As autoridades russas "transferiram e deportaram à
força" civis de zonas ocupadas da Ucrânia para a Rússia. Esta é a
conclusão de um novo relatório da Amnistia Internacional, que denuncia que
estes comportamentos podem constituir crimes de guerra ou até mesmo crimes
contra a humanidade.
Estas transferências foram feitas com recurso à
violência. A Amnistia Internacional fala mesmo em "tortura" e
"maus-tratos" e pedem que essas pessoas sejam libertadas.
O relatório intitulado 'Uma caravana prisional: a transferência
ilegal de civis na Ucrânia e os abusos durante a Filtragem' foi elaborado com
base em entrevistas feitas a 88 pessoas das regiões de Mariupol, Kharkiv,
Lugansk, Kherson e Zaporijia.
Agnes Callamard, secretária-geral da Amnistia
Internacional, falou com a Euronews sobre as principais conclusões a que a
organização chegou.
"Este relatório fala sobre tragédias familiares.
Aborda as separações entre as famílias, quer estejamos a falar de filhos que
são obrigados a afastar-se dos pais, quer estejamos a falar de irmãos
separados. O documento fala sobre mulheres que perdem os maridos. Foca a
transferência forçada, a deportação forçada de ucranianos para territórios
controlados pela Rússia, para a própria Rússia, u ma situação que, na nossa
opinião, na investigação feita pela Amnistia, equivale a um crime de guerra e a
um provável crime contra a humanidade", começou por explicar em entrevista
à Euronews.
Agnes Callamard deu depois um exemplo específico de um
menino de 11 anos que foi separado da mãe. Os dois nunca mais se voltaram a
ver.
"Deixem-me contar-vos a história de um rapaz de 11
anos, que saiu de uma zona perto de Mariupol e se viu num campo de 'Filtragem'.
Lá, foi separado da mãe. Ela foi para um quarto diferente. Ele nunca mais
voltou a vê-la. Foi levado para Donetsk, território ocupado pela Rússia. Até
hoje, ele não sabe o que aconteceu à mãe", recordou.
No relatório é ainda mencionado o facto de a Rússia ter
"acelerado o processo de atribuição de cidadania para que as crianças
ucranianas possam ser adotadas por famílias russas", o que, segundo esta
organização, "também constitui uma violação do direito
internacional".
A Amnistia Internacional apela ao Tribunal Internacional
para que conduza uma investigação sobre os factos apresentados.
Euronews
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