Por Luciano Trigo, no portal G1
A morte de Josef Stalin é um dos episódios mais misteriosos da história da União Soviética. Ainda que a sua vida tenha sido exaustivamente vasculhada em dezenas de biografias, ainda permanecem diversas dúvidas sobre as circunstâncias exatas dos acontecimentos ocorridos na casa de campo do ditador entre a noite de 28 de ferreiro e a manhã de 5 de março de 1953, quando morreu. Essa incerteza, de certa forma, justifica as liberdades tomadas pelos franceses Fabien Nury (roteiro) e Thierry Robin (desenho) no premiado álbum em quadrinhos “A Morte de Stálin – Uma História Soviética Real“ (editora Três Estrelas, 152 pgs. R$ 49,90). Impossibilitados de reconstituir em detalhes algo que até hoje ninguém exatamente sabe como aconteceu, eles preenchem com imaginação, especulação e uma certa dose de irreverência as lacunas do conhecimento histórico.
Em tom de sátira expressionista, os autores estão menos preocupados com o rigor historiográfico do que em recriar o clima de conspiração, paranoia e medo que pesava sobre a União Soviética de Stálin. Apesar do subtítulo, o álbum deve ser interpretado como uma representação muito livre da morte do líder soviético – e deve ser avaliado por sua capacidade de contar uma boa história usando os recursos narrativos dos quadrinhos. E isso Nury e Robin fazem de forma muito eficaz, com o uso de pontos de vista e cortes inusitados, alternância de planos e enquadramentos e outros recursos de linguagem cinematográfica (ainda que o traço de Thierry Robin seja relativamente convencional). Exemplares são as duas páginas que mostram o cortejo fúnebre: sem texto, elas sintetizam a complexidade daquele momento histórico e o drama particular dos personagens envolvidos.
Como se sabe, Stalin teve uma forte hemorragia cerebral e agonizou durante vários dias, enquanto, ao seu redor, seus asseclas travavam uma disputa feroz pelo poder: Lavrenti Beria, o favorito ao posto, Nikita Kruschev, Malenkov, Molotov, Mikoyan, Bulganin. Entre alianças e rasteiras, divididos em ter a ambição e o medo, eles próprios se revelam contaminados pela crueldade e loucura do ditador agonizante, responsável por milhões de mortes – pela fome em sua maioria, mas também por meio da perseguição política: Stalin arrasou impiedosamente toda e qualquer oposição ao seu regime, incluindo a de colegas bolcheviques, por meio de execuções sumárias, cuja arbitrariedade era quando muito camuflada por julgamentos de fachada e confissões arrancadas por meio de tortura e espancamento. Em sua paranoia persecutória, Stalin não poupou sequer seus colaboradores mais próximos: parceiros de revolução, secretários pessoais, chefes da guarda pessoal e médicos particulares conheceram a prisão, a morte ou o exílio.
Em tom de sátira expressionista, os autores estão menos preocupados com o rigor historiográfico do que em recriar o clima de conspiração, paranoia e medo que pesava sobre a União Soviética de Stálin. Apesar do subtítulo, o álbum deve ser interpretado como uma representação muito livre da morte do líder soviético – e deve ser avaliado por sua capacidade de contar uma boa história usando os recursos narrativos dos quadrinhos. E isso Nury e Robin fazem de forma muito eficaz, com o uso de pontos de vista e cortes inusitados, alternância de planos e enquadramentos e outros recursos de linguagem cinematográfica (ainda que o traço de Thierry Robin seja relativamente convencional). Exemplares são as duas páginas que mostram o cortejo fúnebre: sem texto, elas sintetizam a complexidade daquele momento histórico e o drama particular dos personagens envolvidos.
Como se sabe, Stalin teve uma forte hemorragia cerebral e agonizou durante vários dias, enquanto, ao seu redor, seus asseclas travavam uma disputa feroz pelo poder: Lavrenti Beria, o favorito ao posto, Nikita Kruschev, Malenkov, Molotov, Mikoyan, Bulganin. Entre alianças e rasteiras, divididos em ter a ambição e o medo, eles próprios se revelam contaminados pela crueldade e loucura do ditador agonizante, responsável por milhões de mortes – pela fome em sua maioria, mas também por meio da perseguição política: Stalin arrasou impiedosamente toda e qualquer oposição ao seu regime, incluindo a de colegas bolcheviques, por meio de execuções sumárias, cuja arbitrariedade era quando muito camuflada por julgamentos de fachada e confissões arrancadas por meio de tortura e espancamento. Em sua paranoia persecutória, Stalin não poupou sequer seus colaboradores mais próximos: parceiros de revolução, secretários pessoais, chefes da guarda pessoal e médicos particulares conheceram a prisão, a morte ou o exílio.
A trama começa com o diretor da Rádio do Povo, em Moscou, recebendo um telefonema de Stalin, que pede a gravação de um concerto de Mozart que acabara de ser transmitido ao vivo. Em pânico por não ter gravado o concerto, o maestro não aguenta a pressão e desmaia. Na calada da noite, um novo regente é praticamente sequestrado em sua casa e levado à força para a sede da rádio: a gravação é feita durante a madrugada, e o disco com o registro da apresentação forjada é enviado para o grande líder: se a farsa for descoberta, muitas cabeças estarão em risco. É ao ouvir esse disco que Stalin sofre o derrame que o levará à morte. Ele tinha recebido para jantar naquela noite quatro convidados, todos potenciais candidatos à sua sucessão: Malenkov, Bulganin, Kruschev e Beria. No dia seguinte, o ditador, que acordava pontualmente às 11 horas, não dava sinal de vida. Como ninguém estava autorizado a entrar em seus aposentos sem ordem expressa, longas horas se passaram até que o descobrissem caído no chão, de pijama, com olhos arregalados e incapaz de articular uma palavra. O álbum termina em meio à disputa feroz pelo poder que acabou resultando na execução de Beria e na ascensão de Kruschev ao poder. Mas este já é outro capítulo da História.
Em 2003, um grupo de historiadores russos e americanos anunciou que Stalin pode ter ingerido varfarina, um poderoso e insípido veneno de ratos que inibe a coagulação sanguínea e predispõe a vítima à hemorragia cerebral. Isso explicaria o fato de, segundo testemunhas, Stalin ter vomitado sangue em sua agonia. Mas, provavelmente, os fatos exatos envolvendo a morte do ditador jamais serão conhecidos.