Cigarro de Maconha (Tomas Bravo/Reuters) |
Com a legalização da maconha no Uruguai, mesmo com 60% da população contra, são reeditadas as mentiras de sempre para justificar o liberou geral
Muita coisa pode ser dita a respeito do uso de
drogas. Dão uma incomparável sensação de bem-estar, aumentam a percepção, muita
gente usa ou simplesmente fazem a humanidade e as festas ficarem menos
insuportáveis.
Por que os defensores da legalização de substâncias
psicotrópicas e correlatos não dizem a verdade a respeito? Porque sabem que as
sensações de prazer proporcionadas pelas drogas são acompanhadas de altos
riscos.
Daí as mentiras inventadas a pretexto de defender
sua liberação. As mais frequentes:
1- A legalização das drogas diminui a criminalidade
associada ao tráfico.
Dá para imaginar as “bocas” de São Paulo e do Rio
de Janeiro, para ficar nas duas maiores cidades do país, magicamente
transformadas em centros de estudos, cultura e alta tecnologia?
A criminalidade tem causas múltiplas e complexas.
Mas o laboratório do Colorado, onde o fumacê recreativo foi aprovado em
plebiscito estadual no fim de 2012, é um exemplo interessante.
Homicídios aumentaram em 14,7% entre 2014 e 2015.
Os relacionados a tráfico da maconha subiram 70%. Estupros, 10%.
Detalhe importante: o número de homicídios no
Colorado, um estado com apenas 5,5 milhões de habitantes, foi de 172 em 2015.
O mais próximo disso mo Brasil é Goiás, também um
estado com grande atividade agro-pecuária. Homicídios em 2015: 2 651. Ou 31 por
100 mil habitantes. Aumento de 97% em dez anos.
Muitas pessoas podem querer fumar maconha, em Goiás
ou no Colorado, sem qualquer risco de ser importunadas por agentes da lei. Mas
alegar que a legalização diminui o crime não tem funcionado nem no Colorado.
Imaginem em outros lugares.
2- Vício em drogas deve ser tratado exclusivamente
como problema de saúde pública.
Se isso fosse um argumento válido, os centros de
pesquisa sobre doenças virais e infecto-contagiosas deveriam estudar como
introduzir no meio-ambiente mosquitos que transmitam a dengue de forma mais
rápida. Ou estafilococos ultra-resistentes, o que está bem próximo da
realidade.
Por que liberar substâncias que comprovadamente
produzem riscos de vício e comportamentos perigosamente alterados? É possível
dizer que os seres humanos estão bem acostumados a avaliar vantagens e
desvantagens de inúmeros outros hábitos e isso varia conforme o momento
histórico.
Mas o argumento da “saúde pública” é uma das
falácias mais tolas.
3- O povo decidiu, está decidido.
No caso do Uruguai, não teve voto nenhum. Mais de
60% dos uruguaios se manifestam contra a legalização, desde que começaram as
pesquisas sobre o tema.
O atual presidente, Tabaré Vázquez, que é
oncologista e em mandato anterior estabeleceu normas proibindo cigarros em
ambientes fechados, também era contra.
O sistema Maconhaguai, em que o estado concede
licenças para o cultivo e vende maconha em farmácias, com a produção doméstica
“limitada” a seis pés, saiu inteiramente da cabeça de Pepe Mujica, o presidente
que já veio ao mundo meio embalado.
Entre suas criações, figura o Instituto de
Regulamentação e Controle de Cannabis. Pode dar certo?
4- Maconha medicinal demonstra uso positivo.
É uma das “portas de entrada” mais comuns aos
defensores da legalização. Aberta passivamente por inúmeros artigos, todos
idênticos, sobre os benefícios para casos específicos de convulsões provocadas
por epilepsia.
Só para lembrar, algumas substâncias que, antes de
serem sintetizadas ou ainda em formas purificadas, têm uso medicinal: heroína,
fonte do ópio e de outros agentes quase miraculosos na pacificação de dores;
toxina botulínica, a bactéria assassina que redundou no Botox, o pacificador de
rugas.
Sem falar no conhecido uso da cocaína como
anti-depressivo durante a breve janela de oportunidade que existiu entre o fim
do século 19 e o começo do 20. Aliás, na Austrália ainda existem casos de
prescrição de cocaína como anestésico para feridas na região bucal.
Não é nenhum segredo que anestesia mesmo. Basta
olhar nas Cracolândias como o pessoal se comporta.
Médicos, evidentemente, não podem esquecer esta
parte: “A vida que professar será para benefício dos doentes e para meu próprio
bem, nunca para prejuízo deles ou com malévolos propósitos.”
