sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Ucrânia obtém apoio turco contra Rússia e pede proteção de usina nuclear à ONU


O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, obteve nesta quinta-feira (18) o apoio do seu homólogo turco contra a Rússia e apelou à ONU para "garantir a segurança" da central nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pelos russos e alvo de bombardeios.

 

"Enquanto continuamos nossos esforços para encontrar uma solução [para o conflito], continuamos do lado de nossos amigos ucranianos", disse o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, após se encontrar com Zelensky em Lviv (oeste da Ucrânia).

Zelensky considerou a visita de Erdogan uma "forte mensagem de apoio, vinda de um país tão poderoso", e descartou qualquer acordo de paz sem a retirada prévia das tropas russas.

"Pessoas que matam, estupram, bombardeiam civis todos os dias em nossas cidades com mísseis de cruzeiro não podem querer a paz", declarou ele, depois que Erdogan garantiu que a Rússia estava "pronta para algum tipo de paz".

"Primeiro [os russos] devem sair do nosso território e depois veremos", disse Zelensky.

Desde a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro, Erdogan se estabeleceu como mediador. Embora condenasse a ofensiva, ele tentou permanecer neutro e se recusou a aderir às sanções impostas pelos países ocidentais contra Moscou.

- "Um suicídio" nuclear-

Em Lviv, Zelensky também se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, que se declarou "profundamente preocupado" com a situação na usina nuclear de Zaporizhzhia (no sul), ocupada por tropas russas desde março e alvo de bombardeios, dos quais russos e ucranianos se acusam mutuamente.

"Devemos dizer as coisas como são: qualquer dano potencial a Zaporizhzhia seria suicídio", alertou Guterres.

Zelensky pediu à ONU que garantisse "a segurança deste local estratégico" e acusou a Rússia de realizar uma política de "terror deliberado" que poderia ter "consequências catastróficas para o mundo inteiro".

A Ucrânia garante que a Rússia armazena armas pesadas na central, a maior da Europa, e que de lá bombardeia posições ucranianas.

Também acusa as tropas russas de disparar contra setores da usina para atribuir esses bombardeios à Ucrânia.

"Não queremos outra Chernobyl", disse Erdogan, referindo-se ao acidente nesta usina ucraniana em 1986, o pior da história nuclear civil.

- Aumentar exportações de grãos -

Erdogan e Guterres foram os principais intermediários do acordo fechado em julho entre Moscou e Kiev para retomar as exportações de grãos através do Mar Negro.

Cerca de 20 milhões de toneladas de grãos foram bloqueadas nos portos da região de Odessa pela presença de navios de guerra russos e minas colocadas por Kiev para defender sua costa.

Segundo a ONU, entre 1º e 15 de agosto, foi autorizada a saída de 21 graneleiros, transportando um total de 563.317 toneladas de matérias-primas agrícolas, incluindo 451.481 toneladas de milho.

Além disso, o primeiro navio humanitário fretado pela ONU, carregado com 23.000 toneladas de trigo, deixou a Ucrânia na terça-feira rumo à África.

A ONU tentará aumentar ainda mais as exportações de grãos ucranianos, cruciais para o abastecimento de alimentos de muitos países africanos.

Segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), 345 milhões de pessoas em 82 países enfrentam insegurança alimentar aguda - um número recorde - e cerca de 50 milhões de pessoas em 45 países correm o risco de passar fome se não receberem ajuda humanitária.

"Faremos tudo o que pudermos para intensificar nossas operações e, assim, enfrentar as dificuldades do próximo inverno", disse Guterres após a reunião com Zelensky e Erdogan.

No campo de batalha, os combates continuam, deixando novas vítimas civis. A Ucrânia relatou pelo menos seis mortos e 25 feridos no bombardeio russo de Kharkiv (nordeste) na manhã desta quinta-feira. Na véspera, Kharkiv já havia sido alvo de atentados, nos quais 13 pessoas morreram, segundo as autoridades locais.

As tropas russas tentaram chegar a Kiev nas primeiras semanas da invasão, mas foram repelidas e desde então concentram sua operação principalmente no leste e sul do país, com o apoio de forças separatistas pró-russas.

AFP, Dmytro GORSHKOV com Thibault MARCHAND em Kiev


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