Sudoku e palavras cruzadas não são suficientes. Um bom exercício para o cérebro deve quebrar hábitos rotineiros, com atividades como ler o jornal de trás para frente e fazer a conta do mercado de cabeça.
Da Deutsche Welle
Dizem que Sudoku e palavras cruzadas fazem bem para a cabeça. Na verdade, essas atividades dificilmente contribuem para melhorar a memória ou aumentar a capacidade de raciocínio. Elas servem apenas para treinar habilidades necessárias para realizar esses exercícios ou similares. Quando os enigmas viram rotina, o cérebro recorre às conexões nervosas já existentes, em vez de fazer novas.
Um bom treinamento para a memória envolve lidar com diferentes técnicas e variar sempre os exercícios. Quando há o desvio de um hábito, o cérebro cria novas conexões. A pessoa pode, por exemplo, ler o jornal de trás para frente alguns dias ou, quando for ao supermercado, somar os valores da compra de cabeça.
Quem quiser manter a memória afiada, deve se aventurar no desconhecido, como, por exemplo, aprender malabarismo ou uma nova língua. As informações complexas novas estimulam exatamente a região do cérebro mais ameaçada de degradação com o passar do tempo.
Aqueles que aprendem um instrumento também fazem um bom exercício. Ao tocar uma música, muitas partes diferentes do cérebro são ativadas, por exemplo, as áreas de habilidades motoras e de escuta e estruturas da memória, como a de planejar com antecedência.
Campeonato de memória
Althea Heidemüller, vice-campeã júnior no Campeonato Alemão de Memória, treina num internato particular, com aulas em grupo e individuais.
Em um minuto, de quantos números Althea consegue se lembrar na ordem certa? Seu treinador, Steffen Bütow, cronometra, e a jovem usa fones de ouvido para manter a máxima concentração. O resultado: 26 números. A maioria das pessoas consegue se lembrar apenas de dois a seis.
Para guardar tantas coisas na cabeça, Althea usa o método do Palácio da Memória — também chamado de método de loci (plural de locus, "lugar" em latim). Com base em objetos de uma sala, Althea imagina um circuito, em que cada item "recebe" um número. Assim, ela associa os números a objetos.
O 46, por exemplo, é um cone, que, na imaginação de Althea, é colocado sobre a escultura do tio Fritz. "O velho tio Fritz queria ter um chapéu, mas as lojas de chapéu já tinham vendido tudo. Quando ele estava voltando para casa, viu um cone na rua e pensou que era um chapéu bonito que alguém, provavelmente, havia perdido. Então, ele pegou o cone e levou com ele. Por isso que ele tem um cone na cabeça", conta.
Com esse método, Althea consegue se lembrar de cem números em dez minutos. "Ela já tem um talento especial, uma memória naturalmente muito boa, e com as técnicas é possível memorizar três ou quatro vezes mais do que sem elas", diz o treinador.
Mais que um passatempo
Uma vez por semana, Althea e outros alunos se reúnem na Associação da Memória. Lá, eles treinam a "memorização de cartas", outra disciplina do campeonato.
Os alunos têm cinco minutos para memorizar a sequência correta de cartas. Althea consegue acertar perfeitamente a ordem de 52 cartas.
"É um pouco mais do que um passatempo, caso contrário, não faríamos isso, porque exige muito da gente e toma tempo", diz a jovem. "Quero ser campeã do mundo um dia."