sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

ONU denuncia 'esforço sistemático' para reprimir oposição na Nicarágua


O alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, denunciou, nesta quinta-feira (15), o "esforço sistemático" do governo da Nicarágua em reprimir a dissidência, mencionando o número crescente de prisões arbitrárias, o fechamento de milhares de ONGs e a tentativa de "amordaçar" a mídia.

Em um relatório que foi duramente criticado pela Nicarágua e seus aliados, Türk relatou ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que o país vive um "clima de opressão" cada vez mais intenso.

Há, alertou, "um esforço sistemático para sufocar opositores e dissidentes".

O governo do presidente nicaraguense, Daniel Ortega, enfrenta pressão diplomática crescente pelo que os Estados Unidos qualificam de deterioração dramática dos direitos humanos, com a detenção de dezenas de opositores políticos, estudantes e jornalistas.

Türk advertiu que o número de presos políticos está crescendo.

"O número de pessoas presas arbitrariamente por expressar suas opiniões políticas ou por serem vistas como críticas ao governo, aumentou de 195 em setembro para 225 hoje", declarou perante o Conselho.

"Isso inclui familiares de opositores presos, supostamente para pressionar estes últimos a se entregarem", acrescentou.

Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, mais de 100 mil pessoas se exilaram desde os protestos de opositores de 2018, que o governo de Daniel Ortega considera terem sido uma tentativa frustrada de golpe de Estado, promovida por Washington, da qual os bispos foram cúmplices e desataram a perseguição política.

- "Amordaçar" a mídia -

O alto comissário de direitos humanos da ONU denunciou o fechamento de mais de três mil ONGs nacionais e internacionais no país, quase metade delas desde setembro.

E acusou o governo de "amordaçar" os meios de comunicação com o fechamento de 26 veículos de mídia nacionais e três estrangeiros.

"Defensores dos direitos humanos, jornalistas, clérigos ou aqueles que são considerados opositores políticos, são presos, perseguidos, intimidados", afirmou Türk.

Ele também criticou as eleições municipais realizadas na Nicarágua no mês passado, que tiveram, segundo ele, "traços de um exercício de autocracia".

Vários diplomatas presentes na reunião desta quinta-feira, entre eles de países vizinhos, repercutiram a preocupação de Türk, e o representante do Equador, Alejandro Dávalos, disse que a situação é "motivo de profundo alarme".

A embaixadora dos Estados Unidos, Michele Taylor, também expressou "grande preocupação", instando "o regime a cessar seu ataque contra a oposição pacífica, a mídia independente, o mundo acadêmico, os defensores dos direitos humanos, os jornalistas e os atores religiosos".

Seu uso da palavra "regime" provocou o protesto imediato do representante da Nicarágua na sala.

A Procuradora-geral da Nicarágua, Wendy Morales Urbina, que interveio por videoconferência, criticou, por sua vez, a apresentação de Türk e a "posição manipuladora e parcializada" contra seu país.

Vários países, entre eles Rússia, Venezuela, Coreia do Norte e  Cuba, também saíram em defesa da Nicarágua.

AFP

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