O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, obteve nesta quinta-feira (18) o apoio do seu homólogo turco contra a Rússia e apelou à ONU para "garantir a segurança" da central nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pelos russos e alvo de bombardeios.
"Enquanto continuamos
nossos esforços para encontrar uma solução [para o conflito], continuamos do
lado de nossos amigos ucranianos", disse o presidente turco, Recep Tayyip
Erdogan, após se encontrar com Zelensky em Lviv (oeste da Ucrânia).
Zelensky considerou a visita
de Erdogan uma "forte mensagem de apoio, vinda de um país tão
poderoso", e descartou qualquer acordo de paz sem a retirada prévia das
tropas russas.
"Pessoas que matam,
estupram, bombardeiam civis todos os dias em nossas cidades com mísseis de
cruzeiro não podem querer a paz", declarou ele, depois que Erdogan
garantiu que a Rússia estava "pronta para algum tipo de paz".
"Primeiro [os russos]
devem sair do nosso território e depois veremos", disse Zelensky.
Desde a invasão russa da
Ucrânia em 24 de fevereiro, Erdogan se estabeleceu como mediador. Embora
condenasse a ofensiva, ele tentou permanecer neutro e se recusou a aderir às
sanções impostas pelos países ocidentais contra Moscou.
- "Um suicídio"
nuclear-
Em Lviv, Zelensky também se
reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, que se declarou
"profundamente preocupado" com a situação na usina nuclear de
Zaporizhzhia (no sul), ocupada por tropas russas desde março e alvo de
bombardeios, dos quais russos e ucranianos se acusam mutuamente.
"Devemos dizer as
coisas como são: qualquer dano potencial a Zaporizhzhia seria suicídio",
alertou Guterres.
Zelensky pediu à ONU que
garantisse "a segurança deste local estratégico" e acusou a Rússia de
realizar uma política de "terror deliberado" que poderia ter
"consequências catastróficas para o mundo inteiro".
A Ucrânia garante que a
Rússia armazena armas pesadas na central, a maior da Europa, e que de lá
bombardeia posições ucranianas.
Também acusa as tropas
russas de disparar contra setores da usina para atribuir esses bombardeios à
Ucrânia.
"Não queremos outra
Chernobyl", disse Erdogan, referindo-se ao acidente nesta usina ucraniana
em 1986, o pior da história nuclear civil.
- Aumentar exportações de
grãos -
Erdogan e Guterres foram os
principais intermediários do acordo fechado em julho entre Moscou e Kiev para
retomar as exportações de grãos através do Mar Negro.
Cerca de 20 milhões de
toneladas de grãos foram bloqueadas nos portos da região de Odessa pela
presença de navios de guerra russos e minas colocadas por Kiev para defender
sua costa.
Segundo a ONU, entre 1º e 15
de agosto, foi autorizada a saída de 21 graneleiros, transportando um total de
563.317 toneladas de matérias-primas agrícolas, incluindo 451.481 toneladas de
milho.
Além disso, o primeiro navio
humanitário fretado pela ONU, carregado com 23.000 toneladas de trigo, deixou a
Ucrânia na terça-feira rumo à África.
A ONU tentará aumentar ainda
mais as exportações de grãos ucranianos, cruciais para o abastecimento de
alimentos de muitos países africanos.
Segundo o Programa Alimentar
Mundial (PAM), 345 milhões de pessoas em 82 países enfrentam insegurança
alimentar aguda - um número recorde - e cerca de 50 milhões de pessoas em 45
países correm o risco de passar fome se não receberem ajuda humanitária.
"Faremos tudo o que
pudermos para intensificar nossas operações e, assim, enfrentar as dificuldades
do próximo inverno", disse Guterres após a reunião com Zelensky e Erdogan.
No campo de batalha, os
combates continuam, deixando novas vítimas civis. A Ucrânia relatou pelo menos
seis mortos e 25 feridos no bombardeio russo de Kharkiv (nordeste) na manhã desta
quinta-feira. Na véspera, Kharkiv já havia sido alvo de atentados, nos quais 13
pessoas morreram, segundo as autoridades locais.
As tropas russas tentaram
chegar a Kiev nas primeiras semanas da invasão, mas foram repelidas e desde
então concentram sua operação principalmente no leste e sul do país, com o
apoio de forças separatistas pró-russas.
AFP, Dmytro GORSHKOV com
Thibault MARCHAND em Kiev
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