Altura de angelim-vermelho gigante, é equivalente a de um prédio de 30 andares |
A árvore mais alta da Amazônia — um angelim-vermelho de aproximadamente 400 anos, 9,9 metros de circunferência e 88,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 30 andares — "corre perigo" por causa da ação ilegal de grileiros e garimpeiros, alertam ambientalistas.
A árvore, que foi descoberta em
setembro durante uma expedição apoiada pela ONG Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia (Imazon), faz parte de um conjunto de árvores gigantes
encontradas na Floresta Estadual (Flota) do Paru, na divisa dos Estados do
Amapá e do Pará.
Ela é maior, por exemplo, do que
alguns dos principais cartões postais do mundo, como a Grande Esfinge de Gizé
(20 metros), no Egito, o Cristo Redentor (38 metros), no Rio de Janeiro e a
Torre de Pisa (57 metros), na Itália. Por pouco não ultrapassa o Big Ben (96
metros), em Londres, na Inglaterra e a Estátua da Liberdade (93 metros), em
Nova York, nos EUA.
A Flota do Paru é a terceira maior
unidade de conservação de uso sustentável em floresta tropical do mundo. O
bioma tem 36 mil km², cerca de três vezes o tamanho do Catar, que sediou a Copa
do Mundo de 2022.
Ou seja, ali é permitida a exploração
sustentável de parte dos recursos naturais desde que aliada à conservação da
natureza.
No entanto, ambientalistas afirmam
que não é isso que vem ocorrendo. Segundo eles, a Flota do Paru, que pertence
ao maior bloco de áreas protegidas do mundo, sofre com a ação de grileiros e
garimpeiros — em novembro, foi a terceira unidade de conservação mais desmatada
de toda a Amazônia.
Dados baseados em imagens de satélite
do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon mostram que a floresta já
perdeu 46,5 km² de cobertura vegetal desde 2008. Já dados do Projeto de
Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES) do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), também baseados em imagens de
satélite, indicam um número maior em igual período: 74 km².
Bolsonaro ou Lula: em qual governo a
taxa de desmatamento na Amazônia foi maior?
Ambos apontam um pico de desmatamento
em 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), acusado de beneficiar
desmatadores e criticado por sua política ambiental em relação à Amazônia.
Desde 2019, o Pará é governado por Helder Barbalho (MDB), reeleito nas eleições
de outubro. Ele se manteve neutro nas eleições presidenciais daquele ano e
declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último
pleito.
Na última quinta-feira (15/12), a
Imazon e outras nove ONGs lançaram uma campanha online com a hashtag
#ProtejaAsArvoresGigantes, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para
a necessidade de o governo do Pará fiscalizar e monitorar a área.
Segundo Jakeline Pereira,
pesquisadora do Imazon e conselheira da Flota do Paru, as árvores gigantes
estão ameaçadas pela grilagem de terras e, sobretudo, pelo garimpo ilegal de
ouro.
"No limite sul da unidade de
conservação, está havendo uma mudança de ocupação do solo, com arrendamento de
terras para a agropecuária e retirada ilegal de madeira", diz ela à BBC
News Brasil.
"Mas são os garimpos ilegais de
ouro que estão mais próximos das árvores. Apesar de o desmatamento causados por
eles não ser tão grande, uma vez que abrem uma pequena clareira na floresta e
usam métodos artesanais, o impacto acaba sendo, pois se usa mercúrio e promove
a circulação de pessoas dentro da unidade de conservação. Um levantamento
estimou em 2 mil o número de garimpeiros na área em 2009", acrescenta.
Pereira diz que, para acessar o local
onde ficam as árvores gigantes, na última expedição de setembro, os
pesquisadores "passaram pelos garimpos".
"O local é uma região de difícil
acesso, com rios encachoeirados. É preciso andar muito tempo na floresta, então
o acesso é bem ruim", diz.
Segundo a especialista, essas árvores
gigantes não são comuns na região — o angelim-vermelho é "uma espécie
madeireira", que cresce normalmente "entre 25 e 30 metros",
explica.
Com 88,5 metros, o angelim-vermelho
gigante tornou-se a quarta árvore viva mais alta documentada pelo Guinness
World Records, o livro dos recordes. A maior do mundo é uma sequoia de 116
metros localizada no Parque Nacional de Redwood, no Estado da Califórnia, nos
Estados Unidos.
Segundo Pereira, "além da maior
árvore da Amazônia, a Flota do Paru tem várias espécies endêmicas, aquelas que
só existem em uma determinada região. É uma área importante para preservar a
biodiversidade local, conter as mudanças climáticas e tem enorme potencial para
ecoturismo e extrativismo vegetal, que pode gerar renda com a floresta em
pé".
"Portanto, não podemos perder
nosso patrimônio para esses infratores, precisamos de fiscalização e efetiva
implementação do plano de manejo para impedir a destruição", conclui.
De janeiro a novembro, 10.286 km² de
floresta na Amazônia foram derrubados, o equivalente a mais de 3 mil campos de
futebol por dia. É o pior acumulado dos últimos 15 anos, segundo dados do
Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon. Somente o Pará foi
responsável por desmatar 279 km² em novembro, quase a metade do que foi registrado
em toda Amazônia.
Em comunicado enviado à BBC News
Brasil, o governo do Pará, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e
da Biodiversidade (IDEFLOR-Bio) informa que "recebeu uma denúncia de
invasão de grileiros nas áreas da Unidade de Conservação (UC) da Floresta
Estadual do Paru (Flota Paru), que estão sob concessão florestal, na porção
sudeste da (UC), especificamente nas Unidades de Manejo Florestal (UMF) 1 e 2,
que somam 190 mil hectares e representam 5,3% da FLOTA (3,613 milhões de
hectares)".
"Desde o dia 08 de dezembro uma
equipe da Diretoria de Gestão de Floresta Pública do Ideflor-Bio e Secretaria
de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e Polícia Civil,
incluindo a Polícia Científica, estão na área sob concessão florestal averiguando
estas denúncias. Informamos também, que por meio da Diretoria de Gestão e
Monitoramento das Unidades de Conservação (DGMUC), o Ideflor tem avançado na
implementação das Unidades de Conservação, estabelecendo ferramentas
importantes de gestão como: a elaboração dos Planos de Manejo das (UCs),
utilizando metodologia participativa de todos os setores que representam a
sociedade civil organizada; garantia da participação direta como cogestores,
nos Conselhos Gestores, discutindo e trazendo soluções para todos os problemas
que envolvem as Unidades de Conservação", conclui a nota.
BBC News
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