sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Livros restaurados revelam histórias de crianças judias que fugiram do nazismo

 

Jovens que viveram na Villa Emma em foto tirada na Palestina em 1945

Descobertos num porão em Modena, na Itália, em 2002, obras recém restauradas eram parte do acervo da mansão Villa Emma, que abrigou crianças judias entre 1942 e 1943.

 

Sobre a mesa e envoltos numa capa cinza, como presentes, estão os livros restaurados das crianças da mansão Villa Emma di Nonantola, na Itália, uma antiga residência de verão de um comendador construída em 1890 que serviu de abrigo para crianças judias que fugiram da perseguição nazista na Alemanha e Áustria em 1942 e 1943.

Os 96 livros usados pelas crianças foram descobertos em 2002 em duas caixas de madeira que estavam num porão na cidade vizinha de Modena. Em alemão, em sua maioria, mas também em inglês, italiano e hebraico, a coleção incluiu livros escolares, religiosos e sociais, além de romances e obras de autores como Heinrich Heine, Stefan Zweig e Thomas Mann, cujos livros foram proibidos pelos nazistas como "não-alemães" na primavera de 1933. Na época, 102 títulos foram queimados em mais de 90 cidades alemães.

Santuário para crianças judias

As edições antigas da Villa Emma possuem o carimbo da chamada Delasem, a Delegação para Apoio de Emigrantes Judeus – uma organização de ajuda ítalo-judaica. Essa marcação ajudou os pesquisadores a rastrear a origem da coleção encontrada em Modena.

Em julho de 1942, a mansão foi alugada pela Delasem. Um grupo de 41 crianças e jovens judeus da Alemanha e da Áustria foi acomodado ali. Inicialmente, a judia berlinense Recha Freier levara as crianças, na maioria órfãs, para Zagreb. Da Croácia, eles fugiram para Nonantola, na Itália, passando pela Eslovênia. Em 1943, mais órfãos chegaram à Villa Emma.

 

Bem recebidos pela população local

Apesar das leis nazistas racistas, os refugiados foram calorosamente recebidos pela população local. "Quando eles nos viam, eles diziam: ‘que criança bonita você é'. Eles nos davam maçãs recém-colhidas e outras frutas", lembrou uma testemunha no documentário As crianças da Villa Emma, da emissora pública alemã ARD.

Na mansão, as crianças tinham aulas, aprendiam agricultura e tinham contato próximo com os residentes de Nonatola. Quando tropas alemãs invadiram a Itália em setembro de 1943, os moradores do vilarejo esconderam as 73 crianças e os 13 cuidadores.

Mais tarde, pela Suíça, eles conseguiram fugir para a Palestina. Alguns foram para os Estados Unidos ou voltaram para a antiga Iugoslávia. Com exceção de um menino que tinha tuberculose e que foi posteriormente deportado para o campo de extermínio de Auschwitz, todas as outras crianças da mansão sobreviveram ao Holocausto. Alguns dos cuidadores chegaram a ser presos enquanto organizavam o transporte de outros refugiados e provavelmente foram mortos em Auschwitz.

No total, a organização fundada por Freier em 1933, a Youth Aliyah, ajudou mais de 7.600 crianças e jovens judeus a fugir da Alemanha e Áustria para a Palestina.

Histórias marcantes

A história das crianças da Villa Emma já serviu de base para várias obras, bastante populares nas escolas. Um exemplo é documentário As crianças da Villa Emma – um resgate milagroso na guerra, de Bernhard Pfletschinger e Aldo Zappala, que entrevistou testemunhas de Nonantola e alguns que fugiram de lá.


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Em 2016, o historiador berlinense Klaus Voigt escreveu o livro Villa Emma: Crianças judias em fuga 1940 até 1945, para o qual ele pesquisou detalhadamente a operação de ajuda aos jovens. No mesmo ano, o diretor austríaco Nikolaus Leytner contou o drama das crianças no filme Nós estamos vivos.

Testemunho de uma era

Por meio da leitura dos livros restaurados da antiga biblioteca da Villa Emma é possível adquirir mais conhecimentos sobre esse período. Especialistas da empresa Formula Servizi passaram anos restaurando essas obras. "Seus títulos revelam uma imagem da cultura da Europa Central entre a década de 1930 e início da de 1940", diz a empresa em seu site.

Segundo a Formula Servizi, as obras testemunham um período de debates sociais, políticos e culturais, abordando tanto problemas educacionais e teorias do feminismo, quanto conceitos de pátria e nação, assim como a Palestina como local de saudade judaico. "É um tesouro da nossa história, que será um pedaço significativo da memória de uma comunidade e sua solidariedade".

A Villa Emma hoje

Atualmente, a mansão Villa Emma é um espaço que recebe eventos culturais e conferências. Durante muito tempo, a história de resgate do local havia caído no esquecimento. Em 2004, apoiada por autoridades locais e religiosas, foi criada a Fundação Villa Emma para as Crianças Judias Salvas, que visa desenvolver "novas formas de convivência e confronto" contra o racismo e violações de direitos humanos.

O foco do trabalho está em crianças que sofrem com guerras, perseguição e fugas. O destino das crianças refugiadas da Villa Emma está documentado em uma exposição permanente. A fundação organiza cursos de formação profissional, conversas com testemunhas e encontros interculturais.

Já amizade entre as antigas crianças da Villa Emma e moradores de Nonantola persiste até hoje.

Por Gaby Reucher, na Deutsche Welle


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