O ministro da
Justiça, Torquato Jardim, não participou do processo de escolha de Fernando
Segóvia ao cargo na PF
O presidente Michel
Temer recebeu fora de sua agenda oficial, no sábado (4), o ex-presidente José
Sarney para acertar a nomeação do novo diretor-geral da Polícia Federal,
Fernando Segóvia.
Segundo a Folha
apurou, Sarney chegou ao Jaburu na tarde de sábado, após reuniões entre Temer,
o ministro Moreira Franco (SecretariaGeral), o líder do governo no Senado,
Romero Jucá (RR), e o marqueteiro Elsinho Mouco. Todos se falaram e, em
seguida, Temer e o expresidente conversaram a sós.
O encontro, no
Palácio do Jaburu, aconteceu quatro dias antes de Temer oficializar a nomeação
de Segóvia para o lugar de Leandro Daiello, que comandava a PF havia quase sete
anos, desde o governo Dilma Rousseff (PT).
Ex-superintendente
da Polícia Federal no Maranhão, Segóvia teve sua indicação ao comando do órgão
patrocinada por caciques do PMDB, entre eles Sarney e o ministro da Casa Civil,
Eliseu Padilha.
A escolha foi
estratégica para o núcleo do governo, que desejava mudanças na condução das
investigações da Operação Lava Jato. Desde maio, com a delação de executivos da
JBS, as apurações avançaram sobre o coração do Palácio do Planalto.
O ministro Torquato
Jardim (Justiça) não participou do processo de escolha e não compareceu ao
Jaburu no fim de semana. Foi comunicado da decisão de Temer apenas na
terça-feira (7), um dia antes da indicação ser oficializada pelo presidente.
Aliados de Temer
dizem que o encontro no fim de semana serviu para alinhavar a indicação de
Segóvia ao posto e para o presidente comunicar alguns de seus aliados sobre a
escolha.
Sarney era
investigado pela Lava Jato por suposta obstrução de Justiça, mas teve o
inquérito arquivado pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
A investigação —que
também envolvia Jucá e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)— tinha como base
áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro, o delator Sérgio Machado, em
conversa com peemedebistas.
Em um dos diálogos
revelados pela Folha em maio do ano passado, Jucá afirmava que uma “mudança” no
governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada
pelas investigações.
A pressão pela
nomeação de Segóvia em detrimento de Rogério Galloro, número dois de Daiello e
preferido de Torquato, contou ainda com o patrocínio do ministro do Tribunal de
Contas da União Augusto Nardes, também alvo de delação no âmbito da Lava Jato.
Padilha disse, por
meio de nota, que a indicação do diretor-geral da PF é atribuição “exclusiva”
do ministro da Justiça e que não indicou “nenhum delegado para exercício de tal
cargo”.
Procurado, o
Planalto não se pronunciou sobre o encontro do sábado até o fechamento desta
edição.
Torquato, por sua
vez, afirmou que não fez nenhuma indicação. Em nota, o Ministério da Justiça
disse que “o presidente da República escolheu nomear o delegado Fernando
Segóvia”.
NOMEAÇÃO
Nesta quinta-feira
(9), a nomeação de Segóvia foi publicada no “Diário Oficial” da União e ele já
assumiu a função, apesar de sua posse estar marcada para o dia 20.
Seu primeiro dia de
trabalho foi dedicado a reuniões internas e são esperadas diversas mudanças no
órgão. A primeira delas é na Diretoria Executiva, a Direx, comandada por
Galloro.
Ele foi convidado
por Torquato para ser o secretário nacional de Justiça, mas a indicação ainda
necessita do aval de Temer, que não se manifestou sobre o tema.
Segóvia, que é
delegado de carreira, não é unanimidade dentro da PF.
Ele tem apoio de
cinco entidades que representam integrantes da corporação, mas a ADPF
(Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal) não reconhece a
legitimidade da lista tríplice que levou a seu nome.
Além de Segóvia e
Galloro, Luiz Pontel de Souza também era como cotado para substituir Daiello.
Por Marina Dias Camila Mattoso, na Folha de S. Paulo
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