quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Wired Festival Brasil: ‘O governo brasileiro não quer ouvir os povos indígenas’, diz Alice Pataxó


“(...) Os métodos tradicionais indígenas são o que há de mais eficiente de preservar a natureza e frear o aquecimento global e as mudanças climáticas (...)”

 

A ativista indígena Alice Pataxó, de 19 anos, impressiona o mundo: da Nobel da Paz Malala Yousafzai à prefeita de Paris Anne Hidalgo. Ela discursou no encerramento da COY16, espécie de versão jovem da COP26, e destacou a importância de uma atuação conjunta para preservar o meio ambiente. Amanhã, ela participa do debate “Mudanças climáticas e o impacto na desigualdade para as mulheres”, no Wired Festival Brasil, com a cientista Rayana Burgos e a advogada Priscilla Santos.

O Wired Festival Brasil começa nesta quarta-feira (1º) e termina na quinta (2). O tema desta edição é “The lab of us” (algo como “nós somos nosso próprio laboratório”). Além de debates com nomes de peso, o público terá acesso a atividades oferecidas pelos patrocinadores do evento, food trucks e até um happy hour. Para assistir aos debates, é necessário se inscrever no site http://www.ingressocerto.com/wired-festival-brasil. Os ingressos são gratuitos, porém limitados. O Wired Festival Brasil é uma realização Edições Globo Condé Nast e O GLOBO, com apresentação de Invest.Rio | Prefeitura RJ e patrocínio de C&A, Draft Line e Unico.


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Qual a relação entre as mudanças climáticas e o aumento da desigualdade das mulheres?

As mudanças climáticas vêm forçando comunidades tradicionais a mudarem seus costumes. Muitas meninas são obrigadas a sair da escola, parar de estudar, para cuidar da família.

Você discursou no encerramento da COY16, reuniu-se com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e foi elogiada por Malala nas redes sociais. Quão importante é a visibilidade internacional do seu trabalho num momento em que os direitos dos povos indígenas estão sob ataque no Brasil?

O governo brasileiro não quer ouvir os povos indígenas. Tentamos a todo custo promover o diálogo. Representatividade indígena tem a ver com a construção do futuro. É por isso que a participação da juventude e das mulheres indígenas é tão importante. Este ano, pela primeira vez, uma mulher indígena, a Txai Suruí, discursou na abertura da COP26. E outra mulher indígena discursou no encerramento da COY16. Para mim, foi muito importante estar ali, não apenas como Alice Pataxó, mas como representante dos povos indígenas. Precisamos conscientizar também as pessoas de fora do Brasil que possam exercer influência sobre as medidas tomadas pelo governo.

Você usa as redes sociais para combater os estereótipos associados aos povos indígenas. Como avalia o resultado desse trabalho?

Positivamente. A juventude indígena precisa se posicionar e se apropriar das nossas origens. Por muito tempo, fomos tratados como se o que tínhamos a dizer não pudesse beneficiar a sociedade como um todo.

Os saberes tradicionais dos povos indígenas também podem inspirar a inovação?

Com certeza. Já passou da hora de nós nos conectarmos com as raízes do nosso país, com todas as culturas locais, para além da sabedoria indígena. Os métodos tradicionais indígenas são o que há de mais eficiente de preservar a natureza e frear o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Ruan de Sousa Gabriel, O Globo


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