O alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, denunciou, nesta quinta-feira (15), o "esforço sistemático" do governo da Nicarágua em reprimir a dissidência, mencionando o número crescente de prisões arbitrárias, o fechamento de milhares de ONGs e a tentativa de "amordaçar" a mídia.
Em um relatório que foi
duramente criticado pela Nicarágua e seus aliados, Türk relatou ao Conselho de
Direitos Humanos das Nações Unidas que o país vive um "clima de
opressão" cada vez mais intenso.
Há, alertou, "um
esforço sistemático para sufocar opositores e dissidentes".
O governo do presidente
nicaraguense, Daniel Ortega, enfrenta pressão diplomática crescente pelo que os
Estados Unidos qualificam de deterioração dramática dos direitos humanos, com a
detenção de dezenas de opositores políticos, estudantes e jornalistas.
Türk advertiu que o número
de presos políticos está crescendo.
"O número de pessoas
presas arbitrariamente por expressar suas opiniões políticas ou por serem
vistas como críticas ao governo, aumentou de 195 em setembro para 225
hoje", declarou perante o Conselho.
"Isso inclui familiares
de opositores presos, supostamente para pressionar estes últimos a se
entregarem", acrescentou.
Segundo a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, mais de 100 mil pessoas se exilaram desde
os protestos de opositores de 2018, que o governo de Daniel Ortega considera
terem sido uma tentativa frustrada de golpe de Estado, promovida por
Washington, da qual os bispos foram cúmplices e desataram a perseguição
política.
- "Amordaçar" a
mídia -
O alto comissário de
direitos humanos da ONU denunciou o fechamento de mais de três mil ONGs
nacionais e internacionais no país, quase metade delas desde setembro.
E acusou o governo de
"amordaçar" os meios de comunicação com o fechamento de 26 veículos
de mídia nacionais e três estrangeiros.
"Defensores dos
direitos humanos, jornalistas, clérigos ou aqueles que são considerados
opositores políticos, são presos, perseguidos, intimidados", afirmou Türk.
Ele também criticou as
eleições municipais realizadas na Nicarágua no mês passado, que tiveram,
segundo ele, "traços de um exercício de autocracia".
Vários diplomatas presentes
na reunião desta quinta-feira, entre eles de países vizinhos, repercutiram a
preocupação de Türk, e o representante do Equador, Alejandro Dávalos, disse que
a situação é "motivo de profundo alarme".
A embaixadora dos Estados
Unidos, Michele Taylor, também expressou "grande preocupação",
instando "o regime a cessar seu ataque contra a oposição pacífica, a mídia
independente, o mundo acadêmico, os defensores dos direitos humanos, os jornalistas
e os atores religiosos".
Seu uso da palavra
"regime" provocou o protesto imediato do representante da Nicarágua
na sala.
A Procuradora-geral da
Nicarágua, Wendy Morales Urbina, que interveio por videoconferência, criticou,
por sua vez, a apresentação de Türk e a "posição manipuladora e
parcializada" contra seu país.
Vários países, entre eles
Rússia, Venezuela, Coreia do Norte e
Cuba, também saíram em defesa da Nicarágua.
AFP
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