A secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena
Guimarães de Castro, afirmou que o sistema de avaliação do ensino
superior do Brasil é falho. A funcionária da pasta foi uma das convidadas do
seminário internacional Avaliação da Educação Superior: características
e perspectivas, realizado em Brasília, em comemoração aos 80 anos
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep).
"Os processos avaliativos, ao invés de criar uma dinâmica formativa
que pudesse ajudar as instituições de menor qualidade a se desenvolver, acabou
se transformando em um processo burocrático, que gera uma tensão muito grande",
disse.
Para a secretária, o resultado da avaliação não é verdadeiramente
aproveitado, deixando, portanto, de se converter em uma adequação de currículo,
de metodologias e práticas adotadas pelas universidades, faculdade e centros
universitários.
"No ano passado, cerca de 5 mil visitas foram feitas pelo Inep. E
os relatórios? Milhares de relatórios. Quem tem tempo de analisá-los e de fato
considerar os resultados para poder influenciar em uma mudança futura?",
questionou Maria Helena.
Como sugestão, ela apontou "mecanismos de descentralização" e
"liberar de avaliações frequentes" as instituições que apresentam um
bom desempenho.
Panorama global
Na opinião de Maria Helena, a educação superior do Brasil ainda se
encontra na contramão de tendências internacionais. Ela considera que a última
mudança expressiva do ensino superior brasileiro remonta a 1968, ano marcado
pela ditadura militar.
"O ensino superior no Brasil não está mudando, não tem dado a
devida atenção às novas grandes reformas do mundo. A Alemanha fez uma mudança
gigantesca, a França também. Os Estados Unidos têm um modelo que dá enorme
liberdade para que as instituições se diferenciem e se diversifiquem. Países
como Portugal fizeram mudanças profundas, e o Brasil se preocupou e se preocupa
muito - e com razão - com a educação básica, entendendo que o ensino superior
está resolvido, mas ele precisa mudar, se renovar ", criticou.
De acordo com Maria Helena, 75% dos universitários brasileiros estudam
em instituições pagas . "A rede pública não dá conta porque pertence a
esse modelo", afirmou ela, fazendo alusão ao modelo que vigora desde o
regime militar.
Após reconhecer que, entre 2003 e 2015, houve uma expansão do ensino
superior gratuito, em decorrência de iniciativas como Fundo de Financiamento
Estudantil (Fies), política de cotas, Programa do Governo Federal de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras
(Reuni) e Programa Universidade para Todos (Prouni), a secretária executiva
criticou a "falta de monitoramento" observada em governos anteriores
ao de Michel Temer, e salientou que o governo atual planeja reduzir a
quantidade de vagas ociosas do Prouni, que, atualmente, conforme revelou,
representam 40% do total.
Brasil e EUA
Como desafios comuns aos Estados Unidos e ao Brasil, Michael James,
especialista em educação e desenvolvimento, elencou a dificuldade de
financiamento dos estudos e, ainda, o tratamento dispensado a estudantes
estrangeiros, que, em seu país, representam de 7% a 29% dos universitários.
Avesso a rankings de universidades, o norte-americano
destacou no seminário que a educação deve servir à formação de cidadãos
globais. "Devemos questionar: 'Em que medida a educação superior é um bem
público ou um bem privado? Em que medida nos vemos, não como competidores, mas
como compartilhadores de recursos?'", perguntou.
Da Agência Brasil
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