Taraneh Alidoosti, atriz iraniana |
Celebridades e grupos de direitos humanos fizeram apelos neste domingo (18) ao Irã para libertar a atriz e ativista Taraneh Alidoosti, uma das mais reconhecidas do país, detida por apoiar os protestos que sacodem a República Islâmica há três meses.
Alidoosti, de 38 anos, foi detida no
sábado por expressar apoio nas redes sociais às manifestações, não usar o véu e
denunciar a execução de manifestantes.
Alidoosti foi detida "por ordem
da autoridade judicial" após "não fornecer documentação para algumas
de suas afirmações" sobre os protestos, informou o meio Mizan Online, a
agência de informação do Poder Judiciário.
O Irã vive uma onda de protestos
desde a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, após ser presa em
Teerã pela polícia da moralidade, que a acusou de violar o rígido código de
vestimenta para as mulheres da República Islâmica.
O regime iraniano, por sua vez, acusa
os Estados Unidos e outros "inimigos" de estarem por trás dos
protestos, que estão sendo reprimidos com violência. Desde então, centenas de
pessoas morreram, milhares foram detidas e dois homens foram executados.
Entre os detidos há diversas
personalidades iranianas, incluindo artistas como Taraneh Alidoosti.
A atriz tem grande projeção
internacional por seu trabalho com o aclamado diretor Asghar Farhadi. A
produção "O Apartamento", na qual atuou, foi premiada com o Oscar de
melhor filme estrangeiro em 2017.
Somayeh Mirshamsi, assistente de
direção em "O Apartamento", assegurou que Alidoosti havia telefonado
a seu pai para lhe dizer que estava reclusa na prisão de Evin, administrada
pelo Ministério de Inteligência em Teerã.
Durante o telefonema, pediu a seu pai
que lhe levasse medicamentos. Sua família está "preocupada" por sua
saúde, escreveu Mirshamsi no Twitter.
- 'O poder das mulheres' -
Alidoosti, um rosto conhecido do
cinema iraniano desde a sua adolescência, também atuou no filme de Saeed
Roustayi "Leila e Seus Irmãos", apresentado este ano no Festival de
Cannes.
Alguns dos coprotagonistas deste
filme se reuniram diante da prisão de Evin, informou o jornal iraniano Shargh.
Sua detenção também provocou reações
nas redes sociais. A atriz exiliada Golshifteh Farahani publicou uma foto sua
com Alidoosti no Instagram, chamando-a de "a corajosa atriz do Irã" e
exigindo sua libertação.
A foto foi compartilhada pela
ex-astro de futebol francês Eric Cantona, com a hashtag "#liberdade".
Por sua vez, o Centro pelos Direitos
Humanos do Irã (CHRI, na sigla em inglês), com sede em Nova York, lamentou que
"mulheres sejam abordadas e presas no Irã por se recusarem a utilizar o
hijab (véu) obrigatório, incluindo atrizes famosas como Taraneh
Alidoosti".
"O poder das mulheres aterroriza
os dirigentes da República Islâmica", acrescentou.
A Justiça iraniana informou no sábado
que "algumas figuras notáveis e celebridades", entre elas Alidoosti,
haviam sido interrogadas ou presas por "comentários sem fundamento sobre
os eventos recentes e a publicação de material provocativo em apoio aos
distúrbios nas ruas".
A última mensagem de Alidoosti nas
redes sociais foi publicada em 8 de dezembro, o mesmo dia em que Mohsen
Shekari, de 23 anos, foi a primeira pessoa executada por relação com os
protestos.
"Seu silêncio significa o apoio
à opressão e ao opressor", escreveu a atriz no Instagram.
Também circularam imagens dela
enquanto fazia compras por Teerã sem usar o véu. Alidoosti se comprometeu a não
sair do país e disse que estava disposta a "pagar qualquer preço para
defender" seus direitos.
Sua conta no Instagram, com mais de
oito milhões de seguidores, deixou de ser acessível neste domingo.
Segundo a ONG Iran Human Rights, com
sede na Noruega, pelo menos 469 pessoas morreram na repressão aos protestos, e
pelo menos 14.000 foram detidas, segundo a ONU.
AFP, Stuart Wiliams
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