5- Fumar unzinho não prejudica ninguém.
É o argumento mais comum fora da esfera dos
profissionais da liberação, os advogados ou outro especialistas pagos por ONGs
para defender a legalização das drogas.
É também o mais honesto. Ou o menos hipócrita. Tem
o poder da defesa do auto-interesse: “Quero fumar sossegado, sem fazer mal
ninguém. De preferência, sem incentivar o crime”. Moralmente, é inválido. Mas
os seres humanos também estão acostumados a malabarismos morais.
A título de curiosidade, os dez países onde mais os
unzinhos são fumados: Islândia (18,3% da população), Estados Unidos (16,3%),
Nigéria (14,3%), Canadá(12,7%), Chile (11,8%), França (11,1%), Nova Zelândia
(11%), Bermuda (10,9%), Austrália (10,2%), Zâmbia (9,5%).
O Uruguai fica em décimo-primeiro lugar, com 9,3%.
Será que a lei do Pepe Mujica vai melhorar esta colocação?
Por Vilma Gryzinski, na Veja.com
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O livro com a peça teatral Irena Sendler, minha Irena:
A história registra as ações de um grande herói, o espião e membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, Oskar Schindler, que salvou cerca de 1.200 judeus durante o genocídio perpetrado pelos nazistas. O industrial alemão empregava os judeus em suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas na Polónia e na, então, Tchecoslováquia.
Irena Sendler, utilizando-se, tão somente, de sua posição profissional – assistente social do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia – e se valendo de muita coragem, criatividade e altruísmo, conseguiu salvar mais de 2.500 crianças judias.
"O Anjo do Gueto de Varsóvia", como ficou conhecida Irena Sendlerowa, conseguiu salvar milhares de vidas ao convencer famílias cristãs polonesas a esconder, abrigando em seus lares, os pequeninos cujo pecado capital – sob a ótica do führer – consistia em serem filhos de pais judeus.
Período: 2ª Guerra Mundial, Polônia ocupada pela Alemanha nazista. A ideologia de extrema-direita que sistematizou o racismo científico e levou o antissemitismo ao extremo com a Solução Final, implementava a eliminação dos judeus do continente europeu.
A guerra desencadeada pelos nazistas – a maior deflagração do planeta – mobilizou 100 milhões de militares, provocando a maior carnificina já experimentada pela humanidade, entre 50 e 70 milhões de mortes, incluindo a barbárie absoluta, o Holocausto, o genocídio, o assassinato em massa de 6 milhões de judeus.
Este é o contexto que inspirou o autor a escrever a peça teatral “Irena Sendler, minha Irena”.
Para dar sustentação à trama dramática, Antônio Carlos mergulhou fundo na pesquisa histórica, promovendo a vasta investigação que conferiu à peça um realismo que inquieta, suscitando reflexões sobre as razões que levam o homem a entranhar tão exageradamente no infesto, no sinistro, no maléfico. Por outro lado, como se desanuviando o anverso da mesma moeda, destaca personagens da vida real como Irena Sendler, seres que, mesmo diante das adversidades, da brutalidade mais atroz, invariavelmente optam pelo altruísmo, pela caridade, pela luz.
É quando o autor interage a realidade à ficção que desponta o rico e insólito universo com personagens intensos – de complexa construção psicológica - maquinações ardilosas, intrigas e conspirações maquiavélicas, complôs e subterfúgios delineados para brindar o leitor – não com a catarse, o êxtase, o enlevo – e sim com a reflexão crítica e a oxigenação do pensamento.
Dividida em oito atos, a peça traz à tona o processo de desumanização construído pelas diferentes correntes políticas. Sob o regime nazista, Irena Sandler foi presa e torturada – só não executada porque conseguiu fugir. O término da guerra, em 1945, que deveria levar à liberdade, lancinou o “Anjo do Gueto” com novas violências, novas intolerâncias, novas repressões. Um novo autoritarismo dominava a Polônia e o leste Europeu. Tão obscuro e cruel quanto o de Hitler, Heydrich, Goebbels, Hess e Menguele, surgia o sistema que prometia a sociedade igualitária, sem classes sociais, assentada na propriedade comum dos meios de produção. Como a fascista, a ditadura comunista, também, planejava erigir o novo homem, o novo mundo. Além de continuar perseguindo Irena, apagou-a dos livros e da historiografia oficial, situação que só cessaria com o debacle do império vermelho e a ascensão da democracia, na Polônia, em 1989.
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