Quase 100% das escolas públicas com os piores resultados na Prova Brasil estão nas regiões Norte e Nordeste. Esse foi mais um dos resultados a que chegaram os pesquisadores Gabriel Correa e Isabel Opice no estudo sobre a desigualdade das escolas públicas no Brasil. Neste último artigo da série (veja o primeiro e o segundo), você vai ver como as as diferenças geográficas, as características das escolas e os perfis dos diretores e professores podem influenciar no aprofundamento dessas disparidades.
Distribuição geográfica
A desigualdade na educação brasileira é evidente entre as regiões do país, segundo a pesquisa de Opice e Correa. Enquanto 98% das escolas com piores resultados estão no Norte e Nordeste do país, 86% das com melhores notas estão no Sul e Sudeste. Veja a distribuição das escolas do 1º decil (piores escolas) e do 10º decil (melhores escolas) nas regiões brasileiras.
O mapa abaixo deixa ainda mais evidente a diferença regional apontada na tabela acima. As cores dos municípios identificam o percentual de escolas públicas que estão em cada decil. Na cor vermelha estão os municípios que apresentam um número elevado de escolas entre as 10% com piores notas e na cor azul aquelas que possuem um alto número de escolas entre as 10% com melhores médias. Já a cor amarela identifica os municípios que possuem escolas em ambos os grupos. As cores ficam mais intensas conforme aumenta a proporção de escolas do município no grupo.
Outra diferença relevante entre as escolas do 1° e do 10° decil de notas é que 45% das escolas no grupo das instituições com piores notas estão nas zonas urbanas. “Esse valor sobe para 96% quando olhamos para as melhores”, ressaltam os autores. O que os dados nos mostram é que grande parte das escolas no 1° decil de notas estão em municípios de zona rural e localizadas nos estados do Norte e Nordeste do país. “São esses os locais que deveriam ser foco das políticas públicas que visam recuperar as instituições com nível mais crítico no Brasil”, lembram.
Infraestrutura: salas de aula e bibliotecas
Além das características socioeconômicas das melhores e piores escolas da rede pública brasileira e a distribuição geográfica, outros pontos relevantes para a comparação feita nesse artigo são a infraestrutura e o perfil dos professores e diretores dessas instituições. Esses tópicos são abordados nos itens a seguir, utilizando os mesmos microdados da Prova Brasil 2013.
Ao analisarem os dados, os pesquisadores perceberam que há diferença substancial na qualidade das salas de aula e das bibliotecas das escolas que compõem os grupos das piores e melhores escolas do país. Enquanto 77% das melhores escolas do 10º decil possuem bibliotecas consideradas “boas” ou “regulares”, esse percentual cai para 34% nas escolas do 1º decil. Além disso, 57% das escolas que estão no decil mais baixo da distribuição de notas sequer possuem biblioteca. “Isso ainda é um grande desafio para o país, que em 2010 aprovou a Lei 12.244, estabelecendo a existência, até 2020, de um acervo de pelo menos um livro por aluno em cada instituição de ensino, tanto das redes públicas como privadas”, lembram os autores.
No gráfico abaixo, as diferenças nas salas de aula e bibliotecas para escolas do 1º e 10º decis de notas.
Perfil dos professores e diretores
Outro requisito de comparação utilizado pelos autores foi o perfil dos professores e diretores que atuam nas melhores e piores escolas do ensino básico da rede pública brasileira. Os dados utilizados para a comparação foram obtidos a partir dos questionários da Prova Brasil. “Uma primeira observação interessante é que nas piores escolas, os professores e diretores são, em geral, mais jovens e inexperientes.
Enquanto no 1° decil 60% dos diretores têm no máximo 2 anos de experiência no cargo, sendo que 46% não completaram nem mesmo um ano, no 10° decil esse valor cai para 35%. “Essa diferença existe tanto para diretores como para professores”, ressaltam os estudiosos.
Outro ponto interessante revelado pelos autores é que nas piores escolas, 30% dos diretores sequer conhecem os resultados de sua escola na Prova Brasil anterior, enquanto essa parcela é de apenas 2% nas melhores escolas.
“Quando se analisa o nível de escolaridade desses profissionais, também se notam diferenças. Enquanto apenas 6% dos professores que lecionam nas escolas do 10º decil não possuem Ensino Superior, esse valor vai para 30% nas escolas do pior decil. Para diretores, a diferença também existe e impressiona, pois apenas 1% dos diretores das melhores escolas não tem Ensino Superior, comparado a 16% nas piores escolas”, detalham na pesquisa.
Os pesquisadores observaram ainda que há uma grande diferença em relação à forma como o diretor assumiu o cargo. Enquanto 79% dos diretores das piores escolas foram apenas indicados para o posto (sem processo seletivo ou eleição), no 10° decil esse percentual é de 38%.
Entender essas diferenças e suas possíveis causas é importante entre as estratégia para se atingir a meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE), que fala sobre o crescimento do Ideb. Entre as estratégias apontadas para se atingir a meta está “a diminuição das diferenças entre escolas com os menores índices e a média nacional, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo pela metade as diferenças entre os índices dos Estados, inclusive Distrito Federam, e dos municípios.”
“Ainda que as dimensões analisadas nesse estudo sejam limitadas, os resultados evidenciam que o diferencial de notas é um reflexo das realidades opostas que existem na rede pública de ensino. No entanto, para um melhor entendimento de políticas que aproximariam as médias de indicadores de aprendizagem, ajudando no cumprimento da meta, são necessárias análises mais profundas que apontem relações causais entre as variáveis e o desempenho escolar”, finalizam.