pelos irmãos Durov, uma
dupla de empreendedores da Rússia conhecida pela rede social VKontakte (VK), o
"Facebook russo". O passado do VK ainda influencia as operações do
Telegram, o que repercute em sua história e funcionamento.
Quando a VK se tornou popular na Rússia, os irmãos
Durov foram pressionados (inclusive com assédio policial) a abandonar o
controle da rede, deixando-a nas mãos de pessoas favoráveis ao governo. Os
irmãos hoje vivem exilados de seu país, viajando o mundo.
Da mesma forma, não se sabe exatamente onde o Telegram
possui seus escritórios, embora esteja juridicamente sediado no Reino Unido.
Após o Facebook anunciar mudanças na política de
privacidade do WhatsApp, o Telegram passou a ganhar popularidade, chegando a
500 milhões de usuários ativos.
O serviço é prestado por empresa privada e financiado
por Pavel Durov, um dos seus fundadores. Mas a Durov anunciou que pretende
introduzir recursos pagos em 2021, que serão voltados para empresas e usuários
avançados. Ele disse que não haverá cobrança pelos recursos já existentes no
app.
O que só ele tem: Grupos de até 200 mil membros, uso
em qualquer dispositivo sem depender da internet no celular, envio e
recebimento de mensagens sem divulgar o número do telefone, opções adicionais
para controlar a exposição de dados (para que só algumas pessoas possam ver
quando você está on-line, por exemplo), agendamento de envio de mensagens,
busca de pessoas próximas para se comunicar (este recurso exige cuidado).
O que limita o app: Não há suporte para status/stories
nem videochamadas em grupo (é possível realizar videochamadas individuais, mas
o recurso para grupos foi prometido para 2021). A maioria das vantagens do app
é viabilizada pela ausência de criptografia nas mensagens regulares e
armazenamento de dados no servidor. Ainda não está claro como o Telegram
pretende se sustentar financeiramente.
Segurança: As conversas no Telegram não são
criptografadas por padrão, sendo necessário ativá-la em conversas específicas
por meio de "chats secretos". O armazenamento das mensagens no
servidor exige cuidado para evitar a exposição das conversas (as autoridades da
Lava Jato, por exemplo, foram expostas pelo Telegram por esse motivo). O
código-fonte do aplicativo do Telegram é aberto, mas o código do servidor do
serviço é fechado, deixando-o em um meio-termo entre o Signal e o WhatsApp.
Privacidade: As mensagens, fotos e arquivos das
conversas regulares (não secretas) do Telegram ficam armazenadas no servidor do
serviço, mas o Telegram promete não compartilhar dados com terceiros e não
possui vínculos com redes de publicidade que usam esses dados para a modelagem
de perfis.
Signal
A marca do Signal está muito ligada ao nome de Moxie
Marlinspike, que criou a empresa de segurança Whisper Systems e a vendeu para o
Twitter. O nome dele, porém, é um pseudônimo. A agência de notícias Reuters já
identificou Moxie pelo nome de Matthew Rosenfeld, mas ele não faz questão de
divulgar seus dados pessoais.
A forma que o Signal prioriza a privacidade e a
segurança dos seus usuários lembra muito a personalidade do seu criador. É o
app de mensagens recomendado por personalidades como Edward Snowden (o
ex-agente da Agência Nacional de Segurança que revelou a existência de um
programa de espionagem massiva nos Estados Unidos) e Elon Musk, o bilionário
fundador da Tesla e da SpaceX.
Juridicamente, o Signal tal como existe hoje foi
fundado em janeiro de 2018. Brian Acton, um dos fundadores do WhatsApp, deixou
a empresa em 2017 após se desentender com o Facebook sobre os rumos do serviço.
Em vez de criar uma nova plataforma, ele se juntou a Moxie para reorganizar a
estrutura formal do Signal, que hoje é financiado por doações repassadas por
seus fundadores e usuários a uma mantenedora sem fins lucrativos.
A tecnologia do Signal, porém, data de 2010, quando
foi lançado o app de mensagens TextSecure. Depois foi criado o RedPhone, que
permitia fazer ligações seguras. Os dois aplicativos foram mesclados para criar
o Signal, em 2014.
O app ultrapassou a marca de 50 milhões de downloads
na Play Store e estima-se que tenha cerca de 20 milhões de usuários ativos –
sendo, por uma boa margem, o app menos popular entre os três.
O que só ele tem: Foco total em privacidade e
segurança, com grupos privados e envio de mensagens com remetente oculto
(apenas um dos participantes precisa divulgar o número para iniciar a
conversa), controles para limites de armazenamento de dados.
O que limita o app: Não há busca integrada de GIFs
animados, nem status/stories. As chamadas em grupo são limitadas a 5
participantes e grupos podem ter no máximo 1.000 contatos. O backup para
recuperar mensagens é manual e exige uma senha de 30 posições, dificultando a
restauração de mensagens após uma troca de aparelho. O smartphone precisa estar
sempre ligado e conectado para usar o Signal em outros dispositivos.
Segurança: A comunicação do Signal é criptografada
sempre que possível. O código-fonte do Signal é totalmente aberto, o que
maximiza a transparência e torna o serviço um dos preferidos para especialistas
em segurança digital. É referência em segurança de comunicações.
Privacidade: Não há recurso que mostre quando alguém
está on-line, nem o último horário em que o app foi aberto. O uso generoso de
criptografia minimiza a quantidade de informações legíveis que chegam aos
servidores do serviço, inviabilizando a coleta da maioria das informações.
Por
Altieres Rohr, no g1.globo.com
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