Marcha contra mudança climática em Melbourne, em 6 de novembro de 2021 (AFP/William West) |
Sob uma chuva torrencial e ventos violentos, milhares de manifestantes marcharam em Glasgow, no sábado (6), para pedir "justiça climática", em um dia de mobilização mundial para pressionar os políticos reunidos na COP26 a agirem contra o aquecimento global.
Segundo os organizadores em Glasgow, mais de 100.000
pessoas responderam à convocação, enquanto as autoridades escocesas não
divulgaram um número oficial.
"Centenas de milhares em todo o mundo ...
enviaram um sinal claro para os que estão no poder", tuitou a ativista
sueca Greta Thunberg, que não participou neste sábado, mas liderou a juventude
na sexta.
A COP26 reúne milhares de representantes de quase 200
países em Glasgow até o dia 12 de novembro, com a responsabilidade de impor
novas metas contra as mudanças climáticas.
A polícia disse ter "retirado, de forma segura,
manifestantes" que bloqueavam uma ponte, o único incidente em uma marcha
totalmente pacífica e festiva, apesar das más condições climáticas.
Os tambores soaram seguidos pelas gaitas dos
escoceses, muitos vestidos com suas tradicional saia xadrez, apesar do frio.
Cartazes encharcados exigiam "coloque o planeta na frente do dinheiro
agora".
"O que nós queremos? Justiça climática! Quando
queremos? Agora!", gritavam os ativistas, quando a coluna iniciou seu
trajeto.
"O povo, unido, jamais será vencido",
cantavam em diferentes idiomas, neste protesto que reuniu dos jovens que já
haviam manifestado sua frustração nas ruas na sexta-feira, ao movimento de
desobediência civil Extinction Rebellion (XR), conhecido por suas ações ousadas
que paralisam cidades e costumam acabar em inúmeras prisões.
"Esta é a COP26. Tivemos 25 antes, e todas foram
um fracasso", disse à AFP Lilly Henderson, de 17 anos, membro do grupo
Sextas-Feiras pelo Futuro, retomando as palavras que sua fundadora, Greta
Thunberg, lançou à multidão na véspera.
"Sou do Brasil e lá as coisas pioraram bastante
nos últimos anos", disse Carlos Nunes, um pesquisador de 35 anos, que se
declarou "um pouco cético" sobre o resultado da COP26.
Em um ato na sede da conferência, o ator britânico
Idris Elba expressou sua solidariedade com os manifestantes.
"A mudança climáticá é real e vamos acabar pagando
por isso", afirmou, acrescentando que os humanos "são uma espécie
recente, mas conseguiu destruir de forma irreversível uma parte do
planeta".
Jayne Whitehead, uma paisagista de 54 anos, compareceu
à passeata junto com suas duas filhas.
"Quero que cresçam com um futuro promissor, que
aproveitem o mundo como fizemos quando éramos jovens e possam olhar para a
frente sem medo", afirmou.
"Um único dia não muda tudo, mas temos que fazer
todo o possível, e hoje isso é algo que podemos fazer", apesar da
tempestade, completou.
'Ação climática já'
Da Austrália ao Brasil, passando pela Coreia do Sul e
pelo Canadá, cerca de 100 marchas deste tipo estavam previstas para acontecer
no mundo todo.
"Chega de blá-blá-blá, ação climática já",
dizia um cartaz em Sydney, denunciando a posição do governo australiano,
defensor da indústria nacional de mineração.
Em Seul, 500 pessoas pediram ações concretas em um
país que cobre grande parte de suas necessidades energéticas, importando
carvão.
Em outras cidades britânicas, como Londres e
Birmingham, as marchas atraíram alguns milhares de pessoas.
A COP26 deve definir como cumprir os objetivos
definidos em 2015 pelo Acordo de Paris sobre o Clima para limitar o aumento da
temperatura média global entre 1,5ºC e 2ºC e evitar as devastadoras catástrofes
naturais que cada décimo de grau adicional implica.
Esta semana, alguns países se comprometeram a reduzir
suas emissões de gases de efeito estufa, a parar de usar o carvão como fonte de
energia, a acabar com o financiamento estrangeiro de combustíveis fósseis, a
conter o desmatamento e a reduzir a emissão de metano.
Tudo isso depois que um importante estudo mostrou que
as emissões mundiais estão a caminho de alcançar, em 2021, os níveis anteriores
à pandemia.
Na grande passeata que reuniu milhares de jovens
ativistas em Glasgow na sexta-feira, os manifestantes mostraram, porém, sua
insatisfação com o que consideram ser pura conversa fiada.
"Esta não é mais uma conferência sobre o clima. É
um festival global de lavagem de imagens", criticou Greta.
Os negociadores farão uma pausa no domingo antes do
que se antecipa como uma semana frenética e de duras disputas sobre questões
fundamentais, mas divisivas. Entre elas, estão as normas que regem os mercados
de carbono e a transparência, para que todos possam monitorar se os demais
cumprem o que prometem.
Os compromissos de redução das emissões para 2030, com
os quais os países chegaram à COP26, deixam a Terra a caminho de um aquecimento
de +2,7ºC até o final do século, alertam os especialistas.
Até agora, o aumento da temperatura média global tem
sido de 1,1ºC em relação à era pré-industrial e já está causando incêndios e
secas cada vez mais intensos, destruindo habitats e causando deslocamentos
populacionais no mundo todo.
Anna CUENCA e Jordi ZAMORA, AFP
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