sábado, 13 de maio de 2023

Carimbó: ritmo de herança afro-indígena é tradição no Pará


Passos e volteios de uma dança vigorosa e sinuosa, ao som de tambores frenéticos, permeiam o carimbó, um ritmo musical típico da região Amazônica, principalmente no Pará. As mulheres usam saias rodadas e os homens vestem camisas coloridas, com temas que remetem à natureza.

 

Estamos à beira do rio Tapajós, um dos principais da bacia Amazônica. Em Alter do Chão, um pequeno distrito de menos de sete mil pessoas, a 40km de Santarém, o carimbó é um dos ingredientes charmosos desse local que já entrou no guia de mais belas praias de jornais como o britânico The Guardian.

Mas o carimbó é um elemento noturno, importante no pacote turístico de Alter do Chão. Às quintas-feiras, os tambores chamam locais e turistas para a praça central. Uma enorme roda se abre e dezenas de pessoas se lançam nos rodopios e passos que lembram a capoeira.

“Carimbó é um ritmo afro-indígena que existe aqui na Amazônia há muito tempo. Ele tem como um dos pais o gambá, que a gente encontra na região de Maués e aqui na região do Tapajós. O carimbó é uma mistura, dependendo da região, o sotaque muda. Na nossa região é o carimbo praiano, indo para Belém é o carimbo do salgado, com algumas características diferentes”, explica Hermes Caldeira, do grupo Kuatá.

Regiões dão sotaques diferentes

A palavra carimbó vem do tupi korimbó, uma planta que é a matriz do tambor artesanal curimbó. O ritmo também é conhecido como pau e corda, samba de roda do Marajó ou baião típico de Marajó. Ou seja, vai variando ao longo das águas pela Amazônia, mudando percussões e sotaques.

O carimbó foi reprimido por séculos, inclusive tendo sido proibido na capital Belém em 1880, como forma de evitar desordem pública. O gênero foi se diversificando, absorvendo influências e virando inspiração para ritmos contemporâneos como a lambada e o tecnobrega.

O carimbó entrou para a lista do patrimônio cultural imaterial do Brasil em setembro de 2014. O ato foi aprovado por unanimidade no conselho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Reconhecimento

Esse reconhecimento foi muito importante, avalia Hermes Caldeira. “A partir daí começou o processo de salvaguarda desses elementos: instrumentos, linha de dança e da própria musicalidade do carimbó. São vivências. O próprio músico, quando vai caçar, dali ele tira uma música. Carimbó é uma forma de se expressar, falar das coisas que a gente tem aqui”.

A pandemia afetou bastante o carimbó e toda a estrutura voltada ao turismo que vem sendo montada há alguns anos. “Tínhamos apresentações marcadas em Belo horizonte e aí veio a Covid-19. Ficamos um ano e meio sem nos apresentar em locais públicos. Somos formadores de opinião e resolvemos pelo resguardo”, conta Hermes Caldeira.

Patricia Moribe, especial de Alter do Chão, no Yahoo notícias (A repórter viajou à região a convite da Ong Zoé)



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