Detenção do ativista russo gera onda de condenações no Ocidente, sendo classificada como tentativa inaceitável de silenciar o crítico de Putin que foi alvo de envenenamento. Juiz determina prisão preventiva por 30 dias.
A União Europeia, líderes de vários
países da Europa, os Estados Unidos e o Canadá condenaram a prisão do ativista
russo Alexei Navalny, um dos principais opositores do presidente Vladimir
Putin, e exigiram sua libertação imediata. Alguns representantes europeus
defenderam sanções contra a Rússia.
Navalny foi detido logo após
desembarcar em Moscou neste domingo (17/01), ao retornar ao país natal pela
primeira vez desde que foi envenenado na Sibéria em agosto de 2020. Um juiz de
Moscou determinou nesta segunda-feira 30 dias de prisão preventiva para o
opositor.
Navalny chegou a Moscou vindo da
Alemanha, onde passou os últimos cinco meses se recuperando do ataque com um
agente neurotóxico que ele atribuiu ao governo russo. O Kremlin, por sua vez,
nega qualquer participação no envenenamento.
O ministro do Exterior alemão,
Heiko Maas, classificou a detenção de "totalmente incompreensível” e pediu
que a Rússia liberte o ativista imediatamente. "Navalny tomou a decisão
consciente de retornar à Rússia porque vê o país como seu lar pessoal e político”,
disse Maas.
"A Rússia está vinculada por
sua própria Constituição e por compromissos com o princípio do Estado de
direito e a proteção dos direitos civis. Estes princípios também devem,
naturalmente, ser aplicados a Alexei Navalny", acrescentou o ministro
alemão.
A Alemanha também exige que a
Rússia investigue o envenenamento e leve os perpetradores à Justiça, disse
Maas.
Europa:
"Inaceitável e chocante"
O presidente do Conselho Europeu,
Charles Michel, classificou a prisão de "inaceitável". "A detenção
de Alexei Navalny na chegada a Moscou é inaceitável. Peço às autoridades russas
que o libertem imediatamente", escreveu Michel no Twitter.
A presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, também se juntou ao coro internacional. "Condeno a
detenção de Alexei Navalny. As autoridades russas devem libertá-lo
imediatamente e garantir sua segurança", disse. Von der Leyen repetiu o
apelo de Bruxelas para uma investigação independente sobre um atentado contra a
vida do opositor.
O ministro britânico do Exterior,
Dominic Raab, condenou a prisão como "chocante", pedindo a libertação
imediata do crítico do Kremlin. "É terrível que Alexei Navalny, vítima de
um crime desprezível, tenha sido detido pelas autoridades russas",
escreveu Raab no Twitter. "Ao invés de perseguir Navalny, a Rússia deveria
explicar como uma arma química veio a ser usada em solo russo."
O Ministério do Exterior da França
e o ministro do Exterior a Polônia, Zbigniew Rau, também pediram a libertação
do ativista. "Expresso minha solidariedade com todo o povo russo que
compartilha os ideais do líder da oposição russa detido", acrescentou Rau.
"Alexei, não desista!"
O primeiro-ministro da Polônia,
Mateusz Morawiecki, também se manifestou. "A detenção de Navalny é mais
uma tentativa de intimidar a oposição democrática na Rússia. Uma resposta
rápida e inequívoca da UE é essencial. Respeito pelos direitos dos cidadãos é a
pedra angular da democracia", disse o premiê no Twitter.
Os governos da Lituânia, Letônia e
Estônia, membros da União Europeia (UE), também pediram a soltura de Navalny e
a "imposição de medidas restritivas" contra a Rússia.
"A detenção de Navalny pelas
autoridades russas é completamente inaceitável. Exigimos sua libertação
imediata", escreveu no Twitter o ministro do Exterior lituano, Gabrielius
Landsbergis. "A UE deve agir rapidamente, e se ele não for libertado,
precisamos considerar a imposição de medidas restritivas em resposta a esse ato
flagrante."
EUA e
Canadá exigem explicação para envenenamento
O secretário de Estado sob o
presidente Donald Trump, Mike Pompeo, disse que os EUA "condenam
severamente" a detenção, que chamou de "a última de uma série de
tentativas para silenciar Navalny e outra figuras da oposição e vozes
independentes críticas às autoridades russas".
