Já que o trabalho remoto esvaziou ambientes de trabalho, empresas estão aprendendo a revitalizar seus espaços para valorizar a interação
O advento do trabalho remoto pode ter
sido a melhor coisa que já aconteceu com o escritório.
Até a pandemia de covid-19 abalar
nossa vida profissional, o escritório funcionava como um espaço de “faça tudo
para todos”, equilibrando estações de trabalho individuais com salas de
conferência para reuniões de equipe e áreas sociais para conversas. O resultado
foi que nada disso deu muito certo.
Acabamos com espaços abertos, onde o
som é transportado livremente – e com muitos funcionários usando fones de
ouvido para bloquear o ruído. Nunca havia salas de conferência suficientes,
então os funcionários acabavam indo para o escritório e fazendo reuniões pelo
Zoom. Era um espaço no qual ficava difícil ser eficiente, colaborativo e
criativo.
Felizmente, existe uma saída. Aceitar
certo grau de trabalho remoto elimina a necessidade de tantas mesas, liberando
um espaço que pode ser priorizado para o que os escritórios fazem melhor:
proporcionar aos colegas de trabalho uma oportunidade de socialização.
Será necessária uma mentalidade
diferente por parte da gerência, mas se os líderes conseguirem abraçar a ideia
de que o trabalho remoto é para ser produtivo e o presencial é para ser
cooperativo, os escritórios podem ficar muito diferentes e até superiores: mais
salas de reunião, mais áreas comuns, mais luz natural, mais plantas. Os
executivos podem não conseguir diminuir os longos deslocamentos que os
trabalhadores remotos querem tanto evitar, mas podem repensar o que seus
escritórios oferecem aos funcionários e, ao fazer isso, fazer com que esse
tempo na rua valha mais a pena.
O escritório do futuro será menor,
mas mais agradável, diz Diane Hoskins, co-CEO da empresa de design e
arquitetura Gensler, que já está vendo alguns clientes adotarem este tipo de
layout. Ela afirma que as empresas estão prestando mais atenção às
conveniências que realmente estimulem a interação social entre os colegas –
terraços com Wi-Fi, cafeterias, mesas de bilhar, áreas comuns com sofás, tetos
elevados e paredes cobertas com plantas. O escritório em si pode ser
transferido para uma parte da cidade que esteja mais próxima ao transporte
público ou de bares e restaurantes aos quais os funcionários vão depois do
expediente. Achar que uma copa com uma geladeira comunitária vai incentivar a
interação entre funcionários é um pensamento ultrapassado; o objetivo é fazer o
escritório parecer um lobby de hotel de luxo.
Para realmente conseguir que os
funcionários interajam uns com os outros, as empresas que oferecem comida e
bebida devem repensar sua forma de apresentação, diz Ben Waber, CEO da empresa
de análise de talentos Humanyze. Em vez da clássica garrafa térmica, ter uma
máquina de café espresso dá as pessoas uma chance de bater papo enquanto
esperam pelo café. Servir alimentos no estilo bufê encoraja os funcionários a
sentarem-se e ficarem no local para comer, ao contrário dos almoços
pré-embalados que os trabalhadores podem facilmente levar para suas mesas.
O escritório se tornará um lugar ao
qual os trabalhadores irão voluntariamente se ele oferecer algo que não tiverem
em casa: camaradagem.
Sim, o local de trabalho ainda
precisa de algumas áreas para foco. Mas esse espaço não deveria ser as fileiras
de cubículos; um modelo melhor para muitas empresas seria uma sala parecida com
uma biblioteca na qual as pessoas podem se sentar com seus laptops quando
precisam trabalhar em silêncio entre as reuniões.
Priorizar a interação social é o
motivo pelo qual a Salesforce (CRM) decidiu reduzir sua pegada em São Francisco
e fazer um arrendamento de longo prazo em um rancho de luxo no interior da
Califórnia; é mais provável que os funcionários formem vínculos significativos
em um espaço realmente propício à socialização. Foi pelo mesmo motivo que a
Harley Davidson anunciou planos de revitalizar sua sede de 46 mil metros
quadrados em Milwaukee, mesmo quando a empresa continua com o trabalho
presencial para fins específicos como desenvolvimento de produtos.
Empresas como essas finalmente
reconheceram que simplesmente colocar pessoas perto umas das outras e derrubar
paredes não fomenta a colaboração. Isso sempre foi “uma fantasia”, diz Jennifer
Kaufmann-Buhler, historiadora da Universidade Purdue e autora de Open Plan: A
Design History of the American Office. Sua pesquisa mostra que escritórios
abertos levam a menos interações entre colegas. As empresas perceberam que a
colaboração e a cultura de equipe são muito importantes para serem deixadas ao
acaso.
Essa é um motivo pelo qual a Zapier,
uma empresa de automação de fluxo de trabalho com uma força de trabalho
totalmente independente, investe em retiros trimestrais. O objetivo é
socializar durante almoços de equipe, caminhadas em grupo e jogos, diz Raj
Choudhury, professor da Harvard Business School que estudou a empresa.
Choudhury constatou que os funcionários que interagem nesses retiros são mais
propensos a ajudar uns aos outros posteriormente – efeito especialmente
pronunciado nas mulheres da equipe.
As empresas que estão investindo em
escritórios mais agradáveis estão esperando torná-los um retiro. Embora isso
possa parecer uma contradição – por que investir em um lugar ao qual as pessoas
vão com menos frequência? – é a viabilidade do trabalho remoto que libera o
escritório para se tornar principalmente um espaço de socialização.
É claro que é possível forçar demais
os trabalhadores a confraternizar. Há uma linha tênue entre promover conexões
que melhoram o moral e destruir a distância profissional. Uma amiga comentou
que depois que sua empresa anunciou um exercício de equipe em um parque
aquático, ela começou a pesquisar por “roupas de banho apropriadas para o
trabalho” – um horrível paradoxo. É melhor ficar com os sofás confortáveis e as
cafeteiras.
Esta coluna não reflete
necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus
proprietários.
Sarah Green Carmichael é editora da
Bloomberg Opinion. Anteriormente, era editora-gerente de ideias e comentários
na Barron’s e editora executiva na Harvard Business Review, na qual apresentava
o podcast “HBR IdeaCast”.
Bloomberg, Sarah Green Carmichael
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