Gérson Tajes e o
antecessor, Roberto Bueno: ação permitiu que profissionais atuem sem pagar a
anuidade
No mês em que se
comemora o Dia do Músico, a categoria está às voltas com uma mega auditoria,
promovida pela atual diretoria, para averiguar as contas anteriores da Ordem
dos Músicos do Brasil (OMB) e de suas regionais em todo o país. Segundo o
presidente da entidade, Gérson Tajes, nos últimos 48 anos a autarquia federal
foi comandada pela 'ditadura'. Tajes, que assumiu o comando em abril, disse ao
Correio que há todo tipo de fraudes e suspeitas e determinou a auditoria por
ordem do Tribunal de Contas da União (TCU), que defendeu maior transparências
nas contas da entidade.
O levantamento
começa em São Paulo, onde fica a maior seccional da entidade a qual, há dois
anos, não responde um pedido, feito por um conselheiro do órgão, para exibir
suas contas. Os antigos presidentes da OMB nacional e paulista estão fora dos
cargos. Decisão do TCU ordenou, em 2014, que a entidade publicasse seus
balanços na internet, o que não está acontecendo como se esperava. As cinco
maiores regionais arrecadaram R$ 29,1 milhões entre 2008 e 2012, segundo o
tribunal, sendo R$ 11 milhões apenas com taxas cobradas de shows internacionais
no país.
'A Ordem nunca fez
o papel que deferia fazer', afirmou Tajes, ritmista e cantor de samba. 'Tem
muito desvio, dilapidação de patrimônio, enriquecimento ilícito', prosseguiu.
Ele espera ver o trabalho concluído, para prestar mais informações. 'Após a
auditoria feita, vamos mencionar os estados que têm problemas e os que não
têm.' Tajes pediu, em 25 de outubro, que a Polícia Federal abrisse inquérito em
São Paulo e narrou que integrantes da entidade venderam um carro por R$ 10 mil
e ficaram com o dinheiro, além de se apropriarem das senhas de acesso dos
e-mails da regional paulista.
Outros músicos
ouvidos pelo jornal também criticam a falta de transparência e afirmam que os
benefícios da OMB não são compatíveis com o que ela arrecada. No STF, uma ação
que se arrastou por sete anos autorizou os profissionais a atuar sem a
obrigatoriedade de pagarem anuidade e ou de usarem a carteirinha da entidade.
O maestro de coral
e conselheiro da OMB de São Paulo Eduardo Roz pediu três vezes, em 2014,
inclusive por escrito, que o então presidente da regional paulista, Roberto
Bueno, exibisse as contas do órgão. Nunca foi atendido. 'A partir do momento em
que não há esclarecimentos, você dá margem para especulação', disse ele ao
Correio.
No site da OMB, até
hoje, há apenas um balancete daquele ano, que, sem detalhar as despesas, diz
que R$ 3,2 milhões é a soma do ativo, do passivo e do patrimônio líquido. A regional
está sob intervenção. O presidente da comissão provisória em São Paulo, o
baterista Márcio Teixeira, confirma que a transparência está devendo. 'Há muito
o que se apurar, assim como há muito o que se fazer para que a OMB, a nível
nacional, se ajuste à legislação atinente, de forma eficiente, e responsável,
inclusive em cumprimento da transparência.'
Bueno fez acusações
contra Tajes, que as nega: 'São 48 anos de ditadura. O que está acontecendo é
que estão chamando a gente de bandido e dizendo que a gente não é músico. Isso
tudo é para a gente não mostrar a transparência do que está acontecendo'. Bueno
negou as suspeitas e disse que a auditoria foi iniciativa dele. O ex-presidente
da OMB Nacional Tony Maranhão não foi localizado.
A cantora de baile
e jornalista Cláudia Souza publicou em seu site uma série de documentos
noticiando o que ela classifica uma briga de dois grupos pelo poder na
entidade. Para ela, a OMB 'é um órgão arcaico, cuja receita arrecadada ainda é
recolhida através de acordos judiciais com advogados, ao invés de métodos
fiscalizáveis, como boletos bancários e DARFs'. O gaitista da Engels Espíritos,
do Movimento de Valorização do Músico, diz que a Ordem não trabalha pelos
profissionais, mas 'pelos interesses de seus diretores, conselheiros e
presidentes'. Ele afirma que, pelo que sabe, 'nenhum' real foi investido em
assistência à saúde e à qualificação profissional dos músicos, o que seria uma
obrigação da entidade.
Um relatório do
ministro do TCU Augusto Shermann apontou que existem 'mudanças conturbadas nas
diretorias' das regionais, além de 'disputas internas', que atrapalham o
controle e a fiscalização das contas.
'A Ordem nunca fez
o papel que deferia fazer. Tem muito desvio, dilapidação de patrimônio,
enriquecimento ilícito', Gérson Tajes, presidente da Ordem dos Músicos
Duas perguntas para
Roberto Bueno, ex-presidente da OMB em São Paulo
O sr. acusa
dirigentes da OMB, mas as contas de sua gestão também são criticadas…
Eu mandei fazer
essa auditoria e está sub judice. Assim que terminar a auditoria, eu dou
entrevista. Enquanto não terminar, eu não posso falar nada. Quem pediu a
auditoria foi o maestro Godoy, e eu que atendi a solicitação dele.
É que levantam
suspeitas de que o senhor…
O que disserem não
me interessa. O que me interessa é preto no branco, o que está no papel. Assim
que tiver uma solução do caso, eu dou entrevista. Eu não devo nada pra ninguém.
Fiquei sete anos lá dentro e só fiz bem para os músicos.
R$ 29,1 milhões
Total arrecadado por cinco regionais da OMB entre 2008 e 2012.
Por EDUARDO
MILITÃO, no Correio Braziliense
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