Jake Sullivan, escolhido pelo
presidente eleito dos EUA, Joe Biden, como conselheiro de segurança nacional,
também defendeu que Navalny seja solto. "Navalny deve ser imediatamente
libertado, e os perpetradores do ataque ultrajante à sua vida devem ser
responsabilizados", tuitou.
O Canadá classificou a prisão do
ativista russo de "inaceitável". "As autoridades russas devem
liberá-lo imediatamente. Isso é inaceitável e vamos continuar a exigir uma
explicação para seu envenenamento", acrescentou disse o ministro do
Exterior canadense, Marc Garneau, no Twitter.
Grupos de direitos humanos também
se manifestaram. A Anistia Internacional acusou as autoridades russas de
adotarem uma "campanha implacável" para silenciar Navalny.
O que
argumentam as autoridades russas
Em comunicado, o serviço
penitenciário federal da Rússia, FSIN, afirmou no domingo que Navalny foi
detido por "múltiplas violações" de uma sentença de liberdade
condicional de sete anos atrás, e que ele seria mantido sob custódia até uma
decisão judicial sobre o caso.
Em 2014, o ferrenho crítico do
Kremlin foi condenado por fraude, num processo considerado politicamente
motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
O Ministro do Exterior russo,
Serguei Lavrov, disse nesta segunda que as reações à prisão da Navalny por
parte do Ocidente refletem uma tentativa "de desviar a atenção da crise do
modelo ocidental de desenvolvimento''.
Lavrov afirmou que a Alemanha não
forneceu à Rússia provas de que o crítico de Putin foi envenenado e que a
Rússia não viu motivos para abrir uma investigação criminosa.
A porta-voz do Ministério do
Exterior russo Maria Zakharova rebateu as críticas pedindo que líderes
estrangeiros respeitem a legislação internacional e lidem com os problemas de
seus próprios países.
Navalny:
"Maior grau de desrespeito à lei"
Na manhã desta segunda, um aliado
próximo de Navalny afirmou que o ativista estava detido na cidade de Khimki,
nos arredores de Moscou, onde ainda aguardava para ver seus advogados. Pouco
depois, o ativista foi conduzido a uma audiência dentro de uma delegacia de
polícia.
Em um vídeo gravado dentro da
delegacia, Navalny aparece classificando a ação de "o maior grau de
desrespeito à lei" e acusando Putin de violar o código penal do país.
Apesar da onda de condenação
internacional, um juiz determinou, então, a prisão preventiva do ativista por
30 dias, até 15 de fevereiro, por violação da antiga sentença de liberdade
condicional. Outra audiência para rever a sentença e possivelmente condenar o
opositor a anos de prisão, foi marcada para 29 de janeiro.
Em resposta, Navalny convocou
protestos em massa para o próximo sábado. "Não há nada que estes ladrões
em seus bunkers temam mais do que as pessoas nas ruas", disse.
O
envenenamento
Navalny, de 44 anos, foi
transportado de avião em coma para tratamento médico em Berlim em agosto
passado, após sobreviver a uma tentativa de assassinato com o agente nervoso
Novichok na Sibéria.
Moscou vem rechaçando todas as
imputações de ter envenenado o ativista anticorrupção, embora cientistas da
Alemanha, Suécia e França tenham atestado nele vestígios de Novichok –
diagnóstico confirmado por testes da Organização para a Proibição de Armas Químicas
(Opaq).
Além disso, alegando pertencer ao
serviço de inteligência russo FSB, o próprio Navalny gravou um telefonema com
um agente que admitiu ter participado do atentado com a substância tóxica
procedente da era soviética. Moscou alega que a gravação é falsa.
O envenenamento do oposicionista
russo e seu posterior tratamento na Alemanha têm sido objetos de atrito entre a
Rússia e a União Europeia. No fim de 2020, a UE impôs proibições de ingresso e
congelou as contas bancárias de diversas autoridades russas, entre as quais o
diretor do FSB, Alexander Bortnikov.
Na Deutsche Welle
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