sábado, 20 de maio de 2023

Crianças aprendem melhor leitura e escrita com jogos pedagógicos digitais, diz estudo

Aluno do 1º ano do ensino fundamental na escola municipal EMEF Martin Francisco Ribeiro de Andrada, na Vila Mazzei, em São Paulo. (Foto: Diego Padgurschi/Folhapress)

"O experimento mostrou que as crianças de famílias mais pobres conseguem aprender até quatro vezes mais do que quando professores trabalham da forma tradicional", diz Américo Amorim, administrador e doutor em educação.

 

Uma pesquisa feita com alunos de educação infantil da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana do Recife, mostrou que a prática de jogos digitais pode ampliar o aprendizado de leitura e escrita de crianças de famílias de baixa renda.

O estudo foi realizado de 2018 a 2019 e liderado pelo pesquisador educacional Américo Amorim, da startup pernambucana Escribo. A pesquisa contou com a participação de integrantes da Universidade Johns Hopkins (EUA). As conclusões foram divulgadas em janeiro deste ano.

Os jogos utilizados foram de consciência fonológica, ou seja, conjunto de habilidades sobre como separar sílabas, identificar rimas e palavras que começam com o mesmo som, e manipular sons para formar novas palavras.

Os pesquisadores criaram um programa com 26 atividades lúdicas de consciência fonológica. Já os professores orientaram o uso dos jogos pelas crianças com tablets ou smartphones de baixo custo.

O programa foi implementado em 2018 em 12 centros municipais de educação infantil que atendem alunos em situação de pobreza. As práticas ocorreram duas vezes por semana durante dez semanas.

Ao longo do período, diversos obstáculos ocorreram, como greves de educadores e chuvas que inundaram as ruas onde viviam algumas das crianças. Apesar disso, a equipe de implantação do projeto conseguiu mitigar as barreiras, como a falta de tecnologias de informação e comunicação adequadas e a escassez de profissionais nas escolas.

Um total de 351 alunos de cinco anos participou do estudo. Antes do experimento, as crianças passaram por uma análise sobre como estavam no processo de leitura e escrita de palavras. Depois, as turmas foram divididas por sorteio em dois grupos: o que utilizou os jogos pedagógicos e o que não utilizou.

"Aplicamos inicialmente uma prova feita pelo Mackenzie [universidade particular] e, depois que as crianças foram avaliadas, metade das turmas jogou e outra metade não participou dos jogos em duplas. Depois de quatro meses, aplicamos outro teste com todas as crianças e conseguimos quantificar de quanto foi o avanço de um grupo em relação ao outro", explica Amorim.

A análise dos dados constatou que os alunos que realizaram as atividades avançaram 3,6 vezes mais em leitura e 2,7 vezes mais em escrita em comparação ao grupo controle.

Os jogos também geram relatórios que permitem acompanhar o aprendizado dos alunos.

"O experimento mostrou que as crianças de famílias mais pobres conseguem aprender até quatro vezes mais do que quando professores trabalham da forma tradicional", diz Américo Amorim, administrador e doutor em educação.

Na avaliação do pesquisador, para garantir que todas consigam se alfabetizar, "as escolas precisam oferecer uma estimulação eficaz, utilizando as estratégias de ensino baseadas em evidências científicas".

A pesquisa contou com financiamento da Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), e da Escribo, empresa fundada por Amorim em 2015, que desenvolve e comercializa jogos pedagógicos.

Anteriormente, uma experiência semelhante com o uso de jogos foi realizada em 17 escolas privadas infantis com 749 crianças e 62 professores. As crianças de famílias de classe média que utilizaram os jogos fortaleceram as habilidades de leitura em 68% e de escrita em 48%.

"O efeito dos jogos na leitura e na escrita das crianças da rede pública foi muito maior do que o que observamos nas escolas privadas. Isso demonstra que a rede pública tem um potencial forte para melhorar", frisa Amorim.

Folhapress, José Matheus Santos



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