sexta-feira, 10 de setembro de 2021

ONGs pedem adiamento da conferência do clima marcada para novembro



Um grupo que reune mais de 1.500 escritórios de ONGs ambientalistas pediu em uma carta pública nesta semana o adiamento da COP-26, a conferência global do clima, marcada para o início de novembro em Glasgow, na Escócia.

 

Segundo o grupo ativista, que inclui divisões de Greenpeace, WWF e Conservation International, a situação atual da pandemia pode comprometer a participação adequada no encontro presencial para os países mais afetados pela pandemia.

No documento, divulgado nesta terça, bloqueios sanitários e exigência de quarentena para viajantes de locais ainda muito atingidos pela Covid-19.

"Faltando apenas duas semanas, é evidente que uma conferência do clima segura, inclusiva e justa é impossível, em razão das falhas de suporte no acesso a vacinas para milhões de pessoas em países pobres, dos altos custos de viagem e hospedagem e da incerteza no curso da pandemia", afirmaram as ONGs na carta.

"Uma COP presencial no início de novembro excluiria na prática os delegados de muitos governos, ativistas da sociedade civil e jornalistas, particularmente dos países do Sul Global, vários dos quais na lista vermelha que o Reino Unido adota para a Covid-19."

Segundo a Climate Action Network, o problema de uma conferência ocorrer sem a presença ampla dos países em desenvolvimento é que os ajustes no acordo para redução de emissões, adaptação às mudanças climáticas e compensações por dano sejam desvantajoso para essas nações.

— Sempre houve um desequilíbrio de poder inerente nas negociações climáticas da ONU, contrapondo nações ricas e pobres, e isso está se somando agora à crise sanitária — afimrou Tasneem Essop, diretora-executiva da rede de ONGs.

O Observatório do Clima, coalizão das organizações ambientalistas brasileiras para assuntos da área, deve emitir nesta semana um posicionamento próprio sobre o problema da participação presencial.

A Convenção-Quadro do Clima das Nações Unidas (UNFCCC), porém, não parece disposta a atender o pedido, alegando urgência em se definir alguns pontos no status atual do Acordo de Paris, que prevê reduções de emissões ainda insuficientes para impedir o clima de aumentar 2°C, limite considerado perigoso.

A decisão deve caber ao secretário-geral da ONU, António Guterres.

— A comunidade científica global deixou claro que a mudança climática é uma emergência global agora e só um avanço urgente de grandes proporções na ação climática pode manter os objetivos do Acordo de Paris ao alcance para proteger os países e comunidades mais vulneráveis dos impactos climáticos que vêm se agravando — afirmou ontem Farhan Haq, porta-voz de Guterres, à agência de notícias Reuters.

O governo britânico afirmou que deve ajudar delegados de outros países a cumprirem os dias de quarentena, bancando os custos extras necessários de hospedagem, mas não deu detalhe sobre isenção da exigência de vacina de Covid-19 para aqueles que ainda não a tomaram.

"Garantir que as vozes daqueles mais afetados pela mudança climática seja ouvida é uma prioridade. Se queremos honrar nosso planeta, precisamo que todos os países e a sociedade civil tragam suas ideias e suas ambições para Glasgow", afirmou em comunicado Alok Sharma, presidente da COP-26.

Por Rafael Garcia, O Globo 


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