Responsável por movimentar bilhões no mundo, a produção
de games começa a se estruturar e cresce a passo seguro no
Brasil. Dados do Global Games Market Report 2017, da Newzoo, empresa que
realiza pesquisas sobre a indústria de games, mostram que o Brasil ocupa o 13°
lugar no ranking de países que mais geraram receita no setor, com estimativa de
US$ 1,3 bilhão para este ano. No mundo, é esperado que o mercado movimente US$
108,9 bilhões em 2017.
De olho no potencial desse filão, a Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos (Apex Brasil) firmou parceria com a Associação
Brasileira das Empresas Desenvolvedoras de Games (Abragames). As duas entidades
criaram o projeto Brazilian Game Developers, com o objetivo de desenvolver e
promover a indústria local de games no exterior.
“Em 2013 a Apex começou a parceria com esse setor.
Aconteceu um mapeamento estratégico dos pólos criadores de games no
país. Foi quando a gente começou a entender quem eram as empresas, onde elas
estavam”, relata Mariana Gomes, gestora de Projetos da Apex Brasil.
Segundo dados da agência de fomento, em 2015 os estúdios
brasileiros desenvolvedores de games que recebem assistência do projeto
fecharam US$ 11 milhões em negócios internacionais. Em 2016 esse número
aumentou para US$ 17,4 milhões, um incremento de 58%. Os resultados de 2017
ainda estão sendo consolidados e só serão divulgados em março de 2018.
Editais
Mariana Gomes afirma que a expectativa é que a cifra deste
ano supere os resultados do anterior. Ela vê 2017 como “o ano dos games brasileiros”.
“Muito do que aconteceu de 2013 até aqui foi produção e desenvolvimento de
jogos. A gente está entrando agora na fase de lançamento deles”, explica.
Mariana informa que, também neste ano, a Agência Nacional do Cinema (Ancine)
lançou dois editais totalizando R$ 20 milhões em recursos para empresas
criadoras de games.
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa
pública destinada a estimular a ciência, também lançou um edital no valor de R$
15 milhões. Segundo Mariana Gomes, são os primeiros editais específicos para
estúdios desenvolvedores de games.
“O primeiro edital [da Ancine] totalizou R$ 10 milhões
apoiou 25 jogos em três categorias diferentes: ao custo de R$ 250 mil, R$ 500
mil e R$ 1 milhão para serem desenvolvidos. Com o outro edital que está
rodando, no mesmo valor, vêm mais 25 jogos nessas três categorias. O dinheiro
da Ancine entrou pra desenvolvimento do jogo e o da Finep para a empresa se fortalecer”,
destacou.
Tipos de games
O Brasil não tem estúdios com orçamento e estrutura para
produzir os chamados games Triple A, categoria utilizada
para se referir aos jogos com muito dinheiro envolvido na produção e que se
tornam grandes sucessos. Segundo Mariana Gomes, os jogos brasileiros se
enquadram na classificação indie games, com recursos mais modestos
para o desenvolvimento.
Ainda assim, de acordo com ela, os games do
Brasil têm tido um bom desempenho. “A gente tem alguns exemplos clássicos de cases de
sucesso internacional. Um estúdio de Porto Alegre, o Aquiris Game Studio,
lançou o Horizon Chase, um jogo de corrida de carros vintage [antigos]. Outro
jogo deles, chamado Ballistic Overkill, é um jogo em primeira pessoa online”,
cita.
Há também os jogos educacionais, como o Enem Game.
Desenvolvido pela empresa capixaba Mito Games, o jogo funciona fornecendo
recompensas aos jogadores que acertarem perguntas sobre o conteúdo do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem). Marcelo Herzog, sócio-fundador e diretor
administrativo da empresa, explica que o projeto foi apresentado pela primeira
vez a uma incubadora de empresas visando o mercado nacional. O modelo, no
entanto, já despertou o interesse de investidores no exterior.
“Demorou a dar rentabilidade. Começou com uma versão
gratuita, que a gente monetizava através de publicidade. Então a gente
desenvolveu a versão premium, que hoje a gente vende para as
escolas. Todos os alunos do ensino médio têm a versão premium e
a escola tem um painel administrativo de onde consegue extrair dados sobre o
desempenho no jogo”, explica Herzog.
Segundo ele, o objetivo dos desenvolvedores é que o jogo
educacional não fique restrito ao Enem. “Independentemente de existir ou não
uma prova de acesso, o Enem Game é uma boa ferramenta de estudo. Agora para o
ano que vem, durante o período de férias, a gente vai focar no desenvolvimento
da versão para o ensino fundamental. Mais para o futuro, a gente pensa em
inserir conteúdo para concursos”, informa.
Ganhar o mercado internacional também está nos planos da
empresa. A Mito Games já participou de viagens para divulgação do produto em
encontros de negócios. “Houve uma procura de um instituto na Alemanha e meu
sócio já esteve um evento em Bruxelas em que o pessoal se interessou”, disse ele,
ressaltando que a companhia também desenvolve jogos de tabuleiros. “A gente
está se preparando para ficar internacional, nos jogos digitais e físicos”,
destacou.
Negócios
Mariana Gomes, da Apex Brasil, explica que os modelos de
negócio que desenvolvedores de games podem fechar no mercado internacional são
variados. É possível firmar um contrato para disponibilizar o jogo em lojas de
aplicativos para celular, por exemplo. Nesse caso, é possível cobrar pelo
download ou lançar uma versão grátis mas com conteúdos periódicos pagos.
Outra alternativa, geralmente usada no caso de games para plataforma externa (videogames), é um contrato de distribuição com uma empresa internacional, que fará a publicidade do jogo no exterior. Por fim, alguns grandes estúdios subcontratam parte do desenvolvimento do game: uma empresa brasileira pode ser responsável pela música, por exemplo.
EBC
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