sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Educação & desenvolvimento
Nas ultimas décadas, o Brasil vem amargando derrotas amargas. Os indicadores sociais - destacando-se a perversa concentração da renda - estão todos os dias evidenciando o quanto a caminhada tem sido traumática.
O quadro se mostra um expoente do mundo surrealista quando cotejamos os ultrajantes indicadores, que expressam nossa miséria bruta, com a riqueza bruta nacional, situando o Brasil dentre as maiores economias do planeta.
Um atenuante deve ser considerado. Apesar do acintoso processo de exclusão social, cada vez mais se consolida na opinião pública nacional a consciência de que recursos aplicados na educação não representam gasto, e sim investimento cujo retorno implica em melhores oportunidades para todos.
Hoje qualquer político, mesmo um que se candidate à guarda de quarteirão, não consegue deixar de lado – em seu proselitismo eleitoral - o componente educação. O conjunto da sociedade já está convencido que o setor é de importância estrutural quando se discute o desenvolvimento de uma nação. Já é senso comum que os países só logram alcançar a posição de desenvolvidos quando insistem e persistem nos investimentos em educação.
Uma das pesquisas da UNESCO revela um dado sintomático: ao tomar como referência a soma das despesas públicas efetuadas do dia em que o aluno entra na escola até completar 15 anos, a Coréia do Sul investe R$ 90.000,00 em cada uma de suas crianças; enquanto o Brasil investe um terço disto, R$ 30.000,00.
Mas não basta investir mais, é necessário investir bem, assegurar que os recursos cheguem à ponta, e que beneficiem efetivamente os mais carentes e necessitados. A aplicação deve levar em conta a adoção de um sistema de planejamento que reconheça as diferenças regionais e as discrepâncias sociais.
Todavia, enganam-se os que imaginam a educação como panacéia capaz de resolver todos os problemas e enigmas. Crescentes e continuados investimentos em educação são medidas mais que necessárias para alavancar o desenvolvimento, mas definitivamente, não são medidas suficientes, ou que bastem por si.
Alguns anos atrás cerca de 131 mil pessoas se inscreveram para disputar emprego de gari no Rio de Janeiro. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana daquela cidade estava a oferecer seis mil vagas de reserva de gari, remunerando salário mínimo. A relação de candidatos por vaga ficou em 21,83. Muito maior que o verificado nos vestibulares de alguns dos principais cursos oferecidos pelas universidades brasileiras.
O quadro de crise social tem se aprofundado com o decorrer do tempo. Num dos concursos da Limpeza Pública da cidade maravilhosa, realizado no ano de 2001, se inscrevem 44,5 mil candidatos. Destes, apenas 3.600 foram contratados.
É importante observar que uma grande massa destes candidatos é portadora de diploma de curso superior. São advogados, engenheiros, médicos, arquitetos, que passaram mais de cinco anos na universidade, lidando com a lógica e o conhecimento científico, e que – face às dificuldades – não relutam em buscar certa estabilidade ainda que isto implique em varrer as ruas e cuidar do lixo da capital fluminense. Nas grandes metrópoles, mesmo MBA`s e títulos de pós-graduação não tem impedido as dispensas e achatamentos salariais.
Se antes a profissão de gari não apresentava o encanto necessário para atrair setores da classe média, hoje este atrativo se chama estabilidade. E estabilidade atende pelo nome de segurança, num cenário adverso que se prima pela completa incerteza sobre o futuro.
Fica evidente que, além de priorização da educação, um conjunto de outros fatores deve ser buscado, tal como uma democracia saudável, ética e robusta; distribuição de renda compatível com os princípios da justiça social; infra-estrutura física e econômica capaz de atrair sempre mais investimentos produtivos, consequentemente gerando empregos e aumento da massa salarial.
O caminho a ser perseguido não mais é novidade para ninguém. Mas a sociedade precisa se organizar de maneira eficaz, para que a pressão sobre as elites dirigentes se exerça de maneira determinante e que a máxima “a voz do povo é a voz de Deus”, possa se materializar no dia a dia.
Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.