A impunidade vinha sendo de tal ordem que macacos, velhos ou
novos, metiam a mão na cumbuca.
Os bichos frequentam a nossa conversa mais do que imaginamos.
Mesmo que um dos presos estivesse bêbado como um gambá, quando celebrava em
Paris a cachorrada que fizera com a riqueza do Rio, os brasileiros estão
cansados de engolir sapos.
Mas procuradores, promotores de justiça e investigadores não são
burros, e juízes não são antas. Muitos dos corruptos e corruptores já
engaiolados são cobras que
perderam o veneno, mas há outros ainda soltos, para os quais a vaca não foi
pro brejo.
Delações premiadas já deram nomes aos bois. Os colaboradores
confidenciaram que nem todos os presos são bois de piranha e lamentam ter
navegado em rios cheios destes teleósteos de dentes afiados. Avisaram que são
tão ameaçadores e vorazes que onde eles atuam até experientes jacarés nadam de
costas.
Todavia os investigadores sabem que meliante político é mais
liso do que peixe ensaboado. E acusar o outro pode ser apenas uma forma de
salvar a própria pele. Afinal, todos sabem que muitas vezes o periquito leva a
fama, mas quem come o milho é o papagaio .
O costume de macacos meterem a mão na cumbuca foi registrado
pela primeira vez no Diálogo das Grandezas do Brasil,
livro atribuído durante muito tempo a Bento Teixeira. Mas era prosopopeia.
Capistrano de Abreu descobriu o verdadeiro autor: Ambrósio
Fernandes Brandão, judeu convertido à força pela Inquisição e pelo Santo Ofício.
Tornado cristão-novo, ele se estabeleceu como senhor de engenho na Paraíba
ainda no século XVI.
A semana trouxe políticos graúdos para o zoológico das prisões.
Foram presos dois ex-governadores. O juiz Sérgio Moro, que mandou prender
Sérgio Cabral Filho, resumiu a ópera: “governadores ricos, povo pobre”.
O outro juiz, Glaucenir Silva de Oliveira, que mandou prender
Garotinho, esclareceu: “toda vez que o réu tem seus interesses contrariados
pela Justiça, ocupa-se de tentar denegrir a imagem de magistrados”.
Aproxima-se a
hora da onça beber água. Os juízes não estão comendo mosca e daqui a pouco
será posto o guizo no pescoço de outros gatos.
Deonísio da Silva, no blog de Augusto
Nunes
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O direito e a corrupção na obra de Shakespeare, aqui.
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