sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Haiti está bem ali na esquina.


Meus queridos, e para fechar a semana, mais um texto de 2007, comprovando que os avanços se dão a passos de tartaruga...
                                 Esta é uma imagem do Haiti

 O Haiti está bem ali na esquina.
Não faz muito tempo o Ministério da Educação divulgou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. 

O Ideb é um indicador educacional que considera dois fatores determinantes para a qualidade do ensino. O primeiro é o rendimento escolar, mensurado através das taxas de aprovação, reprovação e abandono. O segundo, o desempenho dos alunos nos exames nacionais padronizados - Prova Brasil ou Saeb.

Fluxo e aprendizagem interagidos dão origem a uma média para cada estado, município, escola e país, numa escala que começa com 0 e termina com 10. 

Os últimos números do Ideb enfatizam que as coisas estão muito esquisitas, aliás, como sempre soubemos. Poucos, contudo, têm coragem de admitir que a vaca esteja atolada até o pescoço. Quando expostos os resultados, foi como uma revisita à Caixa de Pandora, a inesquecível lenda da mitologia grega. Exagero? Não, não estou exagerando nem tomado pela síndrome do ceticismo. Veja se não é de pasmar: tão somente 0,2% das escolas públicas brasileiras têm desempenho considerado médio nos paises desenvolvidos. 

Do universo de 55.967 escolas, apenas 160 alcançaram média igual ou superior a 6,0. No geral - quanto ao ensino médio - a rede municipal ficou com média 2,9 e a estadual 3,0, ficando evidenciado que ambas estão em estado de insolvência, na lata (não, lata é pouco; mais apropriado seria ‘tambor’) de lixo. Já a rede federal ficou com a média de 5,6. Esses números, salvo sutis variações, são os mesmos para a Fase 1 (1ª a 4ª séries) e para a Fase 2 (5ª a 8ª séries). 

O próprio governo estima que serão necessários 14 anos para que o Brasil alcance a média dos países desenvolvidos. Isto na Fase 1, por que na Fase dois, o tempo salta para 18 anos. Já no ensino médio, seriam necessários 21 anos para que cheguemos aos patamares dos desenvolvidos. 

Mas para atingir esta meta nos próximos 14 anos, alguns estados teriam que triplicar e até quadruplicar os investimentos que hoje realizam no setor. E pelo que conhecemos dos políticos brasileiros, alguém acredita que farão isso? As projeções mais modestas indicam a necessidade de estados como o Rio Grande do Norte, por exemplo – um dos que se encontra em pior situação – aplicar 32% na educação nos próximos anos. 

                                E esta, uma imagem do Brasil

Pelas projeções do MEC, 18 estados vão precisar de um tempo maior e ultrapassarão o ano de 2021 para se aproximar da nota 6,0, média dos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, para a faixa da 1ª a 4ª séries. Alguns estados só devem alcançar a meta no ano de 2.031. 

Os estados que ficaram com as piores médias estão nas regiões norte e nordeste, não por acaso, as mais pobres do país. Apresentam médias que vão de 2,4 (Alagoas) a 3,5 (Rondônia). 

Para os 1,2 mil municípios que apresentaram os piores Idebs do país, o Ministério promete auxílio técnico e aporte de recursos extraordinários. 

Os governos municipais, estaduais e federal já foram longe demais com essa história de desdenhar a educação, fingir que aplicam os dispositivos constitucionais de investimento no setor. Chega, basta. Temos que recuperar o tempo perdido. A sociedade não suporta mais tanto descaso e incompetência. 

Urge entender que o Haiti está bem mais próximo do que muitos imaginam. Está bem ali na esquina.

Artigo de Antônio Carlos dos Santos publicado no portal Goiás Educação