quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Menino pobre descobre livros no lixo e vira médico



Do portal G1.COM

Em Brasília, a leitura transformou a vida do Cícero – o menino catador de lixo que virou médico. “A gente era tudo pequeno, minha mãe não trabalhava, e as coisas eram muito difíceis, não tinha pai”, lembra Alessandra Pereira Batista, irmã de Cícero.

Dona Izaltina teve 20 filhos. Sete estão vivos. Naquela época, Cícero e Alessandra iam buscar comida no lixo.

Globo Repórter: O que ele fazia com os livros?
Izaltina Pereira Batista, mãe do Cícero: Botava um tapete velho, ou uma toalha velha, e botava tudo para secar. Se estivesse sujo, ele pegava um paninho e ia limpando.
“E quando eu abria esses livros, eu acabava vendo um universo. Um universo que acabava me transportando pra outro mundo: um mundo de saber, um mundo de conhecimento”, contou Cícero Pereira Batista, médico.
A fome de saber levou o Cícero a estudar mais. E, quando ele encontrou o primeiro livro de medicina, descobriu a vocação.
Cícero Pereira Batista, médico: Tinha tratamentos já descritos aqui que eu poderia usar com a minha família.
Globo Repórter: Quer dizer que você já estudava medicina muito antes de ir pra faculdade?Cícero Pereira Batista: eu era uma espécie de curandeiro da família.Izaltina Pereira Batista: Ele é muito inteligente, desde pequeno que é inteligente.
Cícero Pereira Batista: O meu caso não foi uma situação de inteligência. Foi uma situação de persistência. Eu estudei, e estudo, para não morrer de fome.
O menino Cícero virou o doutor Cícero. Ele trabalha em hospitais da periferia de Brasília.

“Eu fiz medicina por amor, pra cuidar e pra ser útil para o próximo. E eu só consigo salvar vidas e aliviar o sofrimento humano, se eu estudar”, disse Cícero.

Um ano se passou desde a formatura. A casa pobre da família ainda precisa de reparos. A prioridade é ajudar a família.

“Eu perdi um irmão assassinado pra violência. Isso marcou muito a minha família. Além, também, de ter perdido irmãos que morreram de fome”, contou Cícero.

A prioridade é cuidar de Dona Izaltina.

“Ele compra um perfuminho pra mim, ele me dá um vestido. Eu como no shopping, onde eu quiser comer. A gente tem que falar a verdade: fome eu não passo mais. Tem ele pra cuidar de mim agora, com toda a peleja ele se formou. E a coisa tá melhorando, vai melhorando pouco a pouco”, contou Dona Izaltina.
Cabeça erguida. Nada do que se envergonhar. 

“Por que eu dou essas entrevistas, por que eu permito que as pessoas saibam da minha vida? Para que as pessoas vejam que é possível sair do estado de miséria e galgar novos rumos. E os livros são a melhor ferramenta pra isso”, afirma Cícero.
Veja o vídeo da reportagem aqui.

O primeiro livro encontrado por Cícero foi enquadrado pelo programa Esquenta!
O primeiro livro encontrado por Cícero foi enquadrado pelo programa Esquenta! (Foto: TV Globo)