O que está acontecendo em escolas alemães durante pandemia é inacreditável. Professores e alunos pagam o preço pela política ter dormido durante anos na questão da digitalização.
As
férias terminaram e as aulas começaram. No lockdown, isso significa ensino a
distância. Na era digital, obviamente nenhum problema: todos sentam em casa na
frente de seus computadores, conectados a uma autobahn de dados. Os alunos se
encontram em salas de aula virtuais das plataformas de ensino digital, onde
acontecem as videoconferências das aulas, lições são feitas de maneira
interativa e até mesmo provas pode ser realizadas no modo online.
Pare!
No país industrializado de alta tecnologia Alemanha, milhões de alunos e
professores podem somente gargalhar amargamente com essa descrição. Para eles,
isso é uma utopia com a qual podem apenas sonhar. Na maioria das escolas alemãs
o ensino hoje ocorre da mesma forma como há 30 anos: com quadro-negro, giz e
retroprojetor que projeta textos e imagens na parede.
País em desenvolvimento digital
Também
falta de tudo que seria necessário para um bom ensino a distância: laptops e
tablets suficientes para todos que não têm acesso a um aparelho para uso
próprio em casa. Cursos de formação técnica e didática para professores e uma
infraestrutura digital, que possibilite aulas remotas. Em onze meses de
pandemia, pouco disso mudou.
Apenas
um terço de todas as escolas alemãs possuiu conexão de banda larga e Wi-Fi
abrangente. Em casa não é muito melhor para muitos alunos e professores.
Especialmente nas regiões rurais da Alemanha as conexões de dados falham,
quando sobretudo existem. O software de comunicação, a cloud de ensino, ainda
está na pré-escola. Plataformas comerciais como Microsoft Teams, Zomm, entre
outras, são em grande parte um tabu para as escolas alemãs, porque seus
servidores estão localizados em países não europeus, onde a proteção de dados
não é suficientemente garantida.
Cada estado segue seu caminho próprio
Há
tempos tem sido trabalhado na construção de um sistema próprio conectado a um
servidor alemão. Uma ideia basicamente boa, mas num país organizado
federativamente como a Alemanha, os estados não conseguiram chegar a um acordo
sobre um sistema uniforme. Em vez de unir forças, há agora várias redes no
país, nenhuma, porém, totalmente desenvolvida. Os servidores muito pequenos,
que caem sob uma carga muita pesada, são um problema. A frustação e raiva são
grandes. Bom ensino a distância parece diferente.
O
desenvolvimento digital de escolas começou muito tarde na Alemanha. Apenas em
2016, a Conferência de Secretários de Educação, responsável pela política
educacional, apresentou uma estratégia neste sentido. Com planos igualmente
elevados. Eles propuseram um ambiente de aprendizagem digital para todos até, o
mais tardar, 2021. Dinheiro para isso eles, porém, não tinham.
E veio o coronavírus
Os
recursos foram disponibilizados pelo governo alemão apenas no início de 2019,
na forma de um pesado acordo digital de 5 bilhões de euros. Com a liberação de
verbas condicionada a apresentação de um conceito digital pelas escolas. Mas a
maioria delas não tinha isso e, então, veio o coronavírus. Em junho de 2020,
foram transferidos para escolas os primeiros 15 milhões de euros do pacto
digital.
Um
fracasso embaraçoso, cuja política é a principal responsável. Secretários da
Educação, porém, não admitem isso. Eles ainda não conseguem oferecer soluções
de curto prazo, por exemplo, transferir aulas para teatros ou salas de
concertos ou engajar estudantes que estão cursando licenciaturas.
Aulas presenciais a todo custo?
Ao
invés disso, durante meses, eles agiram como se o coronavírus fizesse uma
grande curva nas escolas se as janelas fossem mantidas abertas e as salas
ventiladas. Eles declararam desnecessárias regras de distanciamento para que
aulas em salas apertadas pudessem ser mantidas. Eles falavam ainda sobre locais
seguros mesmo quando estudos comprovaram há tempos que crianças e jovens também
poderiam se infectar facilmente com o coronavírus assim como adultos.
Uma
farsa especial foi apresentada pela secretária de educação de Berlim. Embora
governadores e a chanceler federal da Alemanha tenham estendido o lockdown para
toda a Alemanha até o final de janeiro e diante o grande número de infecções
que também deveria valer para as escolas, Sandra Scheeres ordenou no dia
seguinte o retorno das aulas presenciais para algumas turmas.
Abordagem cínica
Alunos,
professores e pais se revoltaram contra a decisão. Com uma petição online, eles
reuniram em pouco tempo 10 mil assinaturas e entraram com um processo contra a
medida. Sem sucesso. No fim, a liderança do Partido Social-Democrata (SPD) de
Berlim interveio e parou sua própria secretária no último segundo. Mas ao invés
de cancelar toda a ação, Scheeres empurrou a responsabilidade para diretores de
escolas, que deveriam junto com pais decidir se as aulas seriam remotas ou não.
Que
declaração de insolvência política. Em vez de liderar, ou seja, ponderar de
maneira inteligente com base em fatos e decidir sabiamente, a secretária de
educação se exime completamente de sua responsabilidade. Um atestado de
pobreza. Mas isso não é novidade em Berlim. Há meses tudo é prometido para as
escolas e nada é entregue. Seja filtros de ar para as salas de aula ou testes
rápidos de covid-19 para professores. As escolas foram deixadas sozinhas com
seus problemas. A secretária chama isso de responsabilidade pessoal. Isso não
soa somente cínico, como é.
Política educacional catastrófica
Pais,
alunos e professores não conseguiram garantir que as escolas fiquem fechadas
até o fim de janeiro em todos os estados alemães. Principalmente, alunos dos
últimos anos precisam ir para a escola, porque não têm nenhuma alternativa
digital e não passariam nas provas finais. Outros se ajudam com tarefas
enviadas por e-mail e conversas telefônicas. É uma catástrofe em termos de
política educacional.
Por Sabine Kinkartz, na
Deutsche Welle
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