“(...)Mais da metade dos lares brasileiros teve algum grau de
insegurança alimentar no fim de 2020. (...)”
Especialista critica fim do Consea; governo fala em
mais de 2 milhões de cestas básicas distribuídas
Del Grossi: "Quase 117 milhões de pessoas vivendo
em algum nível de insegurança alimentar"
Mais da metade dos lares brasileiros teve algum grau de
insegurança alimentar no fim de 2020. Os dados, destacados em audiência pública
da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara nesta quinta-feira (25),
são da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e
Nutricional. Segundo o conselheiro consultivo da rede, Mauro Del Grossi, 43,4
milhões de brasileiros não tinham quantidade suficiente de alimentos.
“É um quadro gravíssimo. Talvez o Haiti, quando teve um
terremoto, teve uma situação parecida com essa. É um quadro dramático. 116,
quase 117 milhões de pessoas vivendo em algum nível de insegurança militar, ou
seja, 55% da população", afirmou.
Desse total, ainda segundo Del Grossi, 24 milhões, ou
11,5% viviam em insegurança moderada, onde os adultos comem menos do que
precisam, ou do que desejam. "E outros 19 milhões de pessoas comem menos,
inclusive as crianças comem menos do que precisam e do que têm necessidade”,
observou.
Kátia Maia, da Oxfam Brasil, criticou a extinção do
Consea
Extinção
do Consea
A diretora executiva da Oxfam Brasil, Kátia Maia,
lamentou a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(Consea), por uma medida provisória em 2019 (MP 870/19), e destacou outras
políticas voltadas à segurança nutricional que precisariam ser fortalecidas.
“O mundo admirava muito o Brasil por isso. É uma
mistura, é o Bolsa Família, é o programa de aquisição de alimentos, é a merenda
escolar, é o incentivo à agricultura familiar, é um conjunto de ações que fez
com que o Brasil tenha saído da situação de mapa da fome do mundo",
observou.
Cadastro
único
A diretora de relações internacionais e institucionais
do Movimento Nacional pela Renda Básica, Paola Loureiro Carvalho, chamou
atenção para o fato de que, ao exigir a inscrição por aplicativo para o
recebimento do auxílio emergencial, o governo excluiu parte da população
vulnerável.
A situação teve ainda um desdobramento porque muita
gente que se inscreveu pelo aplicativo teve piora na condição financeira e não
migrou para o Cadastro Único de Programas Sociais. Segundo ela, em novembro,
com a migração dos inscritos no Bolsa Família para o Auxílio Brasil, muitos
ficaram de fora da lista de famílias aptas a receber o benefício.
Colussi anunciou a compra de alimentos da agricultura
familiar para distribuição
Programas
do governo
O assessor da Secretaria Nacional de Inclusão Social e
Produtiva do Ministério da Cidadania Agostinho Colussi falou sobre o Programa
de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, que transfere a famílias de
produtores de R$ 2.400 a R$ 3 mil, e que usa a estrutura do Auxílio Brasil,
tendo beneficiado mais de 15.700 famílias.
Ele citou ainda o programa Alimenta Brasil, em que o
governo adquire alimentos da agricultura familiar e doa a entidades
assistenciais, tendo atendido de janeiro a agosto 40 mil famílias. Segundo
ele, de fevereiro a outubro deste ano foram distribuídas 2 milhões, 235 mil e
857 cestas no programa Brasil Fraterno.
Vivi Reis: população negra é a mais afetada pela fome
A
cor da fome
A audiência na Comissão de Seguridade Social e Família
foi pedida pelas deputadas Vivi Reis (Psol-PA) e Sâmia Bomfim (Psol-SP). Vivi
Reis lembrou que a maior parte da população afetada pela fome no Brasil é
negra.
“A gente precisa garantir um futuro digno para as
crianças e adolescentes, para todos aqueles que estão na periferia, que estão
nas regiões mais distantes dos centros. Nós, das Região Norte, sabemos bem a
dificuldade que sofremos. A fome tem cor", disse.
Participaram também da audiência pública representantes
do Movimento República de Emaús, da Frente Nacional de Luta e da Rede Emancipa.
Agência Câmara de Notícias
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