sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Alemanha expulsa dois diplomatas russos após julgamento por assassinato ordenado por Moscou em Berlim

Sala do tribunal de Berlim que condenou um homem à prisão perpétua pelo assassinato de um exilado checheno por ordem da Rússia (AFP/Christophe Gateau)

    A Alemanha anunciou, nesta quarta-feira (15), a expulsão de dois diplomatas russos após a condenação em Berlim de um cidadão russo pelo assassinato em 2019 de um ex-líder checheno, um crime ordenado por Moscou, segundo a Justiça.

 

As autoridades russas estimaram que este veredicto - que poderia acentuar as tensões diplomáticas com a Alemanha - é uma "decisão política".

Nesta quarta-feira, um tribunal de Berlim determinou que o assassinato de um exilado checheno em 2019 foi ordenado pela Rússia.

A Justiça condenou à prisão perpétua Vadim Krasikov, conhecido como Vadim Sokolov, por assassinar a tiros Tornie Kavtarashvili, de 40 anos, em um parque em pleno centro de Berlim em 23 de agosto de 2019.

"As autoridades russas deram ao acusado a ordem para liquidar a vítima", disse o presidente do tribunal, Olaf Arnoldi, após a condenação do réu russo Vadim Krasikov por ter matado um ex-líder separatista checheno de origem georgiana.

A nova ministra das Relações Exteriores alemã Annalena Baerbock, que prometeu adotar um tom mais firme com a Rússia, anunciou que dois membros da delegação diplomática russa foram declarados "persona non grata".

A máxima responsável da diplomacia alemã afirmou que este assassinato cometido em agosto de 2029, à luz do dia em Berlim, foi "um atentado grave à soberania do Estado".

A Rússia - que nega qualquer envolvimento no crime - denunciou imediatamente a decisão da justiça como um veredicto "político".

"Consideramos que este veredito não é objetivo, que é uma decisão política que afeta seriamente as relações russo-alemãs, que sem isso já eram difíceis", disse o embaixador russo em Berlim, Serguei Netshaevm, em nota.

"Isso nos deixa profundamente preocupados, representa um ato não amigável evidente e não ficará sem resposta", continuou.

A sangue frio

O assassinato de Kavtarashvili piorou as já tensas relações entre Alemanha e Rússia.

Pouco depois desse assassinato, o governo da então chanceler Angela Merkel expulsou dois diplomatas russos em protesto pelo o que considerava uma falta de cooperação de Moscou nas investigações sobre o caso.

A Rússia, que nega qualquer envolvimento no assassinato, respondeu com uma medida de represália semelhante.

Segundo a Promotoria alemã, o condenado atirou duas vezes contra a vítima, com uma pistola equipada com um silenciador, e depois atirou na cabeça quando já estava no chão.

Krasikov foi detido pouco depois.

Durante o julgamento, a Promotoria alemã já havia acusado claramente as autoridades russas.

"O acusado foi comandante de uma unidade especial dos serviços secretos russos FSB", afirmou o promotor Lars Malkies, em 7 de dezembro.

"Ele liquidou um opositor político em represália", acrescentou, referindo-se a "um ataque evidentemente preparado há muito tempo" e executado a "sangue frio".

Mas o acusado disse durante o processo, por meio de seu advogado, que é Vadim Sokolov, "russo, solteiro e engenheiro" e se recusou a ser chamado Krasikov. "Não conheço ninguém com esse nome", alegou.

"Cruel e sanguinário"

Ex-líder separatista checheno, o georgiano lutou contra as forças russas entre 2000 e 2004. Morava com sua família na Alemanha desde 2016, onde havia pedido asilo. Seu assassino foi preso pouco depois.

Embora o Kremlin negue estar por trás desse assassinato, o presidente russo, Vladimir Putin, classificou a vítima como um "combatente muito cruel e sanguinário". Disse ter pedido sua extradição, que foi negada por Berlim.

O envolvimento de Moscou nunca foi comprovado, e o Kremlin sempre negou qualquer responsabilidade por esses atos.

Esta decisão da Justiça ocorre poucos dias depois da posse do novo governo alemão, em meio a crescentes tensões entre Rússia e os países ocidentais em relação à Ucrânia.

O novo chanceler alemão Olaf Scholz alertou que a Rússia pagará um "preço alto" em caso de vioalção das fronteiras ucranianas.

Estados Unidos, os europeus e Kiev acusam o Kremlin de preparar uma invasão à Ucrânia, algo que o Kremlin nega.

Femke Colborne com Michelle Fitzpatrick, AFP